Rafael Kenski
Os artistas estão descobrindo agora o que crianças e cientistas sabiam há algum tempo: poucas coisas são mais fascinantes do que uma película de sabão. É aquela lâmina de água e detergente que fica no meio da armação e que, se soprada, se transforma em uma bolha. Olhada de perto, ela forma imagens como esta, elogiada em revistas de arte e design e premiada na Nikon Small World, competição de fotos tiradas com microscópios. E, no entanto, é apenas uma amostra das dezenas de pesquisas que têm sido feitas com as películas de sabão. Alguns pesquisadores analisam a forma como elas deformam a luz ou estudam a interação entre as moléculas de sabão, a água presa entre elas e o ar. Outros as utilizam como um túnel de vento de duas dimensões: atravessam objetos na lâmina e observam as turbulências que ele causa. Há até quem as considere um modelo para assuntos da física difíceis de visualizar, como supercordas e buracos negros. Não é um objeto novo de estudo. A pesquisa dos padrões no sabão começou em 1923. Na época, o químico e físico britânico James Dewar, famoso por inventar a garrafa térmica, chegou até a estudar uma película que permaneceu intacta por três meses (o segredo foi mantê-la no vácuo para não secar). “Acho que o próprio Dewar gostaria de tirar fotos desses fenômenos, mas isso é impossível sem equipamentos fotográficos bastante sensíveis, como câmaras digitais e flashes de xenônio”, diz o químico japonês Tsutomu Seimiya, da Universidade Metropolitana de Tóquio, autor desta foto. O padrão apareceu por acaso enquanto ele estudava o fluxo de calor na película ao secar. As moléculas de detergente próximas à superfície se movem mais devagar do que a solução como um todo e se concentram a ponto de formar pequenos cristais, que distorcem a luz e dão origem às cores psicodélicas. “Analisar a natureza única desse tipo de organização molecular é tão importante quanto desenvolver novos átomos ou materiais”, diz Seimiya.