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Planeta ainda pode esquentar 2,4ºC até o final do século, indica análise

As ações de curto prazo apresentadas pelos países na COP26 não são suficientes para cumprir o Acordo de Paris. A conclusão do novo estudo contrasta com o que foi divulgado no início da Convenção da ONU.

Por Salvador Nogueira
Atualizado em 9 nov 2021, 18h34 - Publicado em 9 nov 2021, 18h26

A julgar apenas pelas metas de curto prazo de corte de emissões apresentadas pelos países durante a COP26 (Conferência das Nações Unidas para Mudanças Climáticas, em Glasgow), o mundo deve enfrentar um aumento médio de 2,4° C na temperatura global até o final do século. Esse aquecimento está bem além daquele requerido para conter mudanças climáticas perigosas – e promete trazer impactos globais devastadores.

O cenário sombrio foi trazido por um novo relatório divulgado nesta terça (9), de autoria da organização Climate Action Tracker (CAT), a mais respeitada coalizão de análise climática do mundo. O trabalho mostra como as propostas concretas trazidas pelos países até o momento estão aquém do necessário para conter a crise climática.

O resultado faz contraste com uma pesquisa realizada pela Universidade de Melbourne, na semana passada. Ela mostrou que, pela primeira vez, as trajetórias de aquecimento global caíam para menos de 2° C em comparação aos níveis pré-industriais, com base nas promessas de cortes de emissões ao longo do século 21 apresentadas pelos países na COP26.

Trata-se de um dos dois “números mágicos”, em termos de objetivos, estipulados no Acordo de Paris. É consenso entre os climatologistas que a contenção até 1,5° C é o ideal, para evitar transformações irreversíveis. Cruzado esse limiar, os 2° C passam a ser a divisa a partir da qual podem-se esperar efeitos catastróficos em decorrência das mudanças do clima.

O novo estudo do CAT ajuda a contextualizar esse resultado, confrontando-o com a dura realidade. De acordo com as estimativas, adotando-se de fato o cenário mais otimista, em que todo mundo cumpre tudo que prometeu, o aumento de temperatura ao final do século não passaria de 1,8° C. Se todo mundo cumprir aquilo que foi efetivamente acordado (em contraste com as metas mais ambiciosas trazidas na primeira semana da COP26), a temperatura sobe 2,1° C.

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Adotando o cenário mais realista, que prevê apenas as metas até 2030, veremos uma subida de estonteantes 2,4° C. E mais: o cenário baseado nas ações que estão sendo feitas até o momento trazem uma escalada de apocalípticos 2,7° C.

E onde está o abismo que separa o 1,8° C do 2,4° C? Entre o que os países dizem que vão fazer para cortar emissões de gases-estufa, e as políticas que eles realmente têm em mente para tornar essas reduções realidade.

Nesse sentido, a COP26 até agora é uma decepção. Apesar de promessas significativas, os planos para o curto prazo ainda deixam muito a desejar. Cientistas estimam que as emissões precisam cair 45% nesta década para que as temperaturas só aumentem 1,5° C acima dos níveis pré-industriais. Até agora, esse cenário está longe de ser atingido. Alguns países defendem até mesmo a implementação de metas anuais, em vez das revisões a cada cinco anos, para forçar ações práticas de curto prazo.

Um porta-voz da COP26 retratou bem o copo meio cheio/meio vazio da conferência: “Sabemos que a janela para manter [o objetivo de] 1,5° C vivo está se fechando, mas o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática deixa claro que ainda é possível. Como os relatórios de hoje tornam claro, vimos progresso genuíno na primeira semana da COP26, mas temos muito mais a fazer.”

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1 bilhão de afetados

Ajudando a compor o cenário de potencial catástrofe, o UK Met Office, escritório de meteorologia do Reino Unido, diz que um aumento de temperatura média de 2° C pode afetar 1 bilhão de pessoas no mundo todo. É 15 vezes mais que os afetados hoje, quando a temperatura registra aumento de 1,1° C com relação aos níveis pré-industriais.

Os pesquisadores destacam que ondas de calor mortais, combinando temperatura e umidade, podem se tornar ainda mais frequentes, muitas vezes atingindo um ponto em que o corpo humano saudável, ao ar livre, não conseguiria se resfriar, colapsando em seis horas – isso na sombra. E, se todos os esforços para conter as mudanças climáticas falharem e a temperatura média do planeta subir 4° C, metade da população global poderá estar exposta a esses estresses por calor.

O retrato do pior que pode acontecer está sendo bem delineado pelos cientistas. Resta agora que as delegações dos países tomem as decisões políticas para reverter essa tendência. Mas não será fácil, rápido ou barato. A COP26 termina nesta sexta-feira (12).

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