A cara de “não” é igual no mundo todo
Um estudo feito por um programa de computador diz que nossa expressão facial negativa é comum a todas as línguas - e até mesmo à linguagem de sinais.
Sobrancelhas franzidas, lábios pressionados e queixo enrugado: todo mundo conhece a cara de “não”. Todo mundo mesmo: um estudo da universidade de Ohio mostrou, pela primeira vez, que esta expressão é a mesma para falantes de inglês, espanhol, mandarim e até para pessoas que se comunicam por linguagem de sinais.
Para fazer a análise, os cientistas usaram um programa de computador capaz de reconhecer 21 reações faciais diferentes – e suas misturas – através de fotos tiradas por uma câmera digital. Se existisse uma cara de “não”, pensavam os pesquisadores, ela seria uma combinação dos sentimentos que todos temos quando discordamos de algo e que já estavam no banco de dados do programa: raiva, nojo e desprezo.
Foram estudadas as mudanças faciais de 158 estudantes da universidade. Cada um deles foi fotografado enquanto conversava com uma outra pessoa, que ficava atrás da câmera. As conversas eram todas sobre assuntos que poderiam gerar discordância, e se desenvolviam na língua materna do aluno que estava sendo analisado. Os idiomas usados no estudo – inglês, espanhol e mandarim – foram escolhidos para representar todos os atuais, que se baseiam no latim (como o espanhol), no germânico (como o inglês) e nas línguas orientais antigas (como o mandarim). A linguagem de sinais, por sua vez, entrou no estudo para comprovar se a cara de “não” teria relação com outras formas de comunicação além da fala.
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Enquanto a conversa rolava, os pesquisadores fotografaram manualmente o processo de mudança de expressão de cada pessoa, para mostrar em detalhes os músculos que se moviam. Os frames foram analisados pelo computador, que discriminou as expressões formadoras das caras de “não”. Em todos os casos, sem importar o que os estudantes estivessem negando ou a qual grupo linguístico eles pertenciam, apareceram as mesmas expressões, na mesma ordem: as sobrancelhas juntas da raiva, o queixo enrugado do nojo e os lábios apertados do desprezo. O computador também analisou o tempo que levava para cada uma dessas expressões surgirem e se combinarem para formar a cara de “não”. A conclusão foi que, nos quatro grupos linguísticos, esse tempo é o mesmo – e muito próximo daquele que leva para a gente expressar alguma coisa em palavras ou em gestos.
As expressões negativas foram escolhidas como objeto de estudo dos pesquisadores de Ohio por serem evolutivamente importantes: Charles Darwin acreditava que a habilidade de comunicar perigo ou agressão foi uma das chaves da evolução humana, e que ela se desenvolveu muito antes da nossa habilidade de falar – daí é que vem a universalidade da cara de “não”.
O próximo passo é aumentar a amostra de expressões do programa para que, no futuro, os cientistas possam analisar qualquer cara. A ideia é usar os vídeos no Youtube nessa próxima fase, catalogando pelo menos 1.000 horas de pessoas falando (o que corresponde a 100 milhões de frames) e, mais tarde, chegar a 10 mil horas de vídeos (ou 1 bilhão de frames). O objetivo é investigar se outras expressões são tão comuns e importantes quando a cara de “não”, incluindo as positivas, e traçar paralelos entre as diferentes línguas.
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