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As 4 fases do luto amoroso

Não parece, mas o doloroso caminho que se segue depois do fim de uma relação tem final feliz

Por Marcia Kedouk
5 Maio 2017, 20h02

Se o amor pode ser considerado um vício, a separação é o monstro da abstinência. Afinal, o outro era a dose diária de dopamina, mesmo que não desse mais tanto barato assim. O fornecimento acaba e a primeira reação é sair em busca dela, da dopamina; consegui-la a qualquer custo. No fundo, você sabe que voltar não vai fazer ninguém viver feliz para sempre. Mas, como acontece com um dependente químico, a intenção a essa altura não é mais ter prazer. É acabar com a dor. E dói mesmo.

 

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1ª. A abstinência

Mulheres e homens que tinham acabado um relacionamento longo havia, no máximo, sete meses se submeteram a exames de ressonância magnética enquanto viam fotos do(a) ex. A pesquisa foi feita na Universidade Rutgers, nos Estados Unidos. Todos apresentavam grande atividade no córtex cingulado anterior, que processa a dor, e na ínsula, região envolvida nas sensações de sofrimento mesmo sem estímulo físico.

Os participantes, que também responderam a um questionário sobre emoções, disseram pensar no outro durante 85% do tempo ou mais. E 100% queriam reatar. Confessaram, inclusive, que tinham ligado ou mandado mensagens e e-mails ou até protagonizado cenas dramáticas na vã tentativa de retomar o romance. Segundo a coordenadora do estudo, a antropóloga Helen Fisher, as regiões cerebrais ativadas nos rejeitados são as mesmas que entram em ação quando um viciado em cocaína é privado da substância. Ela verificou também que outra estrutura, o centro de recompensa, tinha atividade aumentada, o que significa que a produção de dopamina e noradrenalina ainda estava no auge.

Isso acontece também com dependentes químicos. O cérebro tem a capacidade de antecipar a recompensa. É só pensar no outro – ou na droga ou em um hambúrguer com batata frita, dá no mesmo – e ele já se liga, disparando o neurotransmissor. Isso gera ansiedade e motivação para você ir atrás do que quer. É o mecanismo de sobrevivência trabalhando para melhor atendê-lo.

Como a droga não vem, o corpo libera cortisol, o hormônio do estresse. A combinação de cortisol, dopamina e noradrenalina diminui a produção de serotonina. É o mesmo coquetel que move os apaixonados, lembra? O sujeito não se alimenta nem dorme direito, fica ansioso, obsessivo. O coração bate acelerado, a pressão aumenta e a imunidade cai, abrindo a porta para gripes e resfriados. Aí alguém tem que botar ordem nessa esbórnia química.

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2ª. A raiva

O amor e o ódio compartilham a mesma morada. Não é poesia – é anatomia. As duas emoções são processadas nas mesmas estruturas cerebrais, a ínsula e o putâmen, cujo nome parece adequado apenas ao ódio. Mas não. Putâmen vem do latim putare, que significa pensar. Dependendo do significado que você atribui ao outro – positivo ou negativo –, essa estrutura leva você a experimentar sensações extremamente boas ou ruins em relação a ele.

A ínsula também é responsável por traduzir imagens, sons, cheiros e sabores em emoções como desejo, satisfação, orgulho, arrependimento, humilhação e nojo.

Os cientistas acreditam que essa proximidade entre amor e ódio foi importante para nossos ancestrais, já que, quando queriam conquistar ou manter alguém, eles tinham também de lutar com os concorrentes. Se o corpo ficasse ali, só achando o mundo cor de rosa… perdeu, bobão. O estresse desencadeia reações de combate contra inimigos, mesmo que as atitudes sejam apenas mentais e mesmo que o oponente atenda pelo apelido de bizuzinho, seu ex.

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É uma virada de jogo fundamental para o cérebro colocar os acontecimentos em perspectiva: não, a relação não era perfeita; sim, houve motivos para terminar. Você se lembra de que o/a ex tinha bafo e chulé, que implicava com tudo, que gostava mais do celular do que da sua companhia. A capacidade de análise e planejamento é retomada. Nessa hora, funciona conversar sobre o assunto com amigos ou na terapia. Tudo em nome de uma organização mais racional das ideias, a porta de entrada para a próxima fase.

 

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3ª A resignação

Com os pensamentos em ordem, vem a melancolia, a tristeza, a apatia, o choro. O processo de luto existe em muitos animais, provavelmente porque estimula o corpo a economizar energia em momentos de grande estresse. Filhotes que são separados da mãe chegam a um estágio semelhante à depressão depois da agitação inicial. Eles ficam imóveis e mais silenciosos esperando a volta dela. Assim, não despertam a atenção de predadores e guardam calorias para sobreviver até lá.

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Nos humanos, o mecanismo pode ter sido uma ferramenta fundamental de cooperação e socialização, principalmente quando nossos antepassados não usavam a fala ou estavam desprovidos de força física para mostrar que algo andava muito errado com eles. Essa tese é defendida pelo biólogo evolucionista Paul Watson, da Universidade do Novo México, pelo psiquiatra Anderson Thomson, da Universidade de Virgínia, e pelo antropólogo Edward Hagen, da Universidade Humboldt de Berlim. Em conjunto, eles avaliaram uma série de pesquisas e desenvolveram a hipótese de que a depressão humana é uma adaptação evolutiva com duas funções básicas. Uma é expor claramente que alguém está em risco. A outra é convencer até mesmo os mais relutantes a oferecer ajuda.

A tristeza também funciona como água fria no sistema superaquecido da raiva. Um recurso sábio para evitar que a máquina entre em colapso.

O estudo da antropóloga Helen Fisher mostrou que quanto mais tempo passado longe do(a) ex, menor é a atividade nas regiões cerebrais ligadas à dor, ao estresse e à dependência. Em outras palavras: a ciência comprova que o tempo cura feridas. Isso se você não prolongar o martírio forçando contato e revirando o Facebook em busca de pistas. Se fizer essa besteira, volte duas casas. Caso tenha juízo, pule para a última fase.

 

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4ª A superação

Hora de buscar fontes alternativas de prazer, como a realização profissional, uma viagem incrível e, principalmente, a companhia de familiares e amigos. Pesquisas mostram que abraços aumentam os níveis de ocitocina e vasopressina, ajudando a manter a conexão social e a satisfação de estar com os outros. Exercícios físicos também são animadores imediatos, porque aumentam a liberação de dopamina e de endorfina, relacionada ao bem-estar. Até curtidas no Facebook fazem efeito. Estão aí as fotos de #partiufelicidade para provar. Só tem um problema: recompensas virtuais também viciam.

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