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Como dar (e receber) conselhos no trabalho – sem parecer um mala

Saiba por que gostamos tanto de dar pitacos no trabalho alheio – e veja um pequeno manual para fazer isso da melhor forma.

Por Rafael Battaglia
Atualizado em 28 set 2022, 10h42 - Publicado em 25 jul 2020, 19h47

Que atire a primeira pedra (ou monitor do computador) quem nunca recebeu um conselho ruim no trabalho. Ou pior: um conselho que você não pediu.

Dar conselhos é algo delicado – especialmente no mundo corporativo. Independentemente se as dicas são boas ou ruins, elas podem abalar a confiança de quem as recebe. E se os colegas de trabalho não são tão próximos, elas podem soar autoritárias.

O outro lado dessa relação é igualmente complicado. Afinal, convenhamos: quantas vezes você realmente seguiu as orientações de alguém sem ao menos questioná-las – ou ignorá-las por completo?

Mas para resolver este imbróglio, é preciso entender primeiro por que gostamos tanto de dar conselhos. Para isso, vamos recorrer à uma ajudinha da psicologia.

Michael Bungay Stanier, autor do livro “The Advice Trap” (“A Armadilha do Conselho”, em tradução livre), explicou à BBC que a causa desse fenômeno está na concepção de sucesso: para nós, ser bem-sucedido é ter todas as respostas possíveis. Isso afeta especialmente pessoas em cargos de gestão, que muitas vezes acabam distribuindo conselhos para provar sua liderança.

O “monstro do conselho”

Durante suas pesquisas, Stanier investigou não só a vontade de dar conselhos, mas também a rapidez com que ela se manifesta. Sabe aquele impulso de fazer um comentário sempre que alguém comenta um problema? Para o autor, é como se todo mundo tivesse um “monstro do conselho” interno. O nosso desafio, então, seria mantê-lo na rédea curta.

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Alguns conceitos podem nos ajudar a entender a existência desse monstro. A primeira é o do viés cognitivo: uma distorção de julgamento que nos faz acreditar que nossos conselhos são melhores do que realmente são – da mesma forma que pensamos que somos mais espertos do que, de fato, somos.

A verdade é que o ser humano é péssimo em fazer autoavaliações. E isso vale para todo mundo: desde você, que está lendo, até este, que vos escreve. Essa ideia está diretamente relacionada ao chamado efeito Dunning-Krueger, descrito em 1999 pelos psicólogos Justin Kruger e David Dunning, que na época trabalhavam como pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA.

A dupla analisou dezenas de estudos sobre a ideia de superioridade ilusória e constatou que todos nós temos lacunas de incompetência que não conseguimos reconhecer. E o mais interessante: os menos habilidosos são justamente os mais prováveis a superestimar suas habilidades.

Seja no trabalho, em controlar as finanças ou no futebol, todo mundo adora contar vantagem. Os estudos de Kruger e Dunning nada mais são do que uma observação do quanto ignoramos a nossa ignorância. Parece cômico – e é: em 2000, a dupla levou o prêmio IgNobel de psicologia, que reconhece pesquisas, digamos, inusitadas.

Outra explicação para a vontade súbita de dar conselhos é simples: ela nos faz bem. Ser solicitado por alguém afaga o nosso ego e o desejo de ser reconhecido. Além disso, confere status e, de certa forma, autoridade. Em 2018, uma pesquisa da Universidade de Chicago mostrou que pessoas desmotivadas se beneficiam mais quando dão conselhos, e não quando os recebem.

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Plano de ação

Agora que você entendeu a raiz do problema, hora de bolar um plano para mitigá-lo. Mas vale o aviso: como qualquer conflito interpessoal, não há uma receita única. O ideal, sempre, é compreender o contexto em que você está inserido (no caso, o ambiente de trabalho) e, a partir daí, aplicar as dicas a seguir da melhor forma possível.

Não tenha pressa

Lembra do que Stanier disse sobre domar o “monstro do conselho”? Pois é. A pressa leva, na maioria das vezes, a conselhos equivocados. É preciso pensar com calma no que falar. Falas precipitadas podem soar ríspidas e abalar a autonomia de alguém – sobretudo, colegas com quem você não tem tanta intimidade ainda.

Pergunte

De acordo com os professores David A. Garvin e Joshua D. Margolis, que escreveram um artigo sobre o tema para a Harvard Business Review, “conselheiros tendem a evitar fazer perguntas básicas sobre o problema”. Motivo? Não perder o status de especialista.

Essa não é, contudo, a melhor maneira de resolver a situação. Sem querer puxar sardinha para a profissão, mas o melhor jeito de aconselhar é agir como um jornalista e fazer todas as perguntas possíveis, por mais simples que sejam. Isso te ajudará a ter uma visão completa da situação – e evita que algo que a pessoa não tenha falado por algum motivo fique de fora.

Seja objetivo

Dar muitas ideias, alternativas e sugestões pode mais atrapalhar do que ajudar, deixando a outra pessoa perdida. Dê orientações diretas e explícitas.

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Ofereça caminhos

Sugira fontes alternativas que tenham mais propriedade ou experiência sobre o assunto. Faça isso principalmente se você não se sentir confortável em aconselhar alguém: nesse caso, é melhor recusar do que oferecer um conselho ruim.

Outra saída é facilitar indiretamente a solução do problema. Ao invés de dar uma resposta final, analise a situação junto com a pessoa. Por meio de perguntas, faça-a refletir sobre possíveis caminhos – e as consequências de cada um deles. Vale também contar a sua experiência, dizendo o que funciona para você e deixando-a livre para decidir o que fazer.

Se o seu conselho não for seguido, não tem problema. O ideal é não ficar remoído com isso, mas compreender que as suas dicas foram uma parte, e não o todo, da solução.

Pense a longo prazo 

É impossível possuir todas as respostas – e tentar contemplar tudo pode ser estressante, sobretudo para quem ocupa cargos de liderança.

Pensando nisso, é importante capacitar as pessoas para que, com o tempo, elas tomem suas próprias decisões. No começo, vai parecer algo contraintuitivo – afinal,  virar a cabeça (ou agora, com o trabalho remoto, mandar uma mensagem) para tirar uma dúvida parece. Mas esse ganho de autonomia ajuda à longo prazo.

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Pedindo ajuda

Conselhos são uma via de mão dupla: para que essa relação dê certo, quem for pedir ajuda também precisa contribuir.

É preciso estar aberto às orientações. Não vá para a conversa achando que você já sabe todas as respostas, e que o diálogo seria apenas uma validação do seu pensamento inicial.

É importante também escolher a pessoa certa que irá te ajudar, seja pelo cargo que ela ocupa ou pela experiência dentro da área. Com o tempo, escolha algum colega de confiança e desenvolva uma boa relação – ele será a pessoa a quem você irá recorrer e que entenderá com mais facilidade suas necessidades.

Por último, saiba exatamente o que você está procurando. Lembre-se que existem diferentes tipos de conselhos (sugestões pontuais, mentorias, orientação profissional, etc.). Para cada um deles, há pessoas e abordagens específicas. Neste link, há uma tabela (em inglês) com todas essas diferenças. Vale a leitura.

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