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Livro da semana: “O Segredo de Jeanne Baret”, de Glynis Ridley

Durante o século 18, a botânica embarcou em uma expedição francesa vestida de homem. Ao longo da viagem, catalogou mais de 6 mil espécimes de plantas, mas ficou esquecida na história.

Por Carolina Fioratti
27 out 2021, 17h29

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Jeanne Baret era uma aldeã pobre, filha de camponeses famintos. Tornou-se uma herbolária autodidata: formada pela tradição oral, conhecia as propriedades terapêuticas das plantas e preparava medicamentos a partir delas. Philibert Commerson, que viria a ser seu amante, estava na extremidade oposta da sociedade: de família abastada, era formado em Medicina e tinha reputação como naturalista na elite europeia – trocava cartas com o taxonomista sueco Lineu, criador dos nomes científicos em latim usados até hoje (Homo sapiens, Canis lupus etc.). 

No século 18, homens liam sobre plantas, mas não eram tão bons em identificá-las na natureza. Por conta disso, médicos, donos de farmácia e até barbeiros – que faziam pequenas cirurgias – dependiam de camponesas nos bastidores para coletar plantas e preparar remédios a partir delas. Foi assim que o casal se conheceu, trocando informações científicas. 

Em 1764, Jeanne e Commerson já viviam juntos. Dois anos depois, ele seria convidado como botânico em uma expedição do navegador Louis Antoine de Bougainville. Para não deixar a amada, convidou-a para embarcar como sua assistente. Não era qualquer volta no quarteirão: o rei Luís 15 incumbiu o militar de realizar a primeira circunavegação do globo em um navio francês, com astrônomos, naturalistas e cartógrafos a bordo. Era uma forma de reparar o orgulho da França, ferido após a derrota recente na Guerra dos Sete Anos, contra a Inglaterra.

Mulheres eram proibidas por lei de embarcar em navios franceses. Para se disfarçar, Jeanne amarrou uma faixa sobre os seios e pôs roupas largas, como a heroína Mulan no filme homônimo da Disney. Mas o que veio depois não foi um conto de fadas. Em 15 de novembro de 1766, o La Boudeuse deixou o porto de Nantes, seguido pelo Étoile, em 1º de fevereiro de 1767, do porto de Rochefort. Juntos, carregavam 330 marinheiros.

O resto dessa narrativa pode ser visto no livro O Segredo de Jeanne Baret, de Glynis Ridley. A autora biografou a vida da botânica a partir de documentos da época escritos por outros marinheiros. Na obra, a escritora britânica traz à tona momentos quase sempre censurados na história: a moça teve que enfrentar rituais de passagem nojentos, foi estuprada na viagem, engravidou, foi tratada como burro de carga pelo próprio amante, entre vários outros desafios.

Jeanne Baret foi também a primeira mulher a circum-navegar o globo, catalogou mais de 6 mil espécimes de plantas durante a expedição e se tornou a primeira mulher de que se tem notícia a ganhar dinheiro do Estado por um trabalho científico. Mesmo assim, morreu anônima. Não deixou um único registro escrito de suas aventuras, e não sabemos nada de sua aparência. Uma leitura essencial para conhecer a mulher por trás de grandes feitos atribuídos a pesquisadores e navegantes homens do passado.

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