Memórias falsas podem ser implantadas na maioria das pessoas
E não precisa de máquina, computador ou lavagem cerebral: as lembranças de mentira podem ser implantadas só na base da lábia
O implante de memórias parece algo saído de um filme de ficção científica. Mas fique sabendo que isso é possível, ainda que não seja tão simples quanto em Inception, Blade Runner, Westworld ou Matrix: um time de pesquisadores da Universidade de Warwick descobriu que convencer uma pessoa de que um evento qualquer realmente aconteceu é fácil – preocupantemente fácil: mais da metade das pessoas está vulnerável aos “implantes” de memórias.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas tentaram criar lembranças falsas em 423 pessoas. O experimento foi simples: os participantes da pesquisa eram confrontados com várias histórias reais da própria infância, contadas por familiares de verdade, só que, entre diversas recordações verdadeiras, uma era mentira, inventada pelos pesquisadores – coisas como uma viagem de balão ou um tropeço em um casamento da família. Daí, os participantes foram encorajados a relembrar e narrar com as próprias palavras todos os eventos, tanto os verdadeiros quanto o falso.
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Os autores do estudo criaram uma escala para medir o quanto as recordações falsas estavam sendo absorvidas pelos participantes, com níveis que iam desde a rejeição da sugestão até a elaboração de sentimentos ao experimentar a lembrança falsa – passando pela criação de imagens da memória fabricada e pela aceitação da sugestão como verdade por ter vindo de parentes.
No total, 30,4% dos participantes desenvolveram essas recordações inventadas. Ou seja, foram capazes de, realmente, lembrar dos eventos falsos e sentir emoções vindas dessas lembranças. Além disso, 23% acreditaram, sem questionar, que o evento tinha acontecido, mesmo que eles mesmos não se lembrassem disso. Isso quer dizer que mais da metade (53,4%) das pessoas que participaram do estudo tiveram memórias falsas implantadas com sucesso – e sem precisar de nenhum tipo de computador ou simulação virtual, já que os cientistas não fizeram nada mais do que contar mentiras.
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Isso é muito sério. Se é possível alterar a memória de qualquer pessoa (ou pelo menos de metade delas), testemunhas de crimes, por exemplo, também são vulneráveis a isso. Ou, se a gente pensar na grande mídia, dá para fazer com que ao menos 50% da população acredite que um evento político falso realmente aconteceu. E se formos mais a fundo no “isso é mó Black Mirror” da coisa, vamos começar a questionar nossa própria subjetividade – afinal, o que sou “eu” senão um aglomerado de memórias e sentimentos?