Denis Russo Burgierman, diretor de redação
Eu leio a SUPER desde que era adolescente. Por isso, faz muito tempo que deixei de acreditar em astrologia. Nos anos 90, eu já tinha lido aqui que a teoria astrológica não faz nenhum sentido à luz do conhecimento científico atual.
Para começo de conversa, a personalidade da criança não surge magicamente no momento do parto: ela já está em formação desde muito antes, durante a gravidez. Portanto não tem lógica atribuir a formação da pessoa à posição dos astros na hora do nascimento. Sem falar que a ideia de que corpos celestes muito distantes nos definem não para de pé: pelas leis da física, objetos mais próximos, como a cama do hospital onde o parto ocorre, teriam um efeito muito mais forte do que um astro a centenas de milhares de quilômetros de distância. Junte a isso o fato de que várias pesquisas mostram que não há nenhuma correlação estatística entre os signos do zodíaco e traços de personalidade ou vocações profissionais.
Tudo isso dito, sempre me intrigou o fato de que o interesse em astrologia se mantém altíssimo no mundo todo. Algumas das pessoas mais inteligentes e racionais que eu conheço idolatram Susan Miller, gastam boa parte de sua renda com mapa astral e se aproximam de desconhecidos perguntando “qual é o seu signo?”. Por quê?
Foi essa a principal pergunta que tentamos responder na reportagem de capa desta edição. E as respostas nos surpreenderam. Descobrimos que astrologia pode até ser uma crença arcaica, mas isso não significa que ela seja inútil. Acreditar que um sistema maior do que nós rege nossas vidas pode, sim, aumentar os níveis de felicidade, mesmo que não seja verdade. E pode também reduzir o sofrimento com as decisões que temos que tomar. Fazer mapa astral, se por um lado não serve para prever o futuro, pode ser um exercício útil de autoconhecimento. E, se tem uma crença à qual nós da SUPER nos aferramos, é a crença no valor do conhecimento. É importante saber das coisas, mesmo quando escolhemos acreditar em algo.
Não fazemos matéria para reforçar aquilo em que já acreditamos – buscamos é questionar a nós mesmos, sempre. Com frequência, no processo de pesquisa, descobrimos coisas que nem imaginávamos. Nossas reportagens frequentemente entram em contradição com nossas opiniões. Não nos pautamos por nossas certezas, mas pelas nossas curiosidades.
Claro que seria bem mais fácil ter certezas sobre tudo e simplesmente repeti-las, como fazem muitas publicações brasileiras. Fazer uma revista que se questiona complica enormemente nossas vidas e aumenta demais o nosso trabalho. Mas é assim a SUPER: aplicada, caprichosa. E cética.
Como boa virginiana, aliás.