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O ex-presidente e a maconha

Fernando Henrique Cardoso levantou a bandeira: aos 80 anos de idade, o ex-presidente resolveu debater a regulamentação das drogas. Estrelou um filme mostrando que a guerra contra o tráfico é sangrenta, cara e ineficiente - e que o consumo de drogas não deve mais ser crime no Brasil. Como fazer isso? Debater, discutir - e plantar maconha em casa, quem sabe...

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 21 jun 2011, 22h00

Karin Hueck

O senhor está propondo a descriminalização de todas as drogas ou só da maconha?
Em geral os países são mais lenientes com o uso da maconha argumentando que a maconha causa menos dano do que o tabaco ou o álcool. E a proposta concreta que temos é que o uso da maconha seja regulado pelo Congresso.

O Brasil está preparado para esse passo?
A sociedade tem que discutir. As drogas estão aumentando, e isso é ruim. O consumo está crescendo, e a violência também. A gente tem que fazer alguma coisa.

Na Argentina, o plantio da maconha não é mais crime. É uma opção para o Brasil?
Se for para o caminho da regulação, pode ser uma opção. Mas tem que regular, ver que tipo de plantio está sendo feito. É doméstico? É medicinal?

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Mas, sem uma opção como o plantio, a distribuição da maconha continuaria nas mãos do tráfico…
Para descriminalizar, e não simplesmente reprimir, tem que haver algum mecanismo legal de produção – mas para isso, francamente, nós não estamos preparados. Eu sinto que a resistência ainda é muito grande.

O senhor conviveu com algum usuário de drogas?
Nunca convivi. Eu vi agora para o filme. Fora disso, não. [Ele para para pensar] Teve um caso de um filho de um amigo meu, mas ele hoje é normal. Há uma ideia de que, se você entrou nas drogas, não sai mais delas. As pesquisas não dizem isso. Há um momento na vida em que as pessoas experimentam. Para algumas dura mais tempo, para outras menos, e elas saem. Há muito preconceito ainda.

Seu filme diz que pais e educadores falam com os jovens sobre drogas por meio do medo dizendo que elas podem matar. Mas a maioria das pessoas que usam drogas não morre. Como o senhor conversava com os seus filhos sobre o assunto?
É verdade, sempre falam pelo terror. Nós nunca fizemos isso, só falamos como esclarecimento. E nunca tivemos nenhum tipo de problema. E olha que moramos na Califórnia na época do auge das drogas. Mas eu não quero generalizar. Outro dia eu estava fazendo exercícios físicos e uma senhora do meu prédio me disse que estava desesperada porque sua filha tinha entrado nas drogas e estava roubando. O que eu podia fazer? Eu ajudei. Chamei um médico, e ele a colocou no hospital. É isso que tem que fazer: tratar como paciente, como um doente.

O que o senhor acha das marchas da maconha e da liberdade que estão sendo reprimidas pela polícia? Os protestos devem continuar?
Eles vão continuar protestando. Faz parte da inquietação da juventude. Para mim, isso é liberdade de expressão e deve ser garantido desde que não seja feita apologia. E faz parte da discussão. Por que não? É mais uma maneira de colocar em pauta.

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