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“Ensinar” adolescentes a beber em casa estimula o alcoolismo

Não existem razões científicas para deixar seu filho dar uns golinhos para aprender a beber com responsabilidade

Por Pâmela Carbonari Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 29 jan 2018, 19h31 - Publicado em 29 jan 2018, 19h27

Muitos pais acham que servir uma taça de vinho no jantar ou dar um gole de cerveja no churrasco para os filhos ajuda os adolescentes a aprenderem a beber com responsabilidade. Ledo engano. A intenção de que os jovens não encham a cara na primeira oportunidade que tiverem acesso a bebida longe dos pais pode até ser boa, mas cientificamente não se justifica. Inclusive, a prática estimula o consumo de bebida.

Um estudo australiano realizado ao longo de seis anos comprovou que pais que deixam seus filhos tomarem quantidades limitadas de álcool acabam estimulando os jovens a beberem muito em curtos períodos de tempo (o chamado binge drinking), abusarem da bebida e a terem outros problemas relacionados à ingestão de álcool. Os cientistas envolvidos na pesquisa defendem que os pais que permitem doses esporádicas aos filhos com o intuito de protege-los estão, na verdade, dando permissão para que as crianças bebam.

A pesquisa foi publicada no periódico científico The Lancet. Para chegar a essas conclusões, a equipe da University of New South Wales, na Austrália, liderada pelo pesquisador de drogas e álcool, Richard Mattick, acompanhou o comportamento de 1.900 pais e crianças do 7º ano (em média 12 anos de idade) de três escolas australianas em relação ao álcool. Os pesquisadores se concentraram na exposição dos adolescentes à bebida e na oferta de álcool feita pelos pais, realizando questionários todos os anos. O time de Mattick analisou a evolução dos comportamentos até que as crianças completassem 18 anos.

No início, apenas 15% dos adolescentes (na época com 12 para 13 anos) bebia em casa com a permissão dos pais. Ao final dos seis anos de experimento, 57% dos estudantes (já com 17 para 18 anos) tinha a família como fonte de acesso à bebida. No período, a proporção de jovens que não bebia diminuiu de 2 a cada dez jovens para 8 a cada dezena.

Os pesquisadores também perceberam que os adolescentes que “aprenderam a beber” em casa com o passar demonstraram mais propensão a beber grandes quantidades de álcool em curtos períodos de tempo, mais danos causados pelo álcool e passaram por mais experiências que demonstram abuso de bebida, como terem se metido em problemas ou dificuldade em lembrar das coisas. Em média, 62% dos adolescentes que não bebiam com os pais tomavam quatro ou mais doses em um mesmo evento. No grupo que “aprendeu” a beber com os pais, o número de jovens que bebem continuamente em uma mesma ocasião foi de 82%. Além disso, quem teve o aval da família para dar uns golinhos esporádicos dentro de casa teve duas vezes mais chances de ter acesso a bebida de outras fontes no ano seguinte.

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Esse é o primeiro estudo a analisar a longo prazo o que o drinque ocasional que os pais dão aos filhos representa e também foi pioneiro ao comparar os riscos dessa prática aos efeitos sofridos por jovens cujas famílias não oferecem álcool. A equipe de Mattick defende que os resultados da pesquisa reforçam a ideia de que os pais não devem dar bebida aos filhos e que o consumo de álcool causa danos, não importando a forma como a bebida é oferecida aos jovens.

“Enquanto os governos se concentram na prevenção nas escolas e na aplicação de legislações de idade legal para comprar e beber álcool, os pais passam em grande parte despercebidos. Pais, legisladores e médicos precisam ter consciência de que o fato da família oferecer álcool aos adolescentes está associado ao risco, e não à proteção”, disse o professor e autor da pesquisa, Richard Mattick.

Fica o alerta aos pais: enquanto se é adolescente, beber com responsabilidade é não beber.  Mesmo que a comemoração seja digna de um brinde, melhor compartilhá-lo com seus filhos só quando eles tiverem idade suficiente pra isso.

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