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Por que você vê coisas no teste de Rorschach

Os borrões de tinta mais famosos da psicologia enganam nossos olhos porque são fractais — padrões geométricos que estão por toda a natureza

Por Bruno Vaiano Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
17 fev 2017, 18h24

O teste de Rorschach, também conhecido como teste do borrão de tinta, já foi o método de avaliação de personalidade favorito dos RHs de empresas na hora de contratar um funcionário. O candidato à vaga deve olhar um papel com uma mancha aleatória, e contar ao psicólogo tudo que ele vê ali.

Há quem não veja nada, há quem veja três figuras ou mais e há até quem cisme com o contorno confuso dos cantos – um sinal de obsessão. A interpretação das manchas já foi considerada uma janela para o subconsciente, mas o gabarito do teste, que inclusive “vazou” na Wikipedia, é considerado datado e pouco confiável atualmente.

Polêmicas à parte, um grupo de pesquisadores da Universidade de Oregon decidiu entender porque tantas pessoas veem tantas coisas diferentes em uma mesma mancha aleatória. E eles descobriram que é porque a tinta se espalha no papel em padrões geométricos fractais – os mesmos que estão espalhados e ocultos por toda a natureza, de um parente da couve-de-bruxelas chamado romanesco (que você pode ver aqui) a flocos de neve como este aqui.

O que torna os fractais especiais é o fato de que seu desenho se reproduz em qualquer escala: todo fractal é feito de versões menores dele mesmo, que por sua vez são feitas de versões menores ainda, também idênticas. Entenda melhor a seguir:

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Por que você vê coisas no teste de Rorschach

O físico Richard Taylor, líder do grupo, suspeitou que o método usado pelo suíço Hermann Rorschach para criar seu teste psicodélico em 1920 – jogar um pouco de tinta no papel, dobrá-lo e então pressionar as duas metades como um sanduíche de nanquim – criaria padrões fractais por causa da maneira como as fibras do papel absorvem o pigmento, um comportamento já conhecido na física dos fluidos.

A inspiração veio bem a calhar: Taylor está desenvolvendo olhos biônicos para devolver a visão a pessoas com problemas na retina, e precisa entender exatamente como nossos olhos funcionam antes de reproduzi-los em laboratório – entender porque nós vemos coisas onde não há nada é uma boa maneira de fazer isso.

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Após identificar os padrões geométricos nas margens dos borrões , o físico classificou cada desenho abstrato conforme seu grau de complexidade. E então foi atrás de um banco de dados da época em que o teste era muito popular entre psicólogos para descobrir quantas figuras, em média, cada paciente costumava identificar em cada desenho. Não deu outra: quanto mais complexo é o fractal, menos gente vê algo nele.

Isso ocorre porque um desenho mais simples têm mais chances de se parecer com algo que nós já vimos e que já existe na natureza. Já desenhos mais complexos têm mais particularidades, o que os torna mais abstratos.

“Nossa pesquisa está focada no que chamamos de fluência fractal”, afirmou Taylor à imprensa. “Nossos olhos e nosso cérebro desenvolveram, com o tempo, a habilidade de identificar coisas em imagens ricas em fractais, e estudos mostram que nossos níveis de estresse caem quando somos expostos à fractais naturais.”

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Do ponto de vista tecnológico, essa capacidade é um milagre da biologia. Os processadores dos olhos biônicos de Taylor ainda não comportam tanta complexidade, e podem se confundir: “Nós olhamos uma mancha de tinta ou uma nuvem no céu e na hora sabemos que não há um cachorro ou gato ali. O olho biônico se esforça só para entender, em primeiro lugar, se aquilo é mesmo uma nuvem”.

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