“Então, o que é que vai ser, hein?”
Tão perturbador quanto sua versão cinematográfica, dirigida pelo mestre Stanley Kubrick e lançada em 1971, o livro de Anthony Burgess, Laranja Mecânica (editora Aleph, 224 pgs., R$ 36), gira em torno e é contado sob a perspectiva de Alex, jovem de QI alto cujos gostos variam da violência à música clássica, e que lidera uma gangue de “drugues” (amigos, irmãos).
Vivendo com seus pais operários em um conjunto residencial construído pelo governo, Alex é bastante vigiado por ambos, devido a problemas disciplinares causados no passado, mas não tem dificuldades para tapeá-los. Alegando dores de cabeça para faltar à escola durante o dia e sob o pretexto de ir trabalhar durante a noite, Alex e seus druguies promovem atos de vandalismo, assaltos e estupros, agredindo indiscriminadamente qualquer tipo de pessoa que os incomoda. Ao final, roubam todo o dinheiro de suas vítimas, podendo assim sustentar sua vida “ultraviolenta”.
Tendo sua autoridade questionada pelo grupo em uma das costumeiras noites de arruaça, Alex se excede e mata uma de suas vítimas, sendo em seguida traído por seus druguies e capturado pelo polícia. Condenado a catorze anos, Alex passará dois anos na prisão até que uma estranha técnica que promete a reabilitação rápida dos prisioneiros à sociedade entra em seu caminho…
Descrevendo uma das mais famosas distopias da história e narrado quase que em sua totalidade em Nadsat (linguajar com gírias formadas a partir do inglês, russo e dialetos ciganos), Laranja Mecânica traz, junto a sua dose de violência, uma questão: até onde é válido suprimir os direitos de um ser humano em prol do bem-estar e da segurança da sociedade?
Eleito pela revista Time um dos cem melhores romances em língua inglesa do século 20, o livro representa de forma magistral uma sociedade decadente, governada por um partido que beira o autoritarismo e cujos valores morais e éticos se distorcem de forma surpreendente em relação ao que conhecemos hoje. Definitivamente, vale a leitura.
#Ficaadica: Burgess criou a língua Nadsat para causar estranhamento nos leitores, tanto que a versão inglesa não tem um glossário. Na versão brasileira, há o glossário, mas, a fim de entrar mais profundamente no espírito do livro, recomendo que o leiam sem consultá-lo.