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Ciúme

Uma herança com os dias contados? Quem condena o ciúme como

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 28 fev 2006, 22h00

Texto Patrícia Pereira

O ciúme é um sentimento universal que nunca deixará de existir, afirmam muitos especialistas. Não é o que pensa a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins. Para ela, ainda estamos só começando a aprender a evitar o ciúme, mas a tendência é que ele desapareça. O sexo vem perdendo conexão com a continuidade da espécie e, no futuro, muitas pessoas poderão manter relações estáveis com vários parceiros ao mesmo tempo, afirma Regina em O Livro de Ouro do Sexo (Ediouro, 2005), que escreveu com o marido, Flávio Braga. Segundo ela, a exigência de exclusividade do parceiro tende a desaparecer e, com isso, o ciúme vai perder sua sustentação. Para entender a tese, é preciso saber de onde vem o ciúme. Segundo algumas teorias, esse sentimento que atormenta tanta gente se deve a um mecanismo de defesa: evitar a traição. De acordo com psicólogos evolucionários, o ciúme é um mecanismo criado ao longo de várias gerações para garantir o sucesso reprodutivo – assim como a girafa passou a ter o pescoço mais longo, o ciúme teria sido uma evolução adaptativa do ser humano. O homem precisava evitar que sua parceira fosse infiel para ter certeza de que os filhos eram mesmo seus descendentes. Já a mulher precisava manter as atenções materiais e afetivas de seu companheiro para impedir que recursos importantes na criação da prole fossem desviados para uma rival, explica o psicólogo americano David Buss, autor de A Paixão Perigosa (Objetiva, 2000).

Utilidade em xeque

E assim teria surgido o ciúme, um complexo de pensamentos, sentimentos e ações que se manifestam quando um dos parceiros acha que a relação amorosa está sendo ameaçada. Ou seja, uma forma de defesa. Isso explicaria por que os homens demonstram mais ciúme das traições sexuais de suas parceiras, enquanto as mulheres temem a infidelidade emocional. Mas o mundo mudou muito. O teste de DNA pode eliminar a dúvida da paternidade e as mulheres ganham cada vez mais autonomia para cuidar de si mesmas e dos filhos. Será o fim do ciúme? “Mesmo que o ciúme não sirva mais para as funções para as quais foi desenvolvido, ele vai continuar a operar por várias gerações”, acredita David Buss.

Para Regina, é impossível prever em quantas gerações, mas o fim do ciúme estaria garantido porque “está em declínio a ilusão de que se possa resolver a própria existência por meio do outro”. Segundo ela, a tendência é que as pessoas deixem de abrir mão da individualidade e passem a se ver mais como dois conjuntos autônomos que como metades de uma unidade. E, sem dependência, não haveria ciúme. As relações deixariam de ser de exclusividade e teriam vários parceiros.

O psiquiatra Eduardo Ferreira-Santos, autor de Ciúme – O Medo da Perda (Claridade, 2003), pensa diferente. Para ele, ciúme é um desejo de posse e surge da desconfiança inconsciente de que não é capaz de possuir o outro. E isso vem de uma falha na auto-estima. Quando deparamos com um adversário em potencial, analisamos seus valores (beleza, posição social, cultura), comparamos com os nossos e verificamos se o que ele tem de vantagem é um valor importante para nossa parceira. Caso seja, nos sentimos ameaçados. “Ninguém é um super-herói. Todos temos pontos fracos e, por isso, não dá para existir alguém que não sinta ciúme”, afirma Ferreira-Santos.

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Egoísmo ou amor?

A intensidade do ciúme pode variar bastante, de simples zelo ao estágio patológico, segundo Ferreira-Santos. O zelo é um sentimento altruísta em que o foco é o bem-estar do outro. “Esse estaria ligado ao amor e não ao ciúme, que é egoísta na essência.” O ciúme, mesmo pequeno, quer a posse, serve ao amor-próprio. “É o oposto do amor”, afirma o psiquiatra.

Já Ailton Amélio, professor da disciplina de Relacionamento Amoroso do Instituto de Psicologia da USP, acredita que um pouquinho de ciúme é “sinal de amor”, e a sua completa ausência indica que não há vínculo afetivo. “O ciúme é uma síndrome positiva, ao contrário de infantil e egoísta, pois ajuda a preservar a relação”, diz Amélio. Mas ele ressalta: isso funciona quando o ciúme é pequeno e proporcional aos riscos de traição.

O difícil é descobrir a fronteira entre o ciúme dito normal e o patológico. Para Ferreira-Santos, é simples: esse sentimento vira um transtorno (leve, moderado ou grave) e precisa ser tratado quando incomoda a pessoa e o outro. E um quarto estágio, de verdadeiro caso patológico, ocorre quando o ciumento tem delírios de que seu parceiro está traindo e, mesmo que isso tenha sido criado por sua mente, tem certeza sobre o fato. Esses casos são conhecidos como síndrome de Otelo e têm um componente neurológico importante, podendo estar associados a alcoolismo, demências ou doença de Parkinson.

Amélio chama a atenção para um dado intrigante: a prática mostra que, muitas vezes, o paciente tratado como ciumento delirante realmente estava sendo traído. No livro Descobrimento Sexual do Brasil (Summus, 2004), a psiquiatra Carmita Abdo revela dados que confirmam o medo da traição. Conforme o estudo, as mulheres casadas têm 1,14 (mais de um!) parceiro sexual em um ano e os homens, 1,96 (quase duas!).

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Você sofre de ciúme?

Faça o teste e descubra

1. Seu parceiro esquece o telefone celular. O que você faz?

[A] Guarda e avisa-o do esquecimento.

[B] Pensa em mexer no aparelho e descobrir para quem fez ou de quem recebeu ligações. Mas abandona a idéia por considerá-la invasiva.

[C] Vasculha o telefone procurando nomes que possam ser suspeitos e, se encontra um que não conhece, fica aflita e imagina uma possível paquera.

[D] Mexe no telefone até encontrar o nome de alguém que não conhece ou que imagina ser capaz de paquerar seu parceiro e passa a ter certeza de que eles têm um caso.

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2. Num bar, seu parceiro levanta-se para ir ao banheiro. Você:

[A] Observa se no caminho alguém o aborda, mas tranqüiliza-se ao ver que nada acontece, mesmo perdendo-o de vista.

[B] Observa e, caso ele converse com alguém, sente uma “fisgada no estômago”, mas fica na sua e espera a volta dele para perguntar quem era.

[C] Fica vigiando se ele está olhando para os lados e, caso pare para falar com alguém, pensa que é uma paquera e se prepara para ir tirar satisfações.

[D] Acredita que a ida ao banheiro é um pretexto para se encontrar com outra.

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3. Seu parceiro diz que terá de viajar a negócios por dois ou mais dias:

[a] Você pergunta se ele precisa de ajuda, deseja-lhe boa viagem e boa sorte nos contatos.

[b] Sente certo desconforto e pede detalhes da viagem (com quem vai, quem vai encontrar por lá, onde ficará hospedado e o telefone).

[c] Sente-se ameaçada com a possibilidade de ele encontrar na viagem alguém que possa vir a abalar a relação.

[d] Acha que usa a viagem como pretexto ou marcou com alguém para se encontrar lá.

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4. Em um evento, seu parceiro e você vêem uma ex-namorada dele:

[A] Você assimila a presença e reage naturalmente a uma eventual conversa de ambos.

[B] Não fica indiferente à presença e chama a atenção de seu parceiro para você.

[C] Fica perturbada, quer ir embora ou cria confronto com o parceiro ou com a ex.

[D] Fica transtornada. Imagina existir uma trama entre eles e pode ter atitudes como agressões verbais ou físicas.

5. Você entra em um aposento e seu parceiro está desligando o telefone:

[A] Você simplesmente pergunta quem era.

[B] Pergunta quem era em tom especulativo e quer saber o teor da conversa.

[C] Quando pode, confere com quem ele falava (rediscando o telefone, por exemplo).

[D] Tem certeza de que ele desligou porque conversava com alguém com quem tem um caso.

6. Seu parceiro sai habitualmente com amigos, do mesmo sexo:

[A] Você incentiva e acha natural que tenha o espaço dele.

[B] Considera natural, desde que saiba com quem, onde e como localizá-lo.

[C] Não gosta, mas se vê obrigada a aceitar. Controla o horário e liga durante o encontro para saber se está mesmo com amigos. No limite, chega de surpresa ao local.

[D] Não admite e é capaz de atos extremos para impedi-lo de sair, acusando-o de estar indo se encontrar com outra.

7. Seu parceiro guarda fotos e cartas de antigas namoradas:

[A] Você acha natural, pois faz parte da história dele.

[B] Concorda que todo mundo tem uma história, mas sente um certo desconforto.

[C] Você não admite. Briga e exige que ele as destrua, como prova de amor.

[D] Se ele guarda essas fotos e cartas é porque ainda tem “alguma coisa a ver” com essas pessoas. Você destrói tudo.

8. Você recebe uma carta anônima revelando que seu parceiro tem um caso:

[a] Mostra a carta a ele e acredita nas explicações de que se trata de alguém querendo desestabilizar a relação. Tentam descobrir quem fez isso, mas não alteram a rotina.

[b] Fica chocada, tenta encontrar motivos para que pudesse haver a traição e conversa com ele sobre a carta.

[c] Quase tem um colapso nervoso e “esfrega a carta na cara dele”, exigindo explicações.

[d] Tem a prova absoluta da traição e não quer mais nem conversar sobre isso.

ANALISE SUAS RESPOSTAS

• Se a maioria das respostas for A, você é do tipo zelosa, manifesta um sentimento saudável de cuidado, intimamente ligado ao amor, que é altruísta. Isso exige, muitas vezes, a renúncia de seu desejo em benefício do outro.

• Se a maioria das respostas for B, você está na faixa da normalidade. É do tipo enciumada. O ciúme se manifesta de forma transitória quando há uma ameaça real à relação. Embora comum, revela existir bem no íntimo algum complexo de inferioridade.

• Se a maioria das respostas for C, você é ciumenta. Existe um medo infundado de ser traída, que independe de haver ou não evidência. Diferente do zelo, é um sentimento egoísta, o foco é sua insegurança e a necessidade de manter o outro sob controle. Pode ter como base um transtorno neurótico.

• Se a maioria das respostas for D, você é do tipo paranóica. Procure ajuda especializada. Há, sem dúvida, um distúrbio psiquiátrico que transforma a fantasia em suposta realidade.

Fonte: TESTE extraído dO LIVRO Ciúme, o medo da perda, de eduardo ferreira-santos

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