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Viajar ao exterior deixa você mais imoral

Mergulhar em outras culturas também pode ter seu lado ruim

Por Ana Carolina Leonardi Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 24 jan 2017, 17h54 - Publicado em 24 jan 2017, 13h42

Viajar te deixa mais criativo, menos tendencioso e até mais bonito. Um grupo de pesquisadores de Columbia, Harvard e outras grandes universidades americanas já tinha visto uma série de benefícios em viajar pelo mundo e experimentar um pouco de diferentes culturas, idiomas e costumes. Mesmo assim, se perguntaram: será que viajar não tem nenhum lado ruim?

O pesquisadores decidiram testar, então, se a experiência internacional afetava a nossa noção de ética e moral. Eles realizaram oito experimentos com estudantes de diferentes países, que passaram um tempo estudando fora em diferentes fases da vida – colégio, faculdade, MBA e pós-graduação.

Os testes avaliavam a propensão dos voluntários a cometer pequenos atos de imoralidade. No primeiro experimento, os estudantes tinham a chance de ganhar um iPad por sorteio. Mas tinham ainda um desafio com anagramas. Precisavam reorganizar letras bagunçadas para formar palavras. A lista tinha quatro itens: a cada anagrama que conseguissem resolver, ganhavam 10% de chance a mais no sorteio que os demais participantes.

O problema é que o aluno poderia marcar como “resolvido” um item que não estivesse completo. Dos quatro anagramas, um era impossível de resolver. O primeiro grupo de estudantes a fazer o teste ainda não tinha feito intercâmbio. 30% deles “roubou” no desafio. O segundo grupo tinha acabado de voltar de um período no exterior. A taxa de trapaceiros aumentou para 47%.

Em um outro experimento, os voluntários precisavam responder a uma série de perguntas. Mas, de novo, os pesquisadores enganaram os participantes: disseram que o sistema estava com um erro e que a resposta certa aparecia automaticamente, a menos que o participantes apertasse a barra de espaço. O que o computador fazia, na verdade, é contar quantas vezes a barra era pressionada por cada aluno. De novo, os que tinham viajado para o exterior foram os campeões em tirar vantagem do “erro”. E, dessa vez, nem havia recompensa pelo desempenho.

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Uma mesma raiz

Como explicar o aumento do hábito de  “dar um jeitinho” depois que viajamos para o exterior? Os pesquisadores acreditam que ele tem a mesma raiz das vantagens que tanto admiramos nos mergulhos em outras culturas.

Nos tornamos mais criativos, tolerantes e empreendedores quando viajamos – e a psicologia atribui esses resultados ao fenômeno da “flexibilidade cognitiva”. Quando somos expostos a ambientes e costumes tão diferentes, o desafio literalmente reprograma o cérebro, que se torna mais flexível para poder encarar situações tão diversas.

A hipótese dos pesquisadores é que essa flexibilidade também nos faz ver as noções de certo e errado como relativas e dependentes da cultura. A consequência disso seria uma tolerância maior para comportamentos socialmente reprováveis, como colar em uma prova ou trapacear nos jogos do experimento.

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O intercâmbio não é o problema

Apesar de terem feito testes com intercambistas, os pesquisadores também não acham que a culpa do “lado ruim de viajar” seja dos intercâmbios acadêmicos e culturais. Isso porque os resultados mostraram que o que faz diferença nessa “flexibilidade moral” não é o tempo que o viajante passa em um só lugar e sim a quantidade de culturas diferentes com as quais conviveu.

De novo, existe um paralelo entre a criatividade e a “cabeça aberta”: quanto mais choques culturais, mais o viajante questiona seus próprios preconceitos e ideias que aprendeu em casa. Mas, segundo a pesquisa, essa descoberta de si próprio também deixa todo mundo mais safo.  E fica a pergunta: qual dos lados da experiência conta mais?

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