Cientistas simulam percepção extracorporal. E, de quebra, transferência de mente
Por Fabio Marton Numa experiência realizada pelo Instituto Karolinska, da Suécia, 15 voluntários passaram pela ilusão de ter sua consciência transplantada para fora do corpo. Deitados em um tomógrafo cerebral, eles receberam máscaras de realidade virtual, conectadas a câmeras que davam a visão de outras pessoas na mesma sala, deitadas na mesma posição. Esses olhavam […]
Por Fabio Marton
Numa experiência realizada pelo Instituto Karolinska, da Suécia, 15 voluntários passaram pela ilusão de ter sua consciência transplantada para fora do corpo. Deitados em um tomógrafo cerebral, eles receberam máscaras de realidade virtual, conectadas a câmeras que davam a visão de outras pessoas na mesma sala, deitadas na mesma posição. Esses olhavam para o tomógrafo e o corpo do paciente original. Os cientistas então tocaram, visivelmente, o corpo das pessoas com a câmera, ao mesmo tempo em que faziam o mesmo, em segredo, com o de quem estava no tomógrafo.
O resultado foi que a pessoa no tomógrafo sentiu que sua consciência foi transplantada para o corpo de quem estava fora – no que os próprios cientistas chamaram de “ilusão extracorporal”. Não só isso, os voluntários também se sentiram ser – de novo, nas palavras dos cientistas –“teletransportados” entre diferentes corpos, rapidamente mudando sua percepção de que lugar ocupavam na sala. O tomógrafo revelou que as células responsáveis pela localização, principalmente no hipocampo – cuja descoberta levou ao Prêmio Nobel de Medicina do ano passado – eram excitadas cada vez que a pessoa “mudava” de corpo, atualizando sua posição.
Para dar uma ideia da força da ilusão, outra parte da experiência, revelada num vídeo, incluiu ameaçar as pessoas dentro e fora do tomógrafo com uma faca e um martelo. Os centros de medo do cérebro eram ativados quando quem estava fora – isto é, seu corpo “adotado” – era ameaçado, mas não quando isso acontecia com seu próprio corpo.
Ano passado, um experimento similar, mas sem o mesmo rigor, fez pessoas “trocarem de corpo” usando o aparelho de realidade virtual Oculus Rift. O mérito da experiência está em ajudar a esclarecer como o cérebro humano cria um mapa em 3D da realidade e localiza a si mesmo nele. “O sentido de ser um corpo localizado em um lugar do espaço é essencial para nossas interações com o mundo exterior e constituiu um aspecto fundamental da consciência própria do ser humano”, afirma Arvid Guterstam, o principal autor do estudo. “Nossos resultados são importantes porque eles representam a primeira caracterização das áreas cerebrais envolvidas em modelar a experiência perceptual do eu corporal no espaço.”
Fãs de esoterismo costumam falar em “projeção astral”, a experiência de se estar fora do corpo. Isso é geralmente relatado por pessoas inconscientes, sob anestesia ou em outras situações traumáticas. O experimento oferece uma explicação científica para ao menos parte desse fenômeno. Não, obviamente, para um espírito imaterial saindo para comprar cigarros, mas como o cérebro pode acreditar firmemente que o “eu” está lá fora, em algum lugar.