Alô, leitores curiosos que acompanham a TdF: acho que vocês vão adorar o post de hoje! Fiz uma entrevista com o autor da série de livros O Guia dos Curiosos. Marcelo Duarte é escritor e jornalista e já trabalhou em rádio, TV, revistas e jornais. Hoje, apresenta programas na ESPN Brasil e na Rádio Bandeirantes, além de escrever para o seu blog, o Blog do Curioso. Confira a entrevista:
Mundo Estranho: Quando você decidiu começar a escrever?
Marcelo Duarte: Eu sempre tive muita vontade de escrever um livro, desde que eu comecei a faculdade de Jornalismo. Mas eu não sabia direito sobre o que poderia ser. Aí, um belo dia, já formado e trabalhando há bastante tempo em revista, eu fui para a casa de uma tia no interior de São Paulo, na cidade de Olímpia, e vi lá na estante dela um almanaque antigo, chamado O Almanaque do Curioso. Comecei a folhear aquilo, fiquei o final de semana inteiro mergulhado naqueles livros, pedi para ela emprestados e decidi que eu queria fazer um almanaque daquele tipo, só que um pouco mais atual. E aí eu comecei a fazer o Guia dos Curiosos. Eu tinha 30 anos e o livro saiu às vésperas de eu completar 31. No começo, quando eu ofereci o projeto para a Cia. Das Letras, eles ficaram meio “ah, será? Não sei…”, mas acabaram bancando a ideia e deu muito certo. Hoje, é uma coleção que já tem oito volumes.
ME: O Guia dos Curiosos tem todo tipo de assunto. De onde você tirou todas essas perguntas e como achou todas as respostas?
MD: Na verdade, é um exercício que eu faço comigo mesmo quando eu começo a fazer um livro, o de listar coisas que eu acho que são importantes de saber, e outras que seriam engraçadas de saber. São coisas que eu gosto, que eu quero pesquisar, assuntos que eu acho que podem ser interessantes. Hoje, a gente tem a internet, que é uma grande mão na roda não só para encontrar informações, mas para encontrar especialistas, gente que estude aquele assunto pra ajudar com as informações. O primeiro grande trabalho é esse, listar tudo o que eu gostaria de pesquisar pro livro, e depois encontrar as pessoas que têm as respostas. Quando a gente começa uma pesquisa, a gente nunca sabe aonde vai, né? É como navegar na internet… você começa uma pesquisa com um rumo, mas vai se desviando várias vezes. E aí é desviando e voltando que se faz o livro com uma quantidade interessante de informações, que são úteis e inúteis. Desde o primeiro livro, a receita do Guia dos Curiosos foi misturar as duas coisas.
ME: E teve alguma resposta que te surpreendeu mais?
MD: Ah, tem muita coisa legal. E eu acho que o que vale destacar é que, nessas de descobrir pessoas legais, essas pessoas acabam virando amigas e elas vão descobrir coisas que te surpreenderão. Hoje, eu tenho uma grande agenda de especialistas dos mais diferentes assuntos. Então, se eu tenho alguma dúvida, eu consigo ligar para alguém para tirar essa dúvida, para me ajudar em uma pesquisa. Surpresas, houve várias. Eu já encontrei um livro da Disney que tinha lá a informação do número de pintas pretas que os desenhistas tinham pintado no filme do 101 Dálmatas, e aquilo eu achei um dos maiores absurdos, que alguém tivesse aquela informação, mas vibrei muito de saber que alguém tinha feito esse tipo de conta. Aí eu tentei dar uma contribuição pra esse negócio de inutilidade, pegando todos os filmes do Arnold Schwarzenegger, para contar quantas pessoas ele tinha matado por filme. Eu falei: “Ah, vamos fazer uma coisa absurda assim também” e acho que isso dá um bom humor para o livro, uma pegada bem humorada.
ME: Teve alguma curiosidade que foi especialmente difícil de pesquisar? Ou alguma que você ainda não descobriu?
MD: Teve uma muito, muito complicada, que foi saber o peso de uma mosca! Quando eu estava fazendo O Guia dos Curiosos – Esporte, eu estava falando de boxe, e uma das categorias do boxe é o peso-mosca. Eu falei: “Ah, que divertido. Vou colocar lá quanto pesa uma mosca” e achei que fosse ser uma coisa facílima. Procurei com especialistas de insetos da USP, passei por vários professores e ninguém sabia me responder essa pergunta. Não publiquei no livro. E depois de muito tempo, falando em entrevistas sobre o peso da mosca e tal, um pessoal de Piracicaba me escreveu com a resposta, dizendo que haviam feito essa pesquisa e que era bem pouquinho, acho que era um grama, alguma coisa assim. E aí tem uma que eu não consegui descobrir até hoje: para fazer O Guia dos Curiosos – Brasil, eu cito lá que o ator que fez o papel do Magro, da dupla o Gordo e o Magro, lutou na Segunda Guerra, e ele estava lutando meio que ao lado dos brasileiros. Eu falei: “Ah, vou fazer uma brincadeirinha aqui e colocar qual era o peso do Magro, né?”, e aí eu fui atrás dessa informação, e é muito engraçado porque as pessoas sempre publicam o peso do Gordo, né? Então, eu achei em vários lugares o peso do Oliver Hardy, o Gordo, mas do Stan Laurel, que era o Magro, não. Ninguém publica o peso de gente magra.
ME: Você era uma criança curiosa? Daquelas que perguntam o porquê de qualquer coisa?
MD: Sim! Eu perguntava muito “por quê?” e era um leitor meio compulsivo desde criança. Meus pais contam que, depois que aprendi, eu pegava tudo pra ler, até bula de remédio. Sempre fui meio rato de biblioteca na escola e perguntava muito. Eu fazia mais o gênero de perguntador e estudioso, e o gênero xereta quem fazia era meu irmão do meio, que dissecava animal, abria relógio pra tirar as peças…
ME: Teve alguma coisa que você descobriu escrevendo e que mudou algo na sua vida?
MD: Ah, eu acho que o próprio Guia dos Curiosos mudou a minha vida. Foi um livro que me lançou muitos desafios, como fazer televisão e rádio, escrever outros livros, criar uma editora voltada para esse mercado, etc. Então, o livro em si, inteiro, mudou a minha vida. Tem gente que me identifica na rua e não sabe o meu nome, mas me chama de curioso. O livro marcou muito por causa disso.
Confira a segunda parte da entrevista amanhã (10/10).