O seu corpo em números
Com a onda de medir tudo que o próprio organismo faz, a humanidade está criando bancos de dados imensos - e que vão revelar muito sobre nós
Texto Enrique Tordesilhas
Uma esteira meia-boca de academia pode medir a que velocidade você está correndo, a distância que está percorrendo, seus batimentos cardíacos, seu peso e até quantas calorias você está perdendo. Com essas informações e a orientação do professor, dá para entender melhor o que está acontecendo com seu corpo. E o resultado dos exercícios tende a melhorar. Isso não é novidade. Mas o monitoramento dos próprios dados tem se desenvolvido muito além da malhação.
Com equipamentos tão simples quanto um iPod, já é possível medir uma corrida de rua. E, depois dela, jogar os resultados na internet, alimentando um imenso banco de dados coletivo. Além de acumular os próprios resultados anteriores e a melhora do desempenho, dá para comparar os resultados com o dos outros corredores. No fim das contas, o que se tem é uma radiografia colossal sobre corredores do mundo inteiro (ou, pelo menos, das pessoas que correm com seu iPod).
A montanha de dados gerada por gente disposta a medir a si mesma acabou atraindo cientistas. Antes o autoconhecimento era uma área dominada pelas psicociências (e também, claro, por picaretas). Agora o tema chama a atenção de sociólogos, médicos, estatísticos e antropólogos. Isso porque, quando são jogados em bancos de dados, essas medições se tornam poderosos retratos do comportamento humano. Usado em larga escala, o monitoramento pode ajudar em diversas áreas. Um projeto como o Tweet What You Eat, em que os usuários publicam no Twitter tudo o que comem, pode dar informações essenciais sobre a dieta de uma população – e fazer diferença para países cheios de obesos, como os EUA e o Brasil.
Até a felicidade humana – um tema clássico do autoconhecimento – pode ser monitorada. Matt Killingsworth, da Universidade Harvard, criou o Track Your Happiness (em inglês, “meça sua felicidade”) em seu projeto de doutorado. A ideia é que os usuários usem o celular para dar notas ao seu estado de espírito ao longo do dia. Quem participa visualiza seu humor recente e pode encontrar padrões. Por exemplo: um sujeito que acorda mal todos os dias (e nem se dá conta) pode descobrir que chegou a hora de mudar de emprego. Para o pesquisador, a vantagem é achar causas e correlações sobre felicidade – e entender melhor as pessoas. O resultado disso tudo é autoconhecimento – mas bem diferente da autoajuda barata.
Medir os dados que o corpo gera parece bom, mas também envolve polêmica. É que as informações médicas são confidenciais. Já tem até um movimento para que as empresas que coletam esses dados garantam anonimato.
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