Jogando através da história
Jogos dos deuses - livro de Nigel Pennick, Editora Mercuryo Ltda., São Paulo, 1992.
Os jogos e a arte divinatória têm alguns capítulos de história co¬mum, pois muitos deles, em sua origem, eram usados como ins¬trumentos de práticas esotéricas, principalmente como oráculos para a previsão do futuro. Especu¬la-se, por exemplo, que as cartas de jogar tenham evoluído a partir de antigos rituais de lançamento de fle¬chas, bastões e varetas praticados em primitivas comunidades orientais. Igual¬mente, nossos prosaicos dados derivam dos ancestrais astrágalos – ossos do tarso de alguns animais que, graças ao seu formato aproximadamente cúbico, eram bons elemen¬tos para gerar resultados aleatórios.
O livro de Nigel Pennick é um passeio descritivo pelas formas como os jogos de adivinhação se manifestavam, suas técnicas, rituais e utilizações. Aborda, dentre outros temas, a geomancia, o I Ching e as runas – tão em moda atualmente. Mas o foco se dirige para os jogos de tabuleiro, que servem, ou deveriam servir, como exemplos típicos do as¬sunto que pretende investigar. A perspectiva de Pennick, porém, é abertamente ocultista, não científica. Isso certamente toma penosa a primeira metade do livro para a maioria dos leitores de SUPERINTERESSAN¬ TE. Na segunda parte, mais especifica¬mente voltada aos jogos de tabuleiro, há um certo abrandamento do tom esotérico em benefício de uma me¬lhor atenção histórica. Muitas informações excêntricas sobre o moinho (ou trilha), xadrez, damas, raposa e gan¬sos, surakarta, gala e outros tornam divertida a leitura para aqueles que se interessam pelo jogo.
Um aviso é necessário: Jogos dos deuses não é um manual de regras. Apesar de descrever vários tabuleiros e movimentos particulares de peças, as instruções são insuficientes para se aprender a jogar qualquer um deles.