Ana Freitas
Hoje o Comando Vermelho controla 84 favelas cariocas; o Terceiro Comando Puro, 35; e o Amigo dos Amigos, 31. Se as facções se juntassem, teriam um enorme poder de articular ataques contra as milícias de policiais, que dominam outras 101 comunidades. Assim, no próximo Tropa de Elite os traficantes voltariam para se vingar da Polícia Militar. Seria a maior carnificina do Rio.
Mas esse roteiro viraria pelo avesso caso as facções e as milícias também se unissem. E isso não é impossível: já há favelas onde as duas articulam o tráfico juntas. Nesse cenário, especialistas são unânimes: pode parecer estranho, mas a violência cairia drasticamente. E aí muita coisa mudaria. O dia a dia seria coberto por um fino manto de paz, apesar de eventuais políticos executados e dissidentes torturados em tribunais do crime. O Rio seria então visto de fora não como uma grande Cidade de Deus, mas como um paraíso hedonista. O turismo bombaria e o tráfico também.
Isso porque as disputas do crime sairiam dos morros e partiriam para os bastidores da política. “A capacidade de infiltração no poder aumentaria. Podemos constatar esse fato com recentes casos de políticos, policiais e agentes do governo envolvidos com essas facções”, opina Paulo Storani, ex-capitão do Bope e secretário de Segurança de São Gonçalo, RJ. E os criminosos acabariam tentando tomar o poder por golpe de Estado ou guerra civil? Não. Viveríamos uma guerra fria entre poderes público e paralelo, num combate de inteligência, não de armas.
Tropa de Elite 3, O Crime é Eterno
Na guerra fria entre crime e Estado, a segurança fica só na superfície
PAI DOS PODRES
Um líder comunitário corrompido articularia a aproximação de facções e milícias com o talento de um poderoso chefão. Carismático, influente e bem relacionado, seria admirado e temido o suficiente para que abandonassem a desconfiança mútua e se unissem para formar o maior cartel criminoso do mundo e atacar o Estado.
AGENTE NASCIMENTO
Jurado de morte após denunciar as milícias, o Capitão, digo, Coronel Nascimento mudaria de identidade e recomeçaria a vida na Polícia Federal. Disfarçado, o agente passaria por um ritual de iniciação do crime organizado e se infiltraria em sua hierarquia para combater a base brasileira do tráfico internacional.
CAPITAL DA NIGHT
Maravilhosa, segura e com todo tipo de droga nos morros, a cidade seria a referência mundial do turismo de sexo, drogas e balada. De dia, gringos fumariam maconha na praia. À noite, desfilariam o bronzeado em festas pulverizadas a cocaína em boates e bailes funk. E o tráfico lucraria em dólar e euro.
MULHER-LARANJA PRO CONGRES
Organizações criminosas de vários estados formariam um partido, que lançaria a candidatura de líderes comunitários corruptos e celebridades trash. Além de legislar pelo crime e pelos presidiários, o partido ganharia popularidade com obras sociais para suas comunidades. Mas o grosso das verbas iria para o crime.
VISTO NEGADO
De drogas a seres humanos, o tráfico aqui seria um dos mais poderosos e bem coordenados do mundo. Aí, ser brasileiro não seria tão cool. Precisaríamos de visto na Europa, seríamos barrados nos aeroportos estrangeiros, e a notícia de brasucas presos no exterior se repetiria. Mas o turismo doméstico levaria vantagem.
Fontes Fabio Lopez, criador de War in Rio; Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj; coronel Mario Sergio Brito Duarte, comandante-geral da PM-RJ; Paulo Storani, secretário de Segurança de São Gonçado, RJ; Danillo Ferreira, do blog Abordagem Policial.