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Como a comunidade LGBT venceu a maior rede social chinesa

O Weibo, espécie de Twitter chinês, comprou uma briga indigesta com boa parte de seus 400 milhões de usuários

Por Ingrid Luisa
16 abr 2018, 18h15

A China socialista impõe uma série de restrições à internet do País. Eles não têm acesso livre a Twitter, Facebook, Instagram ou YouTube como nós. A maior rede social deles é a Sina Weibo, mais conhecida como Weibo (os fãs de pop asiático certamente conhecem), com cerca de 400 milhões de usuários ativos – incluindo famosos ocidentais que querem se aproximar do crescente mercado chinês, como Neymar, Justin Bieber, Emma Watson e até Mike Tyson. A gigante chinesa chegou a superar o valor do Twitter no final de 2017, e hoje está avaliada em US$ 30 bilhões. Legal, mas por que estamos falando do “twitter chinês” agora? Acredite, em pleno 2018, eles proibiram qualquer conteúdo com teor homossexual. E tiveram que voltar atrás.

Alegando buscar um ambiente mais “saudável”, o Weibo fez um pronunciamento na última sexta (13) afirmando que sua campanha de “limpeza”, para proteger os usuários contra conteúdos “ilegais”, começaria já como imagens, desenhos (incluindo mangás), e vídeos associados à pornografia, violência e homossexualidade. A rede disse que essa ação ia de acordo com as novas leis de segurança digital chinesas, instaladas ano passado pelo presidente Xi Jinping – que dá ao Partido Comunista controle de dados e possibilita punições a marcas que “infringirem” os temas permitidos. Tudo em nome dos “valores centrais do socialismo”.

Mas, apesar da comunidade LGBTQ+ ainda sofrer e se esconder bastante na China – e nos países asiáticos, em geral –, ela não ficou calada frente a isso. Milhares de usuários subiram tags como #IAmGay e #IAmGayNotPervert para protestar contra essa decisão, além de postarem uma enxurrada de fotos com namorados/namoradas e emojis de arco-íris. Um dos principais defensores dos direitos LGBTs na China, Xiaogang Wei, disse à CNN: “Precisamos pressionar essas empresas e mostrar que não é simples discriminar toda uma comunidade – não importa quem faça isso”. E quando ele faz essa última ressalva mostra consciência de que mexeram com peixe grande, já que todo esse caso envolve leis nacionais e grandes capitais. Gigantes como o Alibaba são acionistas do Weibo.

A repercussão foi inimaginável. A tag #IAmGay foi visualizada 300 milhões de vezes, segundo a Reuters, antes de ser deletada do site no último domingo (15) – não só essa, mas todas as outras tags com o termo “gay” e milhares de contas que protestaram foram apagadas. Até mesmo o maior jornal estatal, People’s Daily (“Diário do Povo”), publicou uma nota afirmando que ser gay “não é uma doença”, e pontuando que “os gays precisam arcar com sua próprias responsabilidades enquanto lutam pelos seus direitos”. Com essa indireta, o Weibo não teve outra escolha a não ser voltar atrás no banimento.

Nesta segunda (16), a rede social chinesa afirmou em comunicado que a campanha não iria incluir conteúdo gay e focaria na checagem de material pornográfico e violento, ainda agradecendo os usuários por toda a campanha “Obrigada a todos pela discussão e pelas sugestões”, disse a conta oficial do Weibo. Controvérsias à parte, esse recuo foi uma vitória para toda a comunidade LGBT asiática.

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Repressão velada

Em meio à polêmica, não é como se a culpa fosse só do Weibo. Desde janeiro, a rede social vem sofrendo pressão do governo chinês por “propagar conteúdo nocivo” – algumas funções da rede chegaram a ser suspensas. Em comunicado, representantes afirmaram que o Weibo permite “conteúdos que expõem opiniões ruins, obscenas, de mau gosto, infringindo as leis e a regulamentação do país, orientando a opinião pública na má direção, exercendo uma má influência”. O fato de a recente campanha excluir, inicialmente, conteúdo LGBT,  demonstra como ainda é precário o tratamento a questões LGBTQ+ na China.

Há mais de 20 anos, em 1997, a discriminação contra gays foi proibida, mas, só em 2001, a homossexualidade foi removida da lista oficial de distúrbios mentais. Muitas partes da Constituição chinesa incluem a proteção das minorias. O artigo 38, por exemplo, afirma que a dignidade dos cidadãos da República Popular da China é inviolável, algo que não vem sendo cumprido em casos de discriminação como o do Weibo.

Não que isso seja incomum. Na China, apenas 15% da comunidade LGBT assume para os pais sua sexualidade, e míseros 5% assumem publicamente, de acordo com uma pesquisa da ONU de 2016. Ano passado, o The Washington Post denunciou que pessoas LGBT ainda são submetidas a “tratamentos”, como eletrochoques, confinamento forçado e medicação para serem “curadas”. Parece que o Weibo apenas espelha uma situação que a sociedade ainda não foi capaz de resolver.

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