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O império americano corre perigo

Por volta de 2020, os EUA devem viver a maior instabilidade política de sua história recente. E não é nenhuma previsão maia que diz isso - são os números. É a cliodinâmica, a ciência que estuda a economia, a demografia e a sociologia.

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h48 - Publicado em 19 nov 2012, 22h00

Peter Turchin*

Por que os impérios caem? Esse é o tipo de pergunta que tem ficado sem boas respostas. Há mais de 200 hipóteses para explicar a queda do Império Romano, por exemplo. E se não sabemos por que antigas sociedades se desintegraram, como evitar seus erros no futuro? É por isso que trabalho com a cliodinâmica (em alusão a Clio, a musa grega da história). Essa nova ciência tenta explicar eventos históricos com base na interação de muitos fatores: economia, demografia, geografia, sociologia e assim por diante. Também uso computadores e modelos matemáticos, pois sem eles não conseguiríamos captar a complexidade da história. Os modelos fazem previsões sobre a ascensão e a queda de impérios, ou a propagação e a morte de religiões – ou o que quisermos analisar.

Para explicar a ascensão dos grandes impérios, por exemplo, um fator-chave é a guerra. E a forma mais intensa de guerra ocorreu entre nômades e agricultores nas estepes da Eurásia. Por volta de 1000 a.C., os nômades aprenderam a lançar flechas com ponta de ferro enquanto cavalgavam. A combinação entre cavalos, arco-e-flecha e ferro foi letal – talvez a primeira arma de destruição em massa da história. Quem incorporou as táticas dos cavaleiros cresceu, recrutou mais soldados – e virou uma potência, como o império persa e a dinastia chinesa de Han, em 206 a.C. Ok, mas como sabemos que essa explicação é certa? Desenvolvemos um modelo sobre construção de Estados nessa época e ele previu muito bem as ocorrências.

O colapso e a ascensão de impérios são processos parecidos – só que ao contrário. E agora que eu e meus colegas conhecemos bem os padrões ligados a esses processos, tentamos prever as mudanças políticas que estão por vir. Sabemos, por exemplo, que uma crescente instabilidade política pode levar ao colapso. E um dos fatores que causam instabilidade política é a insatisfação popular com a queda no padrão de vida. A situação se agrava quando as elites do país se dividem em facções: muitos de seus membros se tornam revolucionários e lideram os revoltosos. Esse é um cenário comum nas sociedades que se desintegraram, como dinastias chinesas e alguns países na Primavera Árabe no ano passado. Mas nem os EUA estão imunes a isso.

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De fato, minhas previsões indicam que a principal potência do planeta vai passar por um momento de grande agitação civil e violência política ao redor de 2020. Para prever a instabilidade, desenvolvi um modelo que usa indicadores como desigualdade econômica e polarização política. Ambas estão crescendo nos EUA. Desde 1980, as grandes fortunas crescem muito mais rápido que as economias da classe média. Segundo a revista Forbes, os bens dos 400 americanos mais ricos cresceram 13% em relação ao ano passado. A desigualdade também aumenta na saúde. Hoje, a expectativa de vida dos homens brancos com menor escolaridade é de 67,5 anos, contra 80,4 anos dos brancos com ensino superior. Quase 13 anos. Além disso, a violência política se intensificou nas últimas três décadas, na forma de distúrbios violentos, tiroteios e assassinatos.

O modelo não nos diz exatamente quando vai haver uma revolta nem quem vai lutar contra quem. Ele apenas prevê que as pressões sociais nos EUA devem atingir o ápice ao redor de 2020. A gravidade do motim provavelmente será muito pior que a do último período de distúrbios dos anos 60 e 70. No longo prazo, extrema instabilidade pode levar ao colapso de uma sociedade. Mas isso não quer dizer que os EUA vão ruir em 2020. A guerra civil americana (1861-65), por exemplo, causou milhares de mortos – mas nós nos reconstruímos.

*Peter Turchin é professor de Ecologia e Biologia Evolucionária da Universidade de Connecticut, EUA e autor do livro War and Peace and War: The Rise and Fall of Empires. Em depoimento a Eduardo Szklarz.

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