As cidades europeias que mais usam drogas (segundo seu esgoto)
Diga-me onde dás descarga e eu te direi quem és: estudo espionou esgoto europeu para ter um retrato mais sincero do uso de drogas no continente
As pessoas não admitem com facilidade que usam drogas – e o estigma social faz com que pesquisadores tenham dificuldade em obter dados confiáveis sobre as substâncias que estão sendo consumidas pelas pessoas. E não falta só sinceridade da população: dificilmente alguém que resolveu ficar doidão no fim de semana sabe informar a dose exata consumida, quanto mais qualquer especificação física do entorpecente.
Mas e se fosse possível remover o erro humano dessa pesquisa? É essa a proposta do SCORE, o Grupo Europeu de Análise de Esgotos. Espiando a água que sai de todas as privadas europeias, eles foram capazes de dar informações muito mais precisas sobre o uso de drogas em 50 cidades da Europa.
O retrato de psicoativos europeus é bastante detalhado e, por isso, os cientistas de esgoto criaram um mapa interativo que mostra a distribuição de entorpecentes pela Europa de 2011 a 2016.
Os resultados mostram onde cada droga é mais usada e como são os hábitos dos usuários de cada cidade. Londres, por exemplo, é a segunda cidade com maior consumo de cocaína entre as pesquisadas. Na capital inglesa, 3 mil gramas da droga vão parar no esgoto por dia.
Londres só fica atrás só da Antuérpia, na Bélgica. Lá, são 120 gramas diárias que vão parar nas descargas através do xixi dos usuários. Parece pouco – até você pensar que a população da Antuérpia é 26 vezes menor que a de Londres. Isso na média diária. Se olharmos só para os dias de semana, os londrinos são os campões de cheirar pó. Os belgas só os ultrapassam porque compensam a dosagem aos sábados e domingos.
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O fim de semana, inclusive, mostra um crescimento do uso de cocaína e MDMA ao redor de todo continente. Já a metanfetamina se mantém relativamente constante ao longo dos dias úteis.
O mapa ainda mostra uma divisão de drogas segundo a Rosa dos Ventos: o ocidente é o maior fã de cocaína (com destaque não só para a Inglaterra e Bélgica, mas também Espanha e Holanda). Já no oriente, a quantidade encontrada da droga era mínima.
Por outro lado, a metanfetamina, queridinha de lugares mais ao leste, se expandiu para oeste, na Alemanha, e para o norte, na Finlândia. Mas a campeã nesta categoria segue sendo a Bratislava, na Eslováquia, onde o consumo cresceu.
Os levantamentos também mostram, em todos os países, um crescimento no consumo de MDMA, composto é a base do ecstasy, que parece ter se tornado mais acessível (e mais acessado) pela Europa inteira.
Aí é que está o grande objetivo da pesquisa: conseguir identificar grandes tendências demográficas do consumo de drogas, permitindo um planejamento de saúde pública que não dependa da sinceridade dos voluntários.
Para chegar a esses dados, os pesquisadores utilizaram amostras de estações de tratamento de esgoto. Seu modelo se baseia na ideia de que a droga vai ser processada pelo corpo e excretada na forma de algum composto que ainda pode ser identificado – como a benzoilecognina, metabólito da cocaína que é eliminado via urina.
A partir da estação de tratamento, os pesquisadores são capazes de traçar uma área-alvo de privadas próximas e estabelecer quanto desses subprodutos estão sendo eliminados naquela região. A partir da concentração dos metabólitos e da população de cada área, eles estimam quais drogas estão sendo usadas e em qual quantidade – sem ter que depender ta sinceridade de ninguém.