Denis Russo Burgierman
Quando Hannibal Lecter invade uma casa, o feroz cão de guarda, em vez de avançar, senta e começa a chorar. O filme Hannibal, seqüência do perturbador O Silêncio dos Inocentes, é sobre isso: o quanto algumas pessoas têm poder sobre os outros. O bandidão interpretado pelo brilhante Anthony Hopkins é cínico, manipulador, cruel e tem o péssimo hábito de comer aos pedaços quem cruza sua frente. Mas é encantador. Claro que a única pessoa capaz de pará-lo é a agente Clarice Starling, desta vez interpretada por Julianne Moore (Jodie Foster, estrela do primeiro filme, recusou o papel por achar o filme violento demais, não sem alguma razão…). Starling é quase tão brilhante quanto o vilão, além de indiscutivelmente honesta, corajosa, nobre e linda. Só que não tem metade do carisma dele. Não se surpreenda se, no final, você estiver torcendo pelo canibal. Você será só mais uma das vítimas do seu charme…
Hannibal, como O Silêncio dos Inocentes, é um filme daqueles de provocar risos nervosos no cinema, gente subindo na poltrona e gritos histéricos com qualquer barulhinho. Tudo temperado com cenas absurdamente sangüinolentas. As semelhanças param aí. O diretor Ridley Scott, de Blade Runner e Gladiador, acrescentou à trama uma boa dose de humor, muito bem-vindo. Também colocou na mistura sua marca registrada: as cenas plásticas e a trilha sonora primorosa (tudo muito bonito, embora meio grandiloqüente). De lamber os beiços.