Descubra as regras para usar o gás lacrimogêneo
Índios usam uma versão primitiva, policiais usam à exaustão - mas soldados de guerra não podem usar. Para lançar gás lacrimogêneo, só seguindo as regras
Tá liberado
Os gases lacrimogêneos são classificados como agentes irritantes não-letais pela Convenção de Armas Químicas, acordo firmado por 178 países. Como seus efeitos são temporários, forças policiais podem usá-los para dispersar multidões. No entanto, a mesma convenção proíbe seu uso como arma de guerra, dizendo que, em alta concentração, o gás pode matar o inimigo. Mas isso nem sempre foi assim…
Arma de guerra
Nas guerras da Antiguidade, era comum atacar os inimigos com fumaças tóxicas. Por aqui, faziam o mesmo: índios tupinambás queimavam pimenta e usavam a fumaça para forçar os inimigos a abandonar suas barricadas. E o hábito chegou ao século 20: na Guerra do Vietnã, americanos foram acusados de usar lacrimogêneos para expulsar os vietcongues de seus esconderijos.
Assim se faz gás
O 2-Clorobenzilideno malononitrila (CS) é o gás mais usado e foi sintetizado em 1928 pelos americanos Ben Corson e Roger Stoughton (a sigla CS vem dos sobrenomes). Eles trabalhavam em um novo lacrimogêneo quando uma crise de espirro mostrou que estavam no caminho certo. Os sintomas físicos do gás são lacrimejamento, irritação na pele e queimação na boca. Já os efeitos psicológicos vão desde desorientação até pânico.
Se o gás pegar você
Num dia sem vento, uma granada de CS pode formar uma nuvem de até 10 metros de diâmetro, que fica 15 minutos no ar. Se você entrar em contato com a substância, fuja o mais rápido possível (apesar de ser agente não-letal, já houve casos de morte com o gás) e depois caminhe de braços abertos por um local ventilado, para eliminar o químico das roupas. Se possível, mantenha os olhos abertos – mas sem esfregá-los. Importante: só lave o rosto com água fria e sabão neutro depois de não ter mais sintomas. O CS pode reagir com a água e provocar queimaduras no rosto.
Quem pode pode
No Brasil, as Forças Armadas e de segurança pública (Polícia Militar, Civil e Federal) podem usar gás lacrimogêneo. Quem controla a venda é o Exército. No momento de um confronto, o oficial responsável, geralmente o mais antigo, avalia como proceder. Antes de usar o gás, ele pode usar outros recursos (de acordo com a ameaça): vai da presença ostensiva da tropa até as armas de efeito moral – como bala de borracha, armas de choque e jatos d’água. O gás lacrimogêneo só é recomendado em situações extremas, como briga de torcida, tumulto generalizado e rebelião em presídio, entre outras.
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Fontes Condor Tecnologias Não-Letais, Convenção de Armas Químicas; Major Tanos Celmar Costa Franca, engenheiro químico do Instituto Militar de Engenharia, Tenente Lima Ramos, porta-voz do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Rio de Janeiro e The Encyclopedia of Warfare: From the Earliest Times to the Present Day, de Adrian Gilbert.