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Montanhas de fogo

As erupções vulcânicas fascinam e assustam. Já arrasaram cidades, causaram tragédias de arrepiar. Mas fertilizam o solo e esculpem o relevo. Mostram que a Terra é um planeta vivo.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 31 jan 1998, 22h00

Regina Célia Pereira

É difícil existir, na face da Terra, um espetáculo mais deslumbrante do que um vulcão soltando imensas fagulhas no breu da noite. Parece uma gigantesca festa de Ano Novo. Só que, em vez de fogos de artifício, o que sai da cratera são toneladas e mais toneladas de lava, a rocha derretida expelida das entranhas do planeta, misturada com cinza, poeira e gases.

É difícil, também, uma catástrofe mais assustadora. Desde a Antigüidade, as erupções vulcânicas sempre inspiraram um misto de fascínio e terror. Cidades inteiras já foram destruídas pela fúria que emana das profundezas – de Pompéia, cidade italiana soterrada por uma erupção do Vesúvio no ano 79, a Saint-Pierre, capital da Martinica, destruída em 1902 por uma avalanche de lava que só poupou dois dos 29 000 habitantes.

As tragédias provocadas por vulcões pontuam a trajetória de muitos povos. Mesmo assim, a humanidade insiste em viver ao lado das montanhas de fogo. Será que é por causa de sua beleza? Ou porque elas tornam mais férteis o solo ao seu redor?

Vizinhos temíveis e generosos

Um em cada doze habitantes do planeta mora em regiões com risco de erupções vulcânicas. São 500 milhões de pessoas, a maioria delas no Círculo do Fogo, um anel ao redor do Pacífico onde se concentram 80% dos 550 vulcões ativos da superfície terrestre (veja mapa na página 30). Outros 1 000 vulcões já foram localizados no fundo dos oceanos.

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Muitos mitos foram construídos para explicar a fumaça e a lava que emanam das entranhas da terra. Para os antigos gregos, o vulcão Etna, na Sicília, abrigava as oficinas onde o deus Hefesto forjava os famosos raios de Zeus, a divindade suprema do Olimpo. Hefesto em latim virou Vulcano – vem daí o nome. Na Europa medieval, as crateras eram vistas como o respiradouro do Inferno.

O terror que os vulcões inspiram nunca foi suficiente para dissuadir os seres humanos de se instalar na sua vizinhança. “O solo é muito fértil nos arredores dos vulcões”, explicou à SUPER a vulcanóloga brasileira Rosaly Lopes-Gautier, do Laboratório de Jato-Propulsão da Nasa, em Pasadena, na Califórnia (leia entrevista na pág. 40). O crescimento populacional nas zonas de atividade vulcânica torna mais perigosas as erupções.

Hoje os cientistas já sabem que os vulcões, assim como os terremotos, são o produto do movimento das placas tectônicas, os blocos de rocha que flutuam sobre o material viscoso do subsolo. Nesta reportagem, você saberá como isso acontece.

Galunggung (indonésia)

Em 1822, matou 4 000 pessoas. Voltou à ativa em 1982, forçando a retirada de 75 000 moradores da região

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Unzen (Japão)

Uma aldeã, escoltada por um caminhão de bombeiros, é a última a fugir da nuvem de lava, gases e cinza que desce do vulcão, na ilha de Kyushu. A erupção, em junho de 1991, deixou 36 mortos

 

Kilauea (Havaí, EUA)

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A lava jorra por dezenas de crateras, a uma temperatura de 1 250 graus Celsius

 

soufrière (Montserrat)

A erupção na ilha caribenha, em 1997, gerou um cogumelo que lembra uma explosão atômica

Uma janela para o miolo do planeta

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O vulcão é o único lugar onde as camadas subterrâneas do planeta entram em contato, sem intermediários, com a superfície em que vivemos. Aqui em cima, as rochas são sólidas e a temperatura raramente ultrapassa os 40 graus. Lá embaixo, reina um calor de mais de 1 000 graus e as rochas incandescentes fluem como asfalto derretido. Quando o mundo escondido embaixo da crosta terrestre irrompe na nossa paisagem, na forma de um derramamento de magma, o resultado só poderia ser um cataclismo.

A maioria das erupções tem origem no movimento das placas sobre as quais estão assentados os continentes e os oceanos. As exceções ficam por conta dos chamados vulcões intraplacas, como os da África e os do Havaí. No fundo do Pacífico, as placas estão afundando lentamente para baixo das placas continentais. Você não precisa se preocupar, porque uma nova placa vai surgindo o tempo todo a partir das erupções submarinas, no meio dos oceanos.

Ao afundarem, as placas se derretem parcialmente, adicionando novas quantidades de rocha derretida, ou magma, na camada que vem logo abaixo da crosta, o manto superior. Uma parte do magma sobe para a superfície, como bolhas de ar num mingau fervente, e se acumula numa caverna subterrânea, as câmaras magmáticas. Quando o magma entra em contato com lençóis de água, gera vapor que impulsiona a mistura escaldante para cima. A pressão dentro dessas câmaras vai crescendo, crescendo, até o ponto em que o magma se liberta, sobe e irrompe na superfície, onde passa a se chamar lava. Assim nasce um vulcão.

O desafio de antecipar as erupções

Poucas coisas na natureza podem ser mais enganadoras do que um vulcão que se supõe extinto. Um belo dia, ele decide retomar a atividade – e pega de surpresa os que moram perto daquela montanha de aparência pacata. Foi o que aconteceu com o Arenal, na Costa Rica. Depois de 600 anos quieto, o vulcão despertou em 1968, com espantosa violência, matando 80 pessoas.

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O maior desafio dos vulcanólogos é o de prever as erupções com antecedência. Às vezes, dá certo. Em 1991, nas Filipinas, os cientistas conseguiram antecipar não apenas a data da erupção do Pinatubo, mas também a direção da lava e das cinzas expelidas pelo vulcão. Nesse trabalho, é preciso coragem. Muitos já perderam a vida ao bisbilhotar os segredos de um vulcão. No dia 14 de janeiro de 1993, o americano Stanley Williams levou um grupo de 12 cientistas ao pico do vulcão Galeras, na Colômbia, quando, de repente, ele entrou em erupção. A explosão matou seis integrantes do grupo e três turistas que passeavam por ali. Williams sobreviveu por pouco, com ferimentos graves.

Nem a bravura nem a tecnologia são suficientes para zerar a margem de erro dos vulcanólogos. Em 1976, uma série de tremores sugeria uma erupção na ilha caribenha de Guadalupe. Temendo uma tragédia, as autoridades retiraram 75 000 pessoas que moravam perto do vulcão. Toda a vida econômica na ilha foi interrompida, com enormes prejuízos, mas o cataclismo não ocorreu. Era alarme falso.

Quando a previsão faz a diferença

Gerações de camponeses viveram nas encostas do Pinatubo, nas Filipinas, sem desconfiar do perigo. Durante seis séculos, o vulcão não deu o menor sinal de atividade. Em abril de 1991, os aldeões notaram um cheiro esquisito se espalhar do cume da montanha, acompanhado por pequenas explosões. A notícia chegou aos vulcanólogos da Universidade de Manila, a capital do país. Uma equipe analisou os gases, auscultou a montanha com aparelhos e concluiu que o magma estava subindo. Uma grande erupção estava a caminho. No dia 15 de junho o Pinatubo explodiu, e com uma violência inusitada. As cinzas chegaram à estratosfera e se espalharam por todo o planeta. Mas a tragédia foi evitada. A população foi retirada a tempo.

A mesma sorte não tiveram os habitantes dos arredores do Nevado del Ruiz, na Colômbia, que entrou em erupção em 1985. Lá, também, uma equipe de especialistas monitorava o vulcão, que começara a fumegar no ano anterior. Com dois meses de antecedência, os vulcanólogos alertaram para a explosão iminente. O maior perigo, assinalaram, não era a erupção em si, mas a avalanche de lama que poderia se desencadear quando o calor derretesse as neves eternas acumuladas ao redor da cratera. As autoridades se omitiram. Enquanto a tragédia se gestava, os homens do poder discutiam se a evacuação era tarefa municipal, estadual ou federal. Na noite de 13 de novembro, o pesadelo antecipado pelos cientistas se concretizou. Um maremoto de lama, com 3 metros e meio de altura, soterrou completamente o vale onde se situava a cidade de Armero. Surpreendidos em pleno sono, os moradores não conseguiram sair de suas casas. No total, 23 000 pessoas morreram naquela noite – 95% dos habitantes da cidade.

Chuva de cinzas

O Pinatubo criou uma paisagem fantasmagórica ao seu redor, mas a população escapou

 

Tragédia anunciada

O governo colombiano sabia da iminente erupção do Nevado del Ruiz, mas cruzou os braços. Resultado: 23 000 mortos

 

Domando o Etna

Na Itália, uma operação de guerra desviou as lavas expelidas pelo vulcão

O terrível destino de Pompéia

Era 1 hora da tarde de 24 de agosto do ano 79, um dia como qualquer outro em Pompéia, importante cidade romana, na baía de Nápoles. O mercado fervilhava de gente. Os camponeses trabalhavam nas plantações. Ao fundo, uma grande montanha, coberta de pinheiros. De repente, aquela montanha bucólica, o Vesúvio, emitiu um estrondo ensurdecedor. Uma coluna de cinza quente se elevou a 20 quilômetros de altura. Uma tempestade de lava, cinza e pedra-pomes (rocha vulcânica espumosa) desabou sobre Pompéia e a vizinha cidade de Herculano, soterrando tudo. Quem tentou fugir, foi alcançado nas estradas pelo bombardeio de pedras incandescentes. Quem correu para dentro de casa, morreu sufocado pelas cinzas. No dia seguinte, aconteceu uma nova erupção, ainda mais violenta. Ao final, Pompéia e Herculano haviam desaparecido, cobertas por seis metros de lava e cinzas.

A tragédia foi rapidamente esquecida e Pompéia ficou 1 700 anos debaixo da terra. Somente em 1748, quando o arquiteto italiano Domenico Fontana quis construir um aqueduto em Nápoles, é que foram descobertas as ruínas. Hoje a cidade desenterrada é uma das principais atrações turísticas da Itália. O Vesúvio dorme, mas os vulcanólogos estão preocupados com ele. A partir de análises das erupções anteriores, eles acreditam que o vulcão, quando despertar, poderá destruir uma área onde vive 1,5 milhão de habitantes.

Cidade fantasma

As ruínas de Pompéia permitiram reconstituir a vida cotidiana dos antigos romanos

 

Estátuas de cinza

Os corpos dos mortos em Pompéia formaram moldes, que mais tarde foram preenchidos com gesso

 

Só as torres

Isso foi tudo o que sobrou de Piricutín, México, quando emergiu um novo vulcão, em 1943

Uma fonte de energia e fertilidade

Diante de todos os horrores causados pelos vulcões, torna-se difícil perceber que eles, como quase tudo no mundo, também têm o seu lado bom. Sem as erupções, que trouxeram das profundezas do solo gigantescas quantidades de gás carbônico, essencial à vida, a atmosfera não teria se formado, milhões de anos atrás. Ainda hoje, os gases expelidos pelos vulcões ajudam a proteger o planeta da radiação do Sol e a manter o calor na sua superfície.

Nem todos os fenômenos vulcânicos são destrutivos. Depois de uma erupção, o solo se torna mais fértil. As cinzas e a lava que saem das crateras trazem substâncias que servem como adubo. Na ilha de Java, na Indonésia, o solo vulcânico propiciou a formação de imensos arrozais, que alimentam uma população enorme. Do outro lado do mar está a ilha de Kalimantan (parte do Bornéu), com clima parecido, mas sem vulcões. O solo de Kalimantan é pobre e sua população, menor.

Os vulcões também ajudam a desenhar o mapa-múndi. O Havaí, por exemplo, está em constante crescimento, graças à lava expelida pelos seus numerosos vulcões. Boa parte das ilhas que você conhece não passam de vulcões aposentados. A Islândia é a parte visível de uma cordilheira vulcânica submarina. Lá existem mais de 200 vulcões, a maioria deles ativos.

“Outro ponto positivo dos vulcões é a energia que eles trazem de dentro da Terra”, afirma Marta Mantovani, geofísica da Universidade de São Paulo. Ela trabalhou em projetos de aproveitamento da energia geotérmica na Islândia e nas Filipinas. Lá, o calor de origem vulcânica é usado para o aquecimento de casas e a geração de eletricidade. Os vulcões produzem uma energia barata e inesgotável. A desvantagem é que, a qualquer momento, algum deles pode resolver despertar.

Erupções históricas

Os vulcões já mataram mais de 250 000 pessoas desde o início do século passado. As erupções mais importantes foram as seguintes:

 

1815: Tambora (Indonésia).

Foi a maior erupção registrada pela História. O barulho se fez ouvir a 1 600 quilômetros de distância e os detritos lançados na atmosfera reduziram a temperatura no mundo inteiro. Dez mil pessoas morreram na hora e outras 82 000 nas semanas seguintes, de fome.

 

1883: Krakatoa (Indonésia).

Uma ilha inteira desapareceu com a explosão, seguida por nove ondas gigantescas (tsunamis), que devastaram 300 cidades e aldeias, causando 36 000 mortes. Em 1941, um novo vulcão se formou na antiga cratera: o Anak-Krakatoa, que em javanês quer dizer “o filho do Krakatoa”.

 

1902: Pelée (Martinica).

O vulcão destruiu Saint-Pierre, a capital, matando todos os seus 29 000 habitantes com exceção de dois, que sobreviveram (veja texto na página 45).

 

1912: Katmai (Alasca).

A maior erupção do século XX quase não causou vítimas, por ter ocorrido numa região deserta. O vulcão, que tinha 2 300 metros de altura, ficou reduzido a uma caldeira no nível do chão, com 5 quilômetros de diâmetro.

 

1914: Sakurajima (Japão).

A quantidade de lava foi tão grande que ligou a ilha onde está situado o vulcão à parte principal do território japonês, formando uma península. Uma série de terremotos alertou para a iminente explosão. Assim, os 20 000 habitantes puderam ser retirados a tempo.

 

1931: Meruti (Indonésia).

Uma avalanche de lama sepultou 104 aldeias, matando 5 110 pessoas.

 

1951: Lamington (Nova Guiné).

A nuvem de poeira gerada pela explosão atingiu 12 quilômetros de altura, enquanto uma maré de lava devastava uma área de 230 quilômetros quadrados. Mortos: 3 000.

 

1977: Nyiragongo (Zaire, atual Congo).

A lava fluida ficou borbulhando na cratera durante décadas, até que, de repente, se abriu uma fissura no vulcão. A avalanche de lava provocou 1 200 mortes.

 

1980: Saint Helens (EUA).

A explosão já era prevista pelos sismólogos, mas ninguém imaginava que fosse tão violenta. Todo o cume da montanha desapareceu. Foram devastados 500 quilômetros quadrados de florestas, matando 500 veados, 1 500 alces e 200 ursos, além de 60 pessoas.

 

1982: El Chichón (México).

Três explosões sucessivas lançaram 500 milhões de toneladas de cinzas na atmosfera e provocaram 3 500 mortes.

 

1985: Nevado del Ruiz (Colômbia).

O calor da erupção derreteu as neves no cume do vulcão, provocando uma avalanche que matou 23 000 pessoas (veja texto na página 42).

 

1986: Lago Nios (Camarões).

A erupção se limitou à descarga de um gás altamente venenoso, que causou 1 500 mortes.

A cebola global

Conheça as camadas que compõem a Terra

A Terra é formada por camadas, como uma cebola. O núcleo, sólido, fica a 6 000 quilômetros da superfície. Lá, a temperatura é de 6 600 graus Celsius. Acima dele vem o manto, que se divide numa parte superior e outra inferior e ocupa 85% do volume total. A espessura da crosta, onde vivemos, varia de 5 quilômetros, no fundo dos oceanos, a 64 quilômetros, ao pé das cordilheiras.

 

Como se forma a lava

A lava que sai pela cratera de um vulcão se origina de um reservatório de magma, ou rocha derretida, nas profundezas da Terra. Em certas circunstâncias, enormes bolhas de magma se desprendem do manto e sobem para a crosta, derretendo mais rochas pelo caminho. Na maioria das vezes, esse magma esfria e estaciona antes de chegar à superfície, formando blocos de pedra. Quando o magma é especialmente quente, ou forte o bastante para abrir caminho até a superfície, nasce um vulcão. O magma, então, passa a ser chamado de lava.

 

Bolhas incandescentes

A maioria dos vulcões se situa nas chamadas zonas de subducção. Uma placa oceânica afunda lentamente embaixo de um placa continental. As rochas que a compõem se derretem com o calor, formando bolhas de lava que sobem para a superfície.

Chaminés para todos os gostos

Conheça os quatro principais tipos de erupção

Ao contrário do que pode parecer, o que define o vulcão não é a típica montanha em formato de cone, como o Monte Fuji, cartão postal do Japão. Basta um buraco, ou chaminé, pelo qual se expele lava, fumaça ou cinzas – ou tudo isso junto. A montanha vem depois. Ela cresce com as camadas de lava que se acumulam a cada erupção.

Na maioria dos casos, as erupções vulcânicas oferecem pouco ou nenhum perigo. A diferença entre elas depende da composição química da lava. É como se um cozinheiro preparasse diversos pratos com os mesmos ingredientes, misturados em doses diferentes.

O que determina o tipo de erupção é a viscosidade da lava. Quanto mais líquida, menos perigosa.

O fator decisivo é uma substância chamada sílica, presente no basalto que compõe o subsolo do planeta. Com mais de 70% de sílica na mistura, a lava é pastosa, quase sólida, gerando erupções mais explosivas. Na medida em que diminui a quantidade de sílica, a lava se torna mais fluida.

Os vulcanólogos classificam as erupções em quatro tipos principais, que você pode ver nestas duas páginas.

 

Como um relógio

Stromboliana

As erupções de cinza, lava e vapor se alternam com períodos de calmaria, num ciclo que funciona com a regularidade de um relógio. A poeira e lava solidificada se espalham pela montanha, como chuvisco. É o cenário do vulcão Stromboli, na Sicília. Na foto, o Nyamulagira, no Congo (ex-Zaire), em sua erupção de agosto de 1993.

 

Nuvem de pó

Pliniana

O nome vem de Plínio, o Jovem, escritor romano que descreveu a erupção do Vesúvio, que aniquilou Pompéia, no ano 79. Nesse tipo de erupção, forma-se uma nuvem gigantesca de cinza, vapor, lava e pedregulhos, que pode alcançar até 15 quilômetros de altura. É o que se vê na foto do Mayon, nas Filipinas, cuja erupção, em 1984, destruiu muitas aldeias.

 

Fontes de lava

Havaiana

A lava, extremamente líquida, jorra de fissuras espalhadas pelas encostas, como nos vulcões do Havaí. O Mauna Loa (foto), um dos mais importantes, entra em erupção a cada três ou quatro anos. Em vez de sair pela cratera principal, a lava irrompe por uma fileira de chaminés, em jatos de 30 metros de altura. É como um conjunto de fontes luminosas, com lava em lugar de água. Os turistas adoram.

 

Avalanche de fogo

Peleana

É o tipo mais perigoso de erupção. Quando se formam obstáculos na saída da chaminé, a lava desliza pela encosta do vulcão, destruindo tudo o que existe pelo caminho. Foi o que ocorreu em Saint-Pierre, na Martinica, aniquilada em 1902 pelo vulcão Pelée, que deu origem à palavra peleana. Na foto, o vulcão norte-americano Saint Helens.

A brasileira que adora vulcões

Carioca, 41 anos, Rosaly Lopes-Gautier faz parte da equipe de vulcanólogos do Laboratório de Jato-Propulsão da Nasa, em Pasadena, na Califórnia.Sua paixão pelos vulcões é, literalmente, uma coisa de outro mundo. Ela se apaixonou pelo assunto quando, no curso de Astronomia, em Londres, estudava a geologia do Sistema Solar e descobriu os vulcões de Marte. “Meu supervisor disse que, para eu entender vulcões em outros planetas, tinha que estudar os vulcões da Terra.”

 

SUPER – O que faz um vulcanólogo?

Nosso objetivo é compreender a atividade dos vulcões. Quanto mais se sabe sobre as suas erupções, mais fácil se torna a previsão. Como nem todo mundo pode morar longe dos vulcões ativos, a segurança de milhões de pessoas depende da nossa capacidade de prever a atividade vulcânica. Já tivemos sucesso nas Filipinas, com o Pinatubo, e com vários vulcões do Havaí. Muitas vidas foram salvas graças aos nossos conhecimentos. Mas ainda temos muito o que aprender.

SUPER – Quantos vulcões você já visitou?

Já visitei uns 30 vulcões ativos. Assisti a erupções no Kilauea (Havaí), Etna (Itália), Stromboli (Itália) e na ilha de Montserrat.

SUPER – Que tipo de trabalho foi feito nas suas visitas?

Eu pesquiso a física dos vulcões e das erupções. Uso modelos físicos que ligam a forma do vulcão, ou do rio de lava formado depois de uma erupção, com a composição da lava. Depois, eu aplico esses modelos a outros planetas. Por exemplo, sabemos que a corrente de lava na Terra tende a ser mais longa se a lava sai do vulcão muito depressa. Se a lava sai aos pouquinhos, a tendência é não atingir grande comprimento e se espalhar mais lateralmente. Se observamos correntes de lava já frias, em outros planetas, podemos dizer se a lava saiu mais devagar ou mais depressa. Quando vou a vulcões, aqui na Terra, é claro, tomo medidas da espessura e do comprimento das lavas. Se o vulcão está em erupção, tento medir a velocidade da lava e analisar como o rio de lava está se desenvolvendo.

SUPER – Qual é o vulcão mais fascinante do mundo?

É difícil escolher, porque há muitos tipos diferentes de vulcões. Meu favorito é o Etna. Foi o primeiro que visitei e me ensinou muitas coisas. Outro favorito é o Vesúvio, por causa de sua longa e fascinante história, incluindo a erupção catastrófica do ano 79, que destruiu Pompéia.

SUPER – Os vulcões também podem ser benéficos para a humanidade?

Sim. Os vulcões criam território, às vezes ilhas inteiras. O Havaí, a Islândia e muitas outras ilhas foram criados por erupções. O solo ao redor dos vulcões é muito fértil, pois a cinza funciona como adubo. Eles também fornecem energia. Na Islândia, usa-se a energia geotérmica dos vulcões para aquecer as casas. A maioria das casas, lá, é aquecida dessa maneira. É uma energia barata, limpa e inesgotável.

Como ler crateras

Um vulcão raramente explode sem aviso prévio. As erupções costumam ser precedidas por tremores de terra. São freqüentes, também, as emanações de gases como o dióxido de enxofre e as deformações do terreno. Nesses casos, o solo incha do mesmo jeito que a nossa pele, quando uma espinha está prestes a aflorar.

Algumas vezes, a deformação é tão dramática que pode ser observada a olho nu. Em Rabaul, na Nova Guiné, os habitantes que acordaram cedo na manhã de 19 de setembro de 1994 notaram que o nível do mar perto do vulcão havia subido quase 2 metros.

Os 50 000 habitantes foram retirados da cidade 6 horas antes de uma erupção devastadora.

Os equipamentos mais usados pelos vulcanólogos são os seguintes:

 

Sismógrafos: Determinam a localização e a intensidade dos tremores.

 

Monitores de gás: Medem as concentrações gasosas na boca da chaminé.

 

Telêmetros: Calculam as mudanças nos ângulos vertical e horizontal da montanha.

 

Inclinômetros: Com raios laser, detectam inclinações causadas pelo magma.

 

Satélites: O Landsat usa sensores infravermelhos para monitorar a temperatura de vários vulcões. Neste ano será lançado o Satélite de Observação da Terra, com a tarefa de vigiar as emissões de gases vulcânicos.

Safena vulcânica

Os 6 000 habitantes da aldeia italiana de Zafferana, na Sicília, foram testemunhas de um duelo entre o homem e a natureza. Eles moram nas encostas do Etna, o principal vulcão ativo da Europa. Em dezembro de 1991, quando o Etna entrou em erupção, o governo italiano lançou uma gigantesca operação para desviar as lavas do vulcão.

Foi como uma operação de ponte safena, em que o sangue é desviado para salvar o coração. A intervenção se fez por terra e por ar, ao mesmo tempo. Helicópteros lançaram blocos de cimento no canal aberto pelo vulcão. A Marinha detonou explosivos para obrigar as lavas a escorrer por um caminho inofensivo. A ofensiva deu certo: o rio de lava se dividiu e formou dois percursos, poupando Zafferana, com exceção de umas poucas casas.

O nascimento de um vulcão

No dia 20 de fevereiro de 1943, o camponês Dionisio Pulido estava colhendo milho quando, de repente, abriu-se diante dos seus olhos um buraco no chão, por onde saíam fumaça e faíscas.

Era um vulcão. Logo, o buraco começou a vomitar rocha incandescente, formando um cone sobre o solo. No dia seguinte, o cone já tinha 30 metros de altura. Em uma semana, a montanha de lava atingia 140 metros.

O vulcão só parou de crescer um ano e meio depois, quando atingiu a altura de 400 metros. A lava cobriu todo o povoado de Paricutín. Só restaram as torres da igreja.

Tragédia na Martinica

A maior tragédia provocada por um vulcão no século XX ocorreu em 1902, na ilha da Martinica, uma colônia francesa no Caribe. O Monte Pelée (pelado, em francês), perto de Saint-Pierre, a capital, começava a despertar de um sono de 50 anos. Nuvens de cinza saíam de sua cratera, cobrindo as ruas e os prédios com uma camada de pó. Três dias antes da erupção, uma centena de cobras invadiu a cidade – as encostas do vulcão, seu habitat natural, tinham se tornado inabitáveis. Mesmo assim, ninguém parecia se importar. O único assunto eram as eleições de governador, marcadas para aqueles dias.

Na manhã de 8 de maio, o Pelée explodiu e se partiu ao meio. Uma gigantesca bola de lava, fumaça e cinzas desceu pelas encostas a 200 quilômetros por hora, atingindo a cidade em apenas dois minutos. Ninguém teve tempo de escapar. Os 29 000 habitantes de Saint-Pierre morreram soterrados pela avalanche fervente ou sufocados pela nuvem vulcânica. Só dois moradores sobreviveram: um sapateiro, que correu mais do que todo mundo, e um prisioneiro, confinado numa cela solitária, sem janelas. Isso o manteve a salvo dos gases asfixiantes.

Vulcãozinho camarada

Como os vulcões, eles trazem à tona o calor das profundezas do planeta. Mas não assustam ninguém. Os gêiseres são buracos por onde jorra água quente e vapor, em intervalos. Existem cerca de 400 gêiseres no mundo, a metade deles em Yellowstone, no Wyoming, noroeste dos Estados Unidos. O mais regular é o Old Faithful (“Velho Fiel”), que emite, de hora em hora, um jato de 60 metros de altura durante três a quatro minutos. Também existem gêiseres na Islândia e na Nova Zelândia.

A origem dos gêiseres é a mesma dos vulcões: a subida do magma das camadas profundas da Terra. Só que, em vez de aflorar por uma cratera, o magma se detém a alguns quilômetros da superfície. Seu calor, conduzido pelas rochas, aquece os reservatórios subterrâneos de água, que sobe, quentíssima, através de fissuras nas quais a crosta é especialmente fina.

A marmita subterrânea

Como o gêiser fabrica seus jatos de água quente

1. A água da chuva se infiltra pelo solo e se acumula numa cavidade rochosa, formando um grande reservatório, centenas de metros abaixo da superfície.

 

2. Um depósito de magma, mais fundo, esquenta a água até o ponto de fervura, que embaixo da terra ultrapassa os 200 graus Celsius.

 

3. A água se vaporiza e, um pouco antes de aflorar pelo chão, volta ao estado líquido.Lá embaixo, a fervura recomeça. É como um relógio.

Lá fora também tem

Os vulcões extraterrestres

Os vulcões não são exclusividade da Terra. Sondas espaciais revelaram intensa atividade vulcânica em Vênus, Marte e nas luas Io (foto), de Júpiter, e Tritão, de Netuno. De todos, o lugar mais agitado é Io, um astro rochoso coalhado de chaminés de mais de 25 quilômetros de diâmetro, em permanente erupção. As colunas de fumaça alcançam até 280 quilômetros de altura. O maior vulcão do Sistema Solar é o Olympus, em Marte, com 26 quilômetros de altura. Mas está extinto.

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