Sérgio Gwercman, redator-chefe
A maior parte dos astrônomos sempre teve certeza de que há vida fora da Terra. Uma certeza mais baseada na lógica do que em dados concretos – faz mais sentido existir do que não existir. A novidade mostrada pela nossa reportagem de capa, assinada por Pedro Burgos, é que nos últimos anos as pesquisas revolucionaram o que conhecemos sobre o espaço. De descoberta em descoberta, soubemos da existência de gelo em Marte, de planetas parecidíssimos com a Terra, ficamos mais próximos dos extraterrestes. Como foi que conseguimos isso? Ora, torrando uma fortuna! Só pelas mãos da Nasa, já mandamos mais de US$ 600 bilhões para o espaço.
A pergunta a seguir, portanto, é inevitável: essas descobertas, elas servem pra quê? Curam o câncer? Acabam com a fome no mundo, a sujeira da baía de Guanabara, a crise do Corinthians? A resposta é não. Elas não resolvem nada disso. Até ajudam a desenvolver a indústria aeroespacial, os satélites, quem sabe um dia nos levem a outros planetas e nos salvem da hecatombe ambiental da Terra. Mas o grande valor das pesquisas espaciais está em outro ponto: no simples exercício da curiosidade humana, na busca pela resposta de questões que, ao menos aparentemente, não servem para nada. Uma história contada pelo escritor japonês Haruki Murakami que traduz perfeitamente essa procura. É mais ou menos assim: 3 homens foram deixados na encosta de uma montanha. Eles deveriam subi-la e encontrar um lugar para morar para sempre. Quem parasse não poderia subir mais. Eles subiram, subiram, até que o primeiro disse: aqui tem um rio, árvores com frutas e bichos para caçar. Fico. Os outros continuaram até que o segundo se cansou. Viu castanhas, algumas aves e achou que estaria bem por lá. O terceiro não parou até que chegou ao topo da montanha. A vista era incrível. Mas só havia musgos para comer e gelo para matar a sede. A moral da história: talvez o homem que parou primeiro tenha sido o mais feliz, com o rio, a carne e as frutas. Mas, para algumas pessoas, conhecer o desconhecido é imperativo, uma necessidade.
Muitas dessas pessoas abraçam a ciência. E é por isso que estamos no espaço.
Um grande abraço.