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Encontrando Dory

Conheça as Dories da vida real: os portadores de amnésia anterógrada, a condição mental da peixinha.

Por Helô D'Angelo Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 11 mar 2024, 11h11 - Publicado em 8 jul 2016, 19h30

Ela tinha uma vida normal, cercada de amigos que a amavam. Só um detalhe a tornava diferente: a incapacidade de guardar novas memórias. As antigas estavam lá, intactas – ela conseguia reconhecer pessoas, lembrar de episódios marcantes da infância e até explicar a sua amnésia para desconhecidos. Mas os amigos precisavam lembrá-la constantemente do que ela havia comido no café da manhã, do ano em que estavam e até do seu endereço, se fosse novo demais.

Essa poderia ser a história da peixinha Dory, de Procurando Nemo e Procurando Dory, mas é um resumo da vida de Michelle Philpots, uma inglesa que acabou perdendo a capacidade de reter novas memórias depois de dois acidentes de carro.  

LEIA: “Procurando Dory”, na verdade, é um filme sobre deficiência intelectual – e isso é ótimo

Michelle, tal como Dory, sofre de amnésia anterógrada, ou a incapacidade de reter informações novas (o contrário da a amnésia retrógrada, definida como a impossibilidade de guardar memórias antigas). A amnésia anterógrada está ligada a danos no hipocampo – onde são armazenadas as novas memórias no cérebro. Por isso, a personalidade, o humor, os talentos e até a memória de longo prazo – que ficam em outras partes do cérebro – continuam preservados. É esse o tipo de esquecimento retratado em outros filmes Amnésia e Como se Fosse a Primeira Vez.

LEIA: Memória: Esquecer para lembrar

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As “Dories” da vida real
Um dos casos mais famosos desse tipo raro de amnésia é o do músico britânico Clive Wearing. Em 1985, ele contraiu uma encefalite viral que atacou violentamente seu sistema nervoso e serviu como uma enorme tecla de “deletar”, fazendo com que ele não conseguisse armazenar novas lembranças. Mas a doença não parou por aí: Wearing desenvolveu também a amnésia retrógrada, e foi apagando, pouco a pouco, as memórias mais antigas: ele lembrava de ter filhos, mas não conseguia recordar os nomes; sabia que amava a esposa, mas não tinha memórias do casamento; conseguia tocar piano, mas não reconhecia nenhuma sinfonia – nem as que ele mesmo escrevera antes da doença. 

LEIA: Teste a sua memória

Outra história conhecida vem do livro O homem que confundiu sua mulher com um chapéu, do neurologista americano Oliver Sacks. Jimmie G. era um homem de 49 anos que, em 1975, acreditava estar vivendo na Segunda Guerra Mundial. Quando se olhava no espelho, Jimmie ficava chocado com a própria aparência, e achava até que a consulta com o neurologista não passava de uma pegadinha. 

A inglesa Michelle Philpots, que abre a matéria, também é um caso interessante – tanto que inspirou o filme Como se Fosse a Primeira Vez. Em 1985, ela sofreu um acidente de moto e, dois anos depois, foi vítima de uma batida de carro. Como resultado, Philpots desenvolveu epilepsia, teve uma série de derrames que danificaram seu hipocampo e, consequentemente, perdeu a capacidade de armazenar a memória recente. Ela passou a ser incapaz de reter as memórias adquiridas durante o dia – assim como Lucy, personagem interpretada por Drew Barrimore no filme, suas novas memórias eram apagadas durante o sono. Todos os dias, pela manhã, seu marido precisava provar que os dois eram casados mostrando as fotos do casamento. 

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