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SUPERguia da filosofia da lorota

Para alguns pensadores, mentir era inaceitável. Mas, para outros, simplesmente não há a verdade

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h52 - Publicado em 11 Maio 2012, 22h00

Bruno Romani

Que mané verdade!
O problema da humanidade é a verdade, não a mentira, segundo Friedrich Nietzsche (1844-1900). Em Verdade e Mentira no Sentido Extramoral, o pensador alemão explica a verdade como um aglomerado de metáforas que foram se solidificando até parecer obrigatórias. Ou seja, ela não passa de convenções criadas pelo rebanho humano para que todos pudessem se orientar no mundo e conviver pacificamente. Para se tornar senhor de si, o homem tem que romper com essas convenções e abraçar suas próprias mentiras. Mas a coisa também tem limites. Não é que as pessoas detestam a mentira – o problema são suas consequências. Ou seja, a punição do grupo. Se a pessoa mentir a rodo, a sociedade não confiará mais nela e com isso a excluirá.

Os fins justificam os meios
A moral que trata a verdade como virtude é como as estrelas: bela, mas distante demais para iluminar nosso caminho, diz Nicolau Maquiavel (1469-1527) em O Príncipe. Para preservar seu poder e alcançar o bem público, um bom líder precisa ser brutal e inspirar medo nas pessoas – porém, que não seja obsceno a ponto de colocar as pessoas contra seu líder. Para que esse medo não se torne ódio, é necessário dissimular e manter uma aparente virtude. Isso vale principalmente para os líderes bons, que precisam ser ainda mais brutais e enganadores para não baixar a guarda aos verdadeiros tiranos que jamais usarão parâmetros morais para medir a força.

Uma farsinha não dói
Para Platão (428-348 a.C.), não há problema na mentira, desde que ela venha para um bem maior. Em A República, ele até a recomenda. Afinal, o errado é fazer o mal a alguém, e não protegê-lo do mal. O filósofo levou esse princípio para o campo da política. Governantes podem mentir caso isso resulte no bem público. Para ilustrar isso, Platão usou uma fábula que conta a gênese das classes sociais. A classe dos reis-filósofos seria de ouro; a dos guardiões, de prata, e a dos trabalhadores e agricultores, de bronze. Essa historinha deveria ser usada pelos governantes para manter a ordem social na República. Por outro lado, Platão não aprovava a mentira de natureza maldosa, que não resulta em coisas boas.

É tudo pecado
Com Santo Agostinho (354-430) não tem chorumelos. “A boca que mente escraviza a alma”, escreve o teólogo escolástico em Sobre a Mentira, no qual divide as falsidades em 8 categorias (veja ao lado). Para ele, mentir é desrespeitar Deus, e o mentiroso, um lobo em pele de cordeiro solto entre os filhos de Deus, que o julgará mesmo que ele tenha agido com boas intenções. E não adianta ficar de boca fechada. Acreditar em algo falso ou pensar que sabe algo que de fato não sabe também deixam suas máculas. Mas nem todos os pensadores escolásticos são intransigentes assim. Tomás de Aquino (1225-1274) também diz que mentir é sempre errado, mas apenas as mentiras para fazer mal são pecados mortais. Já aquelas para se divertir e para ajudar os outros são perdoáveis.

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Nada de relativismos
Não há exceção – mentir é sempre um erro grave, deixa claro Immanuel Kant (1724-1804) em Fundamentação da Metafísica dos Costumes. Mesmo que a fraude seja usada para salvar a própria vida ou a de outra pessoa. Para ele, o bem só é bem se ele puder virar uma lei universal. E se o direito a mentir se tornasse uma lei universal? Então todo mundo se sentiria à vontade para escolher entre a verdade e a mentira a seu bel prazer. Daí seria impossível alguém saber quando uma afirmação é séria ou não. Toda fala seria considerada uma mentira.

Afinal, existe a Verdade?
Provavelmente, não. Podemos nos enganar até mesmo da nossa existência. O que nos resta é acreditar no que nos parece razoável e engolir possíveis mentiras.

Todos os ETs são peludos. Chubaka é um ET. Logo, Chubaka é peludo. Esse raciocínio pode não ser nada razoável, mas, pela lógica, é 100% válido. Afinal, a ausência de prova da existência não é prova de sua inexistência. O fato é que não podemos afirmar categoricamente que algo seja verdadeiro ou falso – pelo menos para o grego Pirro de Elis (360 a.C a 270 a.C.). Isso porque somos limitados por nossos sentidos, influenciados por nossa cultura, pelo nosso estado de ânimo e pelo contexto em que percebemos um objeto. Resta ter uma postura neutra – “talvez sim, talvez não”. O escocês David Hume (1711-1776) concorda, mas diz que precisamos tomar algumas coisas como verdadeiras. Mesmo duvidando do poder destrutivo do fogo, Hume não colocaria a mão nele. Ou seja, por mais que duvide da existência do “verdadeiro”, é melhor agir de acordo com o que pareça sê-lo, mesmo que se comprove falso com o tempo. 

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TOP 8 BALELAS
Segundo Santo Agostinho

1. As contadas na doutrina religiosa.
2. As que prejudicam alguém de forma injusta.
3. As contadas em benefício próprio e de mais ninguém.
4. As contadas pelo prazer de mentir.
5. As contadas para agradar.
6. As que beneficiam em detrimento de alguém, mas não de forma física.
7. As contadas em benefício próprio, mas que não atingem ninguém.
8. As que não prejudicam, e que também protegem alguém de prejuízo físico.

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