Rodrigo Rezende
O que rege o fascinante espetáculo biológico que transforma duas células numa pessoa capaz de compor poemas, erguer cidades, construir foguetes e propor a si mesmo a pergunta que você acabou de ler? Afinal, o que nos faz humanos?
Na tentativa de responder a questão, o biólogo inglês Matt Ridley não escolhe somente um dos candidatos a regente da sinfonia: a natureza, representada pelas determinações genéticas, ou a cultura, expressa pela influência recebida do ambiente que nos cerca. A tese de Ridley é de que o duelo entre os partidários das duas candidaturas não faz sentido. Uma não sobrevive sem a outra. “Natureza versus cultura está morto. Vida longa à natureza via cultura”, escreve.
A conclusão de que o ambiente interage com o DNA na formação humana é resultado da análise dos mais recentes estudos genéticos. Estudos que alteraram a maneira como entendemos o genoma. Sai a idéia de uma planta de edifício que descreve todo o projeto humano e entra uma espécie de receita de bolo, que pode ser alterada de acordo com a manipulação dos “ingredientes”. Descobrir até que ponto pode ir o improviso dos fatores ambientais na receita genética é o objetivo de Ridley, que também reconstitui historicamente a longa guerra científica entre natureza e cultura.
Natureza x Cultura
A mistura dos ingredientes que nos faz humanos
Inteligência
Que a educação interfere no QI humano é um fato. Mas um fato bem relativo, ainda mais se levarmos em conta a idade. A influência dos genes na variação do QI aumenta de 20% nos bebês para 40% na infância, 60% na vida adulta e até 80% após a meia-idade.
Conclusão: a idade aumenta a proporção genética da inteligência.
Violência
Segundo um estudo, o filho de pais honestos adotado por criminosos aumenta a probabilidade de se tornar marginal de 13,5% para 14,7%. Se tiver pais criminosos e for adotado por uma família honesta, as chances de cometer delitos diminuem de 24,5% para 20%.
Conclusão: os genes pesam, mas ser um bom pai ainda importa.
Peso
Se você está encanado com a dieta, pule este tópico. Um estudo mostrou que a semelhança de peso entre irmãos gêmeos criados separadamente e submetidos a dietas alimentares distintas chega a 78%. Quase igual aos que cresceram juntos.
Conclusão: sua barriga é fortemente influenciada pela genética