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Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h53 - Publicado em 26 fev 2011, 22h00

Maurício Horta

A notícia da morte de Michael Jackson se espalhou pelo mundo via Twitter antes de chegar aos jornais online.Durante os protestos no Irã, os microblogs de anônimos foram a única fonte de notícias, desbancando até a CNN. Para uns, trata-se do fim do jornalismo. Mas não: é o começo de um novo. E muito melhor.

Em Teerã, 650 jornalistas estrangeiros acompanhavam a votação que reelegeria presidente do Irã, com 62,7% dos votos, o ultraconservador Mahmoud Ahmadinejad. No dia seguinte, 13 de junho, centenas de milhares de pessoas tomaram as ruas e, vestidas com acessórios verdes – cor-símbolo do candidato opositor Mir Hossein Mousavi -, iniciaram a maior onda de protestos desde a Revolução Islâmica de 1979. Um feito histórico.

Mas quem tentou acompanhar pela CNN não viu nada. Exatos 20 anos atrás, essa rede – a primeira a transmitir notícias 24 horas por dia – trouxe ao vivo para o mundo o massacre da praça da Paz Celestial, em Pequim. Agora, enquanto aconteciam protestos que poderão mudar o rumo do país mais temido pelo Ocidente, a CNN reprisava uma entrevista de Larry King com montadores de motocicletas.

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Mas quem conferia o que estava acontecendo pelo Twitter de iranianos viu algo bem mais relevante: detalhes das manifestações em microtextos escritos por celular, fotos tiradas e postadas em tempo real e links para vídeos das manifestações que acabavam de ir para o YouTube. Tudo ao mesmo tempo em que as mesmas twittadas ajudaram a coordenar passeatas. Assim que algum twitteiro sabia aonde iriam os basiji (os truculentos paramilitares subordinados ao Líder Supremo), mandava uma mensagem e conseguia evitar que mais manifestantes fossem reprimidos.

Para correr contra o atraso, a versão online da CNN teve de transcrever microtextos da twitteira iraniana @persiankiwi. Demoraria 3 dias para a rede fazer uma cobertura decente. Tinha motivo: a polícia fez marcação ferrenha contra a imprensa: um repórter e um cinegrafista da BBC foram presos, e outro da ABC teve sua câmera confiscada. Depois, as credenciais de jornalistas estrangeiros foram canceladas. Mas os manifestantes iranianos não tiveram esse tipo de barreira. Não precisavam de credenciais para equipes de filmagem. Só precisavam de um celular. A vantagem do Twitter está numa aparente limitação: os apenas 140 caracteres de cada mensagem. Essa escassez ajuda que a informação seja concisa, rápida e simples o suficiente para ser escrita como um SMS, pelo celular, e imediatamente ventilada. Em segundos qualquer pessoa pode escrever sobre qualquer coisa em qualquer lugar.

Essa velocidade acelerou a própria internet. Michael Jackson morreu às 17h26 do dia 25 de junho. Pouco depois, o site de fofocas TMZ estampou a notícia. Twitteiros começaram a espalhar freneticamente a notícia e em questão de minutos o mundo inteiro sabia da morte do astro. Enquanto isso, a CNN e os sites de grandes jornais, como o New York Times, ainda davam que o cantor estava internado. Esperavam fontes mais confiáveis para cravar o fato. É nesse ponto que começam os problemas do Twitter como veículo de informação. A intenção dos usuários é publicar rapidamente uma mensagem, não checar suas informações. No Irã, soltaram que o líder opositor Mousavi tinha sido posto sob prisão domiciliar – o que a blogosfera assumiu como verdade. Não era. Foi necessário que a própria mulher de Mousavi desmentisse a afirmação. As informações publicadas no Twitter têm um só lado. O usuário afirma algo e pronto – a coisa foi publicada. No jornalismo convencional, o repórter confronta sua fonte com perguntas, pesquisa, observa e recheca as informações para escrever uma matéria que ainda será analisada por um editor. Demora tanto que, quando publicada, a matéria já vai ter sido furada pelo Twitter. Mas a credibilidade continua.

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Mesmo assim, um não exclui o outro. O Twitter, inclusive, pode ser uma ferramenta para melhorar o jornalismo. Credenciais de imprensa para o funeral de Michael Jackson no Staples Center não estavam sendo distribuídas, mas o repórter Jorge Pontual, da Globo, conseguiu uma pedindo a twitteiros. Era proibido entrar no local com câmera, mas Pontual pôde contar o que acontecia lá em microtextos.

Identificando twitteiros de maior credibilidade, jornalistas também podem selecionar boas informações para o seu trabalho. Tanto que a melhor cobertura da eleição iraniana foi a dos jornalistas que souberam pescar as melhores twittadas e inserir as informações delas em reportagens mais elaboradas e analíticas. Para o consultor econômico e especialista em tecnologia Clay Shirky, isso é uma amostra do futuro do jornalismo – um futuro que só terá lugar para duas coisas: as informações ultrarrápidas e aquelas cozidas no fogo lento da análise, disse ele. No Twitter, claro.

Crônica de uma morte
Como o Twitter avisou o mundo sobre o fim de Jackson

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