O imortal Sherlock Holmes ganhou em 2010 uma de suas versões mais marcantes com a série Sherlock, do canal inglês BBC. Só que, mesmo com a incrível representação de Benedict Cumberbatch na série, ainda assim Arthur Conan Doyle ficaria com receio de dizer que o detetive mais famoso do mundo está 100% bem representado. Confira cinco grandes diferenças entre o Sherlock da série e o Sherlock dos livros.
1. Nos livros, ele cria abelhas
Nos livros, Sherlock tem como passatempo, além de tocar violino, a apicultura, ou seja, a criação de abelhas. Tanto é que, em seu currículo no livro Um Estudo em Vermelho, o hábito é citado antes mesmo da prática de esgrima. Além disso, nas aventuras que se passam na velhice de Holmes, é dito que, após ele e Watson se aposentarem, o detetive foi para o interior da Inglaterra desfrutar de seu hobby de criação de abelhas.
2. Nos livros, ele não é tão arrogante
Na série, uma das principais características de Sherlock é a arrogância. Já nos livros, essa característica é mostrada de maneira mais sutil – é bem raro que Holmes demonstre sua incrível capacidade de dedução como forma de “se mostrar aos outros”. Além disso, seu tom é muito mais de professor do que de uma pessoa prepotente, já que ele está mais concentrado em resolver os casos.
Normalmente, Sherlock costuma se exibir mais no começo dos contos, fazendo alguma observação perspicaz – deduzindo onde Watson arranjou um relógio novo, por exemplo. Mas depois o foco muda para o desenvolvimento da história e dos conflitos. No final, quando ele resolve o caso, nem sempre é em um tom de superioridade.
3. Nos livros, a dedução é fruto de estudo, e não um dom
O Sherlock do seriado é quase um super-herói, com uma mente que trabalha mais rápido que as outras, um olhar que capta o que outros não percebem e um poder dedutivo que ultrapassa o de qualquer agente da polícia. Tudo isso sendo que Sherlock nem é muito velho (quando o seriado começou, Benedict Cumberbatch ainda não tinha nem 35 anos).
Nos livros, as capacidades do detetive têm explicação mais modesta. A dedução e o poder de análise não são tratados como algo genético, mas sim como algo que foi adquirido ao longo do tempo e com muito esforço. Na obra O Signo dos Quatro, Sherlock explica que “Como todas as outas artes, a Ciência de Dedução e a Análise é uma que só pode ser adquirida através de um longo e paciente estudo. No entanto, a vida não é suficientemente longa para permitir a qualquer mortal alcançar a mais elevada perfeição possível”.
4. Nos livros, ele é um mestre dos disfarces
Um recurso pouquíssimo utilizado na série é a grande capacidade de Sherlock Holmes com disfarces. Nos livros, é dito que Sherlock era tão bom em simular maneirismos que poderia ser ator. Ele se disfarça de marinheiro, clérigo, bêbado, viciado em ópio, encanador, operário de fábrica, colecionador de livros e até de velhinha, entre outros.
Esse recurso tão caprichosamente cuidado pelo detetive ganhou até uma análise no livro Não Há Dois Iguais – Natureza Humana e Individualidade, da autora Judith Rich Harris. Nele, ela afirma que Sherlock não se disfarçava de uma pessoa específica, mas sim de um tipo especifico de pessoa ou estereótipo – como na obra O Signo Dos Quatro, em que o detetive engana Watson com um disfarce que visava diretamente à categoria social “homem idoso”.
5. Nos livros, ele é um detetive mais sério
É bem lógico que, ao adaptar obras literárias para filmes e para a TV, são feitas mudanças tanto para que a história se adeque ao formato quanto para que o tom fique mais agradável para o público. Nesse sentido, o Sherlock da TV se afasta bastante do original: ele é esquisito, antissocial, muitas vezes grosseiro, muitas vezes insensível, etc.
Nos livros, toda essa excentricidade não existe. Holmes é retratado como uma pessoa à frente de seu tempo e que tem suas manias, mas ele nunca fica tão estranho. Além disso, mais do que querer um caso que o desafie, Holmes, nos livros, deseja ajudar seus clientes. Por isso, acaba sendo uma figura mais tradicional e séria do que a versão de Cumberbatch, que é cômica.
Essa diferença é compreensível, até porque Sherlock Holmes foi criado em 1887, quando Arthur Conan Doyle usava suas horas de ócio em seu consultório de oftalmologia, à espera de clientes que não vinham.