Maurício Horta
Faz todo sentido que um irmão goste do outro pelo menos mais do que de um amiguinho ou de um desconhecido qualquer. Afinal, eles compartilham metade dos genes – e é de seu interesse evolutivo que quem compartilhe genes seus também receba recursos e proteção. Só que há um detalhe. Enquanto irmãos compartilham 50% de genes, um indivíduo compartilha consigo 100% de genes. Ou seja, ele quer que os irmãos recebam parte dos recursos da mãe, mas não na mesma quantidade. Ele vai querer muito mais para si. Mas esse egoísmo muda conforme a diferença de idade entre os irmãos. Digamos que uma mãe ainda está amamentando um filho quando dá à luz outro – e, quando falamos em amamentar, isso vale não só para o leite materno mas também para o resto de recursos e atenção que a mãe dedica ao filho. Um irmão um pouco mais velho não vai querer ser desmamado simplesmente porque é mais cômodo e seguro receber alimento direto da mãe do que correr atrás de seu próprio alimento. Já se ele for bem mais velho – velho o suficiente para encontrar alimentos por conta própria -, será mais proveitoso para ele deixar a mãe criar os irmãos e as irmãs em paz, garantindo que seus genes sejam levados adiante. No final das contas, irmãos têm interesse na sobrevivência mútua – ainda que sejam os maiores rivais que conhecerão durante toda sua infância.