Denis Russo Burgierman, diretor de redação
Você já reparou que o debate público sobre quase tudo está dominado por raiva, resmungos e ressentimentos? Qualquer que seja o assunto, a conversa acaba dividida em duas, com cada um dos lados se achando puro e perfeito e acreditando que os adversários são energúmenos. Legalização X proibição, esquerda X direita, mercado X estado, PT X PSDB, desenvolvimento X preservação, liberdade X igualdade, carro X bicicleta, segurança X abertura, feminino X masculino. E aí a conversa é sequestrada por um bando raivoso, blogueiros furibundos, colunistas sarcásticos, comentaristas online de boca suja, piti, mimimi, nhenhenhém.
Não é difícil de entender de onde vem tanta angústia. Tudo está em crise. As cidades estão travadas, entupidas de trânsito, fumaça e violência. A educação perdeu o sentido, alunos desinteressados, o conteúdo desconectado da vida, a formação que não prepara para o mundo de hoje. A política nem precisa dizer, alheia ao interesse público, partidos iguais uns aos outros, mais preocupados com seus projetos de poder do que com o país. O nosso modelo de produção está numa crise desgraçada – de um lado, matérias-primas se esgotando, do outro, lixo se acumulando no solo e gás carbônico se acumulando no ar. Crise, crise, crise por todo lado.
No meio de tanta crise, é tentador sentar num canto e ficar lá rabugento, vociferando contra a imbecilidade alheia. Mas é inútil. Resmungar nunca resolveu problema algum. A SUPER não cai nessa. Esta aqui é uma revista sobre ideias e a verdade inescapável é que nunca antes na história da humanidade precisamos tanto de boas ideias – o que talvez ajude a entender por que a SUPER está crescendo tanto, mesmo com as crises.
Crises são oportunidades, e a frase é tão clichê que fico até envergonhado de escrevê-la. Claro que, no meio da turbulência, com gente a nossa volta perdendo emprego, com o trânsito parado, com o trabalho e a escola infernizando nossa vida, com ecossistemas desaparecendo e políticos forrando a cueca de grana, é difícil enxergar algo positivo. Mas a verdade é que viver nos dias de hoje é um privilégio. Temos a honra de estar num momento histórico de transformação, e cabe a nós formular e conduzir a transição. Enfim, não são tempos sombrios. Vivemos a era de ouro das ideias, e por isso inventamos, nas comemorações do nosso 26o aniversário, esta Edição Dourada, com 111 ideias que podem mudar o mundo.
A primeira delas está aqui: “vamos valorizar as ideias”. Chega de mimimi. Chega de nhenhenhém. Ignore os blogueiros que babam de raiva. Finja que não ouve os impropérios de internet, tão ressentidos e paralizadores. Viva a crise! É hora de falar de ideias. É hora de soltá-las no mundo, para que elas transformem nossa vida.