PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana
Imagem Blog

Supernovas

Por redação Super Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Este blog não é mais atualizado. Mas fique à vontade para ler o conteúdo por aqui!

Trigo “fênix” ressuscita após o inverno — e dá sementes por anos

Cruza artificial entre o trigo doméstico e o selvagem não precisa ser plantada de novo todo ano – o que evita a erosão do solo e o prejuízo dos agricultores

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 4 set 2024, 15h18 - Publicado em 28 mar 2017, 19h35

Formado em ciências ambientais e fã de confeitaria, Colin Curwen-McAdams trabalha em um laboratório de pães na Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Lá o objetivo é criar, sem engenharia genética, grãos e cereais perfeitos para produzir pães perfeitos — a qualidade atrai de empresas do setor alimentício e ajuda a agricultura familiar a sair na frente na corrida contra o agronegócio. “A agricultura da costa noroeste [dos EUA] é bem diversa, mas os agricultores têm dificuldade de sobreviver com os preços impostos pelo mercado de commodities“, me contou o pesquisador. “Nosso objetivo é aumentar o valor agronômico, ecológico, nutricional e econômico das plantações. Nós fazemos testes de qualidade e trabalhamos com moleiros, chefs, confeiteiros para desenvolver os grãos.”

Em outras palavras, Curwen-McAdams combate quantidade com qualidade – e come um bocado de pão quentinho no processo. Sua última invenção é o “salish blue”, uma cruza entre espécies de trigo domésticas e selvagens que se regenera sozinha após a colheita – uma capacidade tão útil que até a União Soviética alegou, sem provas, ter alcançado na década de 1930.

O problema é o seguinte: o trigo normal, que começou sua carreira de planta doméstica no território do atual Iraque há cerca de 10 mil anos, morre todo ano com a chegada do inverno. Plantá-lo de novo, sempre no mesmo pedacinho de chão, acaba com o solo e dá prejuízo. Algumas espécies de trigo selvagem, por outro lado, dão novas flores e brotos constantemente – que ficam em suspensão durante o inverno, esperando o frio passar. O trigo “highlander” do pesquisador de Oregon, que leva um pouquinho de cada planta, mantém o melhor dos dois mundos: tem as sementes generosas e o sabor do trigo doméstico, mas fica firme e forte para a colheita na temporada seguinte. É a verdadeira volta dos que não foram.

NOVAS | O laboratório de pães que criou o trigo ‘imortal’
A volta dos que não foram (Colin Curwen-McAdams | The Bread Lab). (Colin Curwen-McAdams | Universidade de Washington/Reprodução)

Outra característica curiosa é a que dá ao salish blue seu nome: suas sementes são realmente azuladas, o que dá um toque especial no sabor das receitas que são feitas com ele e ajuda a diferenciá-lo do trigo comum produzido em grandes propriedades. Perguntei a Curwen-McAdams se ele já tinha encarado um pãozinho de trigo imortal no café da manhã. Mas ele estava um passo além. “O salish blue não é tão bom para fazer pães, mas eu já fiz panquecas e muffins com ele, e foi um sucesso.” Ele também deu detalhes de seus dias de sommelier de grãos no laboratório de pães. “Jeff Yakellow [da fábrica de farinha King Arthur] fez um croissant 100% integral com grãos locais que é uma das melhores coisas que eu já comi. Também fizemos testes com pães de massa lêveda feitos cada um com uma variedade de trigo diferente, e é incrível sentir as diferenças no sabor.”

Continua após a publicidade

Essa inovação azul, como outras tantas plantas criadas no laboratório-padaria, já é segura e pode ser consumida por qualquer um. Mas mesmo com uma lista de fábricas de farinha interessadas, gerar sementes suficientes para a produção em larga escala pode demorar um pouco. “Suponha que eu tenha 100 g de sementes de uma linhagem que já pode ser lançada comercialmente”, explica o pesquisador. “Quando eu plantar esses 100 g, conseguirei alguns quilos, que então eu planto de novo para aumentar o número novamente.” Como até 100 kg de grãos podem ser plantados em apenas um hectare (área de um quadrado com 100 metros de lado), poderão se passar anos até que a invenção chegue às mãos dos agricultores. Outro passo importante, agora que a receita do trigo fênix foi estabelecida, é tirá-lo das condições controladas da estufa e colocá-lo para encarar a vida dura do campo aberto.

É bom lembrar que o salish blue não é transgênico – ou seja, seu DNA não foi misturado em laboratório com genes úteis de outras plantas para alcançar um resultado específico. Ele é resultado de cruzamentos entre variedades de plantas naturalmente compatíveis, e seus descendentes são férteis. O pesquisador norte-americano sabe que confusões como essa são comuns na opinião pública, mas não se importa com a resistência. “Sempre tem alguém que faz objeções, mas tudo bem. Nosso objetivo é dar opções aos fazendeiros. Se usar esse trigo for bom para eles e alguém se interessar em fazer comida com ele, então ele teve um propósito”.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.