A coisa seria feia. A bola de fogo de 200 quilômetros de diâmetro e o calor gerado por ela varreria do mapa tudo que houvesse num raio de 2 mil quilômetros. Considerando que o asteroide caiu onde hoje está a península de Yucatán, no México, o Caribe viraria pó. México, América Central e quase todos os EUA seriam devastados. Mais de 500 mil pessoas morreriam na hora.
O impacto da queda causaria vendavais. Tsunamis inundariam as costas do Atlântico, principalmente no hemisfério norte. Fragmentos lançados ao espaço retornariam à atmosfera em velocidades hipersônicas, e essa chuva de fogo causaria incêndios por todo o globo. “As correntes de ar espalhariam uma nuvem de poeira pelo planeta”, diz Gerta Keller, professora de geociências da Universidade de Princeton. A crise humanitária seria generalizada.
A agricultura ficaria impraticável por pelo menos um ano. Sem os maiores consumidores do mundo, a redução da demanda seria brutal. Rapidamente, um terço do PIB mundial sumiria. O que sobrasse encolheria, deixando qualquer crise no chinelo. Seria um buraco negro econômico.
Mas, graças ao conhecimento acumulado, o modelo econômico e político que conhecemos hoje seria restabelecido. A prioridade imediata seria produzir alimentos e, como os países estariam mais preocupados em suprir as próprias necessidades, as economias seriam mais fechadas. “O controle da economia passaria para o Estado, até que a sociedade tivesse condições de se reestruturar”, diz Alcides Leite, professor de economia da Escola Trevisan de Negócios. A sorte é que, com petróleo em baixa e o parque industrial subutilizado por causa da crise, produzir ficaria bem mais barato. Aos poucos, a civilização se recuperaria por inteiro, mas o mundo já seria outro. Como você verá a seguir.
O mundo pós-desastre
Se fosse uma cidade, ele seria assim
1. China
Populosa, acostumada a situações de emergência, com imenso potencial agrícola e parque industrial intacto, ganharia força e seria o grande expoente da economia mundial. Os chineses mais pobres se espalhariam pelo mundo e ajudariam na reconstrução dos países da América do Norte e da Europa.
2. Brasil
A parte mais devastada seria a região norte, com pouca influência sobre a capacidade produtiva do país. Com infraestrutura industrial preservada, muita terra e muita gente, em pouco tempo o Brasil entraria para o grupo dos países mais ricos e influentes do novo mundo, acompanhado por Coreia do Sul, Japão, Índia e Rússia e liderado pela gigante China.
3. Europa
Seria muito atingida por tsunamis bem na sua porção mais rica: a ocidental. Passaria por um período de fome comparável ao que foi sofrido durante a 2ª Guerra. Seriam necessários novos Planos Marshall e New Deal para tomar conta das economias, e o continente passaria a receber ajuda de ongs asiáticas e da ONU.
4. EUA
Ficariam totalmente devastados e cobertos por metros de detritos. Assim que a poeira baixasse, os americanos do norte – os únicos que sobreviveriam – buscariam reconstruir do zero o pouco do que sobraria do país e, para isso, iriam precisar de muita ajuda. Teriam que abrir novamente suas fronteiras aos imigrantes (muitos deles, chineses).
5. Oriente Médio
Sem EUA e Europa, a demanda por petróleo despencaria, seguida pelos preços. Isso seria um baque e tanto para Arábia Saudita e companhia, que, sem indústria nem cultura agrícola, não teria escolha senão voltar aos tempos dos nômades. Mas a baixa na cotação do petróleo seria um fator decisivo na recuperação econômica do mundo.
6. Sudeste Asiático
Países da Ásia, como Vietnã, Laos e Tailândia, com experiência agrícola e terras cultiváveis intactas, seriam os grandes abastecedores de cereais desse mundo faminto e pobre em terras férteis. Além de arroz, passariam a produzir muito outros tipos de grãos. Brasil e Índia também seriam importantes produtores de alimentos.
Fontes Alcides Leite, professor de economia da Escola Trevisan de Negócios; Antônio Claret, cientista do Instituto de Astrofísica de Andaluzia (Granada, Espanha); Gerta Keller, professora de geociências da Universidade de Princeton; Jorge Márcio Carvano, pesquisador do Observatório Nacional; José Maria da Silveira, engenheiro agrônomo da Unicamp; José Maria Gusman Ferraz, ecólogo da Embrapa; Paulo Roberto Feldmann, professor da FEA-USP; Stephen Self, vulcanologista sênior da Comissão Reguladora Nuclear do governo dos EUA.