Gustavo Torres
Erro – Fazer uso de uma arma que mata civis indistintamente e continua fazendo vítimas mesmo depois que a guerra termina.
Quem – Exércitos e grupos armados do mundo todo.
Quando – Desde a Guerra Civil americana, em meados do século 19.
Consequências – Milhares de inocentes mortos ou amputados a cada ano, com elevado percentual de crianças vitimadas.
As colinas de Golã, território em disputa na fronteira entre Israel e Síria, têm paisagens verdes e floridas no verão, mas cobertas de neve no inverno. Faça frio ou calor, atraem milhares de turistas em busca trilhas, cachoeiras e estações de esqui. Caso você decida ir para lá qualquer dia, aqui vai um conselho: nem pense em se aventurar por caminhos que não sejam demarcados pelas autoridades israelenses. A região está coalhada de minas terrestres.
Os artefatos são herança da Guerra dos Seis Dias, travada em 1967. O conflito terminou com a anexação das colinas por parte de Israel, mas não sem que a Síria minasse boa parte do território. O armistício obrigou os sírios a entregar o mapa das minas. Assim começou um trabalho de remoção que já dura 40 anos – e ainda está longe de acabar. Os campos minados estão identificados e isolados, mas acidentes ocorrem mesmo assim. Em 2010, um garoto teve a perna amputada depois de pisar numa mina enquanto brincava na neve.
Minas terrestres são um enorme problema porque, estejam onde estiver, matam soldados e civis indistintamente, ao contrário de uma facada, uma rajada de metralhadora ou um míssil disparado contra o inimigo. E o pior: a guerra termina, mas o campo minado continua lá, matando ou dilacerando inocentes por décadas a fio.
Tragédia angolana
O caso de Angola, na África, é um dos mais trágicos. Quase 10 anos depois de encerrada a guerra civil (1977-2002), restam por lá, no mínimo, 5 milhões de artefatos não detonados. Mas a situação pode ser bem pior, pois existem cálculos bem mais pessimistas. Como a da Cruz Vermelha, que estima em 15 milhões esse número. Campos minados correspondem a aproximadamente 8% da superfície angolana – uma área ocupada por aproximadamente 2,4 milhões de pessoas. O resultado é óbvio: civis correspondem a quase 100% das vítimas.
Estima-se que perto de 60 mil cidadãos angolanos tenham algum membro amputado por causa das minas terrestres – 13% são crianças. A ONU acredita que a remoção total das minas em Angola pode levar ainda meio século. O custo é o maior empecilho (leia no quadro ao lado), seguido pelo alto risco que a operação representa quando não há orçamento para o uso de robôs.
Em 1997, após intensa campanha de ONGs, 122 países assinaram uma convenção para o banimento das minas. Hoje são 157 signatários, mas o chamado Tratado de Ottawa ainda está longe de atingir plenamente seus objetivos. Vários países-membros do Conselho de Segurança da ONU não firmaram o acordo e ainda há dezenas de fabricantes da arma no mundo.
Barato que sai caro
• Minas terrestres são armas baratas, eficientes e de fácil fabricação. Mas sai muito caro removê-las do solo após o fim da guerra. Enquanto o custo de produção varia de 3 a 10 dólares a unidade, desarmar e remover um único artefato pode custar até mil vezes mais.
Modelos básicos
Mina tipo blast: É a mina terrestre mais comum, enterrada a poucos centímetros do solo. Explode no chão, quando alguém pisa no prato de pressão e aciona involuntariamente o detonador. A carga explosiva contida nesses artefatos é pequena, suficiente apenas para dilacerar um pé ou arrancar uma perna da vítima e tirá-la do combate.
Mina tipo bounding: Também é enterrada, mas seu disparador fica para fora do solo. O acionamento ocorre quando alguém, sem querer, pressiona um arame preso ao disparador e esticado rente ao solo. A mina lança uma carga propelente a cerca de um metro de altura, que explode e arremessa fragmentos contra a cabeça e o peito da vítima.
Fonte: Como as Coisas Funcionam.
Números explosivos
• Há aproximadamente 110 milhões de minas terrestres espalhadas em 64 países ao redor do mundo.
• A arma ainda é produzida – em 340 modelos diferentes – por 48 fabricantes.
• Calcula-se em pelo menos 20 mil as mortes anuais provocadas pelas minas.
Fonte: Departamento de Defesa do governo americano.
Agente laranja
Arma química usada na Guerra do Vietnã continua fazendo vítimas 30 anos depois de encerrado o conflito
Ser uma arma cruel e traiçoeira, que não distingue alvo militar de civil e continua matando por décadas, não é uma exclusividade das minas terrestres. O agente laranja, fartamente utilizado pelos americanos na Guerra do Vietnã (1955-1975), também preenche esses requisitos. Desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos EUA, o herbicida era lançado de avião ou helicóptero sobre as matas e florestas vietnamitas, para desfolhar a vegetação e revelar mais facilmente a posição dos inimigos vietcongues. Estima-se que tenham sido despejados sobre o Vietnã de 80 milhões a 100 milhões de litros da substância entre 1964 e o fim do conflito. O solo, a água e milhares de pessoas entre militares e civis foram mortalmente contaminados.
“O agente laranja fez uma vítima em cada mil habitantes, e muitos já morreram”, diz o professor vietnamita Hoang Dinh Câu, que investiga os efeitos do herbicida no homem e na natureza. O maior problema, no entanto, é que a contaminação segue produzindo vítimas geração após geração, agora sob a forma de doenças neurológicas graves, diferentes tipos de câncer e malformação de recém-nascidos. Mais de 30 anos depois de terminada a guerra, a Cruz Vermelha Internacional estima em 1 milhão o número de vietnamitas afetados.