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TdF Entrevista: Daniel Ribeiro, diretor do filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho

Por turma-do-fundao
Atualizado em 3 set 2024, 10h21 - Publicado em 10 abr 2014, 14h43

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Daniel Ribeiro entre os atores Fabio Audi (esquerda) e Guilherme Lobo (direita)

Hoje, 10 de abril, estreia o aguardado filme Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, um dos mais esperados de 2014. Trata-se de uma nova versão da história do curta Eu Não Quero Voltar Sozinho, de 2010, que tinha os mesmos personagens e a mesma temática: o modo como um garoto cego lida com o colégio e se apaixona por um novo colega de sala.

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Eu Não Quero Voltar Sozinho causou furor na internet ao ser postado no YouTube e faturou dezenas de prêmios no Brasil e vários internacionais, como o Prêmio do Público de Melhor Curta Metragem no Torino GLBT Film Festival e o Prêmio de Melhor Curta Metragem no Monterrey International Film Festival.

Ambos os filmes são dirigidos, roteirizados e produzidos por Daniel Ribeiro, cineasta paulista que estreou com o também premiado curta Café com Leite, de 2007. Bati um papo com Daniel sobre o filme e o trabalho de diretor de cinema.

MUNDO ESTRANHO: O final do curta-metragem “Eu Não Quero Voltar Sozinho” deixa o gancho para uma sequência. A intenção do filme é ser essa continuação ou recriar a história?
Daniel Ribeiro: Ele vai recriar tudo, é como um reboot. A gente começa do zero e o que aconteceu no curta não acontece no filme. Ou melhor, acontece de forma diferente. O curta já está feito. Se eu pegasse o que eu tinha lá e refilmasse, eu podia estragar a essência dele. Então eu voltei tudo e deixei a essência. Todos os elementos estão no longa: o moletom, o beijo… Não posso falar muito, mas está lá também! E tem inclusive uma questão de roteiro. O curta foi desenvolvido de um jeito muito sutil, quase não tem conflitos. Se eu fosse esticar ele pra fazer um filme, ia ser chato. Tudo exigiu uma dose a mais de criatividade pra manter o que existia agora em um outro contexto, com mais coisas acontecendo. Tem a família superprotetora do Leo, os colegas de escola que fazem bullying… São novos elementos entrando em cena. A essência está lá. Mas mesmo assim, o longa não deixa de dar uma resposta pro curta.

ME: Até então, você só tinha trabalhado com curtas. E o Eu Não Quero…, de 15 minutos, passou para um longa de 90. Do ponto de vista técnico, como foram, pra você, as diferenças entre as gravações de um e do outro?
Daniel: Bom, depende do ângulo que a gente olha. Tem várias coisas que mudam, algumas para mais fácil, outras para mais difícil. Em questão de grana, é mais difícil, porque demora mais tempo para captar o dinheiro e dá mais trabalho, não é tão simples. E, ao mesmo tempo, eu tive mais tempo de filmagem e também mais tempo pra contar a história e desenvolver, sem tanta preocupação com o tempo. O filme podia ter tanto 1h50 quanto 1h30. E essa liberdade foi melhor.

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Hoje Eu Quero Voltar Sozinho está entre os filmes mais esperados de 2014. O público, em geral, parece estar aceitando mais esses assuntos do que em outros tempos. Na sua opinião, o que causa essa recepção maior?
Daniel: Os personagens gays estão na televisão há muito tempo já. Começaram a surgir desde os anos 90, de pouquinho em pouquinho, e hoje em dia dificilmente uma novela não tem um personagem gay. Então eu acho que isso gerou uma mudança de pensamento. Antes, eu acho que as pessoas viam um homossexual como alguém que estava muito distante do universo delas. E aí, de repente, as novelas começaram a retratar essa realidade e encorajarem a sociedade a ter menos medo de se declarar quem é e assumir suas relações. Isso criou uma visibilidade maior. O audiovisual ajudou muito a mostrar que é normal e as pessoas estão mais livres pra não ficarem se escondendo, e os outros a não terem esse tipo de preconceito.

ME: Ser cineasta era seu sonho desde o começo?
Daniel: Eu queria trabalhar com audiovisual, no geral. Podia ser televisão ou cinema, na verdade eu não tinha muito essa distinção. Eu pensava mais em televisão porque eu gostava da questão da comunicação, de poder falar com muita gente, isso me interessava mais. Depois eu fui fazer a faculdade de audiovisual, que não abrangia só cinema, então eu pude estudar tudo e estar envolvido nesse universo. Mas cinema acabou sendo mais fácil pra mim do que entrar pra televisão no fim das contas. Um plano B? Eu gostaria de ser jornalista, talvez. Alguma coisa que tenha a ver com comunicação.

ME: Qual filme, se estiver passando na TV, você tem que parar pra assistir?
Daniel: Difícil. Eu gosto muito do Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, esse é um dos meus favoritos!

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ME: Existe algum livro ou autor que chame sua atenção?
Daniel: Machado de Assis. Pra mim, ele é meio óbvio e clichê às vezes, mas é maravilhoso! O que ele dizia é muito atual até hoje.

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ME: Quando você decidiu que queria usar personagens homossexuais nas suas criações e por quê?
Daniel: Foi uma coisa que sempre me interessou e que eu sempre quis fazer. Tem um pouco a ver com quando eu estava terminando a faculdade. Eu tinha que desenvolver um tema pro meu TCC e então eu decidi falar dos personagens homossexuais dentro do cinema brasileiro. Eu fiz um estudo dos filmes com esses personagens e sobre como eram retratados. Então a escolha foi um desdobramento desse meu TCC, e também das minhas atividades na universidade com alguns curtas que eu criava.

ME: Não só o Brasil, mas o exterior também tem fãs ansiosos. Nos EUA, o filme recebeu o título de The Way He Looks. Existe a intenção de exibir em outros países também?
DanielA gente tem um agente de vendas internacional que vai vender o filme para os outros países. Na verdade, a gente não controla essa distribuição, só no Brasil. Em Berlim, tem um mercado muito grande, onde os distribuidores assistem e compram os filmes pra distribuir nos seus países, então foi muito bom estrear lá no Festival em fevereiro. Os EUA também ainda não têm essa distribuição. O nome em inglês é o que a gente deu pra participar do Festival de Berlim, porque pedem o título nessa língua, e é esse que a gente está usando internacionalmente.

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ME: Muitos estão com grandes expectativas. O que podemos esperar do filme? Vai ter comédia, intrigas, beijos?
Daniel: O filme está equilibrado. Tem mais conflitos, não são só flores, mas não tem nada pesado. Vai ter partes engraçadas, tem os momentos mais emocionantes, de chorar… Teve gente que já assistiu e chorou! Então, é possível. A alma do curta está lá! Tem muita trilha no longa. Não tem música original. Tem música brasileira, internacional, clássica, pop… Sobre o beijo, ele também está lá, mas de um jeito diferente.

ME: Alguma cena que você gostou acabou sendo cortada na edição final?
Daniel: Muitas. Foi pelo ritmo do filme. Tem coisas que funcionam no roteiro e que, na edição, a gente fala “Não tá funcionando. Isso aqui estraga essa cena, estraga esse momento” ou a gente nota que fica devagar, estraga o ritmo. Mas vamos acabar disponibilizando esse material mais tarde.

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ME: Você pretende investir mais nos personagens homossexuais?
Daniel: Bom, eu gosto dos personagens gays, então eu acho que isso vai estar sempre presente nos meus filmes, não importa do que eu esteja falando. Pretendo incluir nos meus próximos projetos, como um agora que aborda uma família que mora na Europa. Mãe, pai e filho adolescente. E a história não tem nada a ver com homossexualidade, mas eu queria que o filho fosse gay e tivesse um namorado. É uma coisa que não vai influenciar o filme. Se poderia ser um menino com uma namorada, por que não retratar esse menino nesse outro tipo de relação também?

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ME: Com quais outros gêneros você gostaria de se envolver?
Daniel: Não é uma coisa em que eu pense muito, “Ah, eu quero fazer suspense, um romance daqui a um tempo”, mas, de repente, se aparecer a ideia, aí vai ser um novo desafio! Comédia deve ser divertido de trabalhar, mas mais difícil também.

ME: Como você descreve o amor dos protagonistas do Hoje Eu Quero…? É uma paixonite ou tem alguma coisa intensa surgindo ali?
Daniel: Não posso te contar, essa é a história do filme! É parecido com o curta. O Leo se sentindo apaixonado e os dois tentando entender se um gosta do outro ou não. No longa, tem o mundo inteiro pressionando o Leo de todos os lados! Não só nessa questão do amor, mas a mãe pressiona, a Giovana também pela amizade e tem ele mesmo se descobrindo.

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ME: Vamos supor que o filme alcance uma boa recepção do público e da crítica. Já pensou na possibilidade de uma sequência?
Daniel: Dá muito trabalho fazer um filme e agora tem novas coisas que eu quero fazer. Eu estou com esses personagens já vai fazer cinco anos, é muito tempo dedicado a eles. Vou criar outros personagens e, quem sabe, eu volte com eles mais pra frente, mais velhos. Fazer esse longa já deu um medo! Eu perguntei “Será que é isso que eu quero?”, porque um monte de gente já acompanhou o curta, gostou da história e eu ia mexer nisso. Eu sei que algumas pessoas esperam muita coisa para o longa e, se verem o filme muito apegados a isso, podem se decepcionar. O que eu queria dizer pra todo mundo é “Gente, tentem esquecer um pouco o que foi o curta e embarquem no longa como se estivessem conhecendo os personagens pela primeira vez!”.

Confira as salas de exibição de Hoje Eu Quero Voltar Sozinho em todo o Brasil. Acompanhe Daniel Ribeiro no Twitter, no Facebook e no YouTube.

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