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As possíveis explicações científicas para 6 milagres da Bíblia

A abertura do Mar Vermelho, ressurreição de Lázaro... Os fatos que podem ter inspirado algumas passagens bíblicas.

Por Fêcris Vasconcelos
Atualizado em 7 fev 2020, 19h29 - Publicado em 18 set 2015, 16h45

Acreditar nas histórias da Bíblia é uma questão de fé. Do ponto de vista estritamente racional, porém, a única afirmação possível é a de que fatos sobrenaturais não existem. São fruto da imaginação humana. Mesmo assim, há pesquisadores menos ortodoxos que buscam explicações lógicas para eventos descritos na bíblia como milagrosos.

O britânicos Colin Humphreys é um deles. Ph.D em física e professor titular da Universidade de Cambridge, em seu livro O Milagre do Êxodo, estuda toda a série de eventos bíblicos no episódio da fuga dos hebreus de sua escravidão no Egito e prevê explicações naturais para que o povo chegasse à terra prometida. Mas o professor é um homem de fé e diz que essas bem-aventuradas coincidências só podem ser obra divina, como uma sequência de dominós que só precisou de um peteleco de Deus para começar a cair.

As 10 pragas do Egito

“Tu falarás tudo o que eu te mandar; e Arão, teu irmão, falará a Faraó que deixe ir os filhos de Israel da sua terra. Eu, porém, endurecerei o coração de Faraó, e multiplicarei na terra do Egito os meus sinais e as minhas maravilhas. Faraó, pois, não vos ouvirá; e eu porei minha mão sobre o Egito, e tirarei meus exércitos, meu povo, os filhos de Israel, da terra do Egito, com grandes juízos. Então os egípcios saberão que sou o Senhor, quando estender a minha mão sobre o Egito, e tirar os filhos de Israel do meio deles.” Êxodo 7:2-5.

A “mão do Senhor sobre o Egito” foi lançar as 10 pragas sobre o povo que escravizava os judeus a fim de convencer o faraó Ramsés II a deixar seus escravos partirem para alguns dias de oração. Segundo Humphreys, as pragas não passaram de uma sequência de acontecimentos naturais, que começa com um surto de algas tóxicas que cresceram no antigo delta do rio Nilo matando peixes e dando à água um aspecto avermelhado e um cheiro insuportável. Por isso, rãs e sapos teriam fugido de seu habitat natural para a vila, gerando a segunda praga. Em seguida, sem predadores – já que os sapos estavam morrendo – moscas começaram a invadir as casas e estábulos, transmitindo doenças que mataram o rebanho – quarta e quinta pragas. A sexta peste citada pelo Êxodo, as bolhas e os ferimentos que surgiram na pele das pessoas, também teria sido causada por doenças transmitidas pelas moscas.

A chuva de granizo de proporções catastróficas seria, da mesma forma, um evento natural, pura coincidência. Com o solo molhado, gafanhotos encontravam terreno ideal para depositar ovos, o que leva à oitava praga. Com o vento vindo do leste em direção ao Egito, os gafanhotos naturalmente seguiram aquela direção, apavorando os egípcios.

Como explicação para a nona praga, Humphreys acredita em uma particularmente densa tempestade de areia, que seria comum naquela época do ano, próxima ao mês de março. A derradeira praga, que convenceria o poderoso faraó a abrir mão de seus escravos por alguns dias foi também a mais cruel. Todos os filhos primogênitos das famílias egípcias – inclusive do faraó – morreram. Da mesma forma, todos os primogênitos dos animais de corte também. A explicação do livro de Humphreys é que, com o granizo, os alimentos tenham ficado úmidos e gerado o nascimento de um microorganismo altamente tóxico. Como os filhos mais velhos eram privilegiados, foi destinada a eles mais comida – para o azar deles, aquela mesma que ficou envenenada depois da tempestade.

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A abertura do Mar Vermelho

Então Moisés estendeu a sua mão sobre o mar, e o Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite; e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas foram-lhes como muro à sua direita e à sua esquerda. Êxodo 14:21-22

A primeira explicação sobre a travessia do Mar Vermelho é que os hebreus o teriam feito através do Golfo de Aqaba, que tem largura máxima de 24 quilômetros. Mesmo assim, andar 24 quilômetros – ou mesmo 24 centímetros – sobre as águas é igualmente difícil. Segundo a Bíblia, um vento soprou de leste uma noite inteira e o mar se abriu, deixando os judeus passarem. Pela manhã, o mar se fechou novamente, e, para a sorte dos hebreus, bem em cima dos egípcios que os perseguiam.

A explicação para o feito seria o fenômeno chamado wind setdown, durante o qual uma forte rajada de vento começa a soprar e para subitamente horas depois. Seria esse vento o causador do deslocamento da água que permitiu a passagem dos fugitivos. É claro que Humphreys não sabe explicar como tudo aconteceu na hora certa. Para o especialista, “são milagres de timing”.

A transformação de água salgada em água doce

Então chegaram a Mara; mas não puderam beber das águas de Mara, porque eram amargas; por isso chamou-se o lugar Mara. E o povo murmurou contra Moisés, dizendo: Que havemos de beber? E ele clamou ao Senhor, e o Senhor mostrou-lhe uma árvore, que lançou nas águas, e as águas se tornaram doces. Ali lhes deu estatutos e uma ordenança, e ali os provou. Êxodo 15:23-25

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A explicação mais próxima para que o local a que os judeus chegaram logo após cruzar o Mar Vermelho tenha sido chamado de Mara é que essa seria originalmente uma palavra em hebraico que quer dizer “água salgada”. E foi isso que encontraram, sedentos, após três dias de viagem. Quando chegaram a um lugar que era conhecido por ter água potável,e encontraram água salgada, se desesperaram. A explicação é que a mesma tempestade que teria aberto o Mar Vermelho teria também carregado minerais para a fonte da água que brota em Mara. Moisés teria colocado um pedaço não de qualquer árvore, mas de acácia, que, queimada, se transforma em carvão vegetal – perfeita para filtrar a água.

A travessia do rio Jordão 

E quando os que levavam a arca chegaram ao Jordão, e os seus pés se molharam na beira das águas (porque o Jordão transbordava sobre todas as suas ribanceiras, todos os dias da ceifa), pararam-se as águas, que vinham de cima; levantaram-se num montão, mui longe da cidade de Adão, que está ao lado de Zaretã; e as que desciam ao mar das campinas, que é o Mar Salgado, foram de todo separadas; então passou o povo em frente de Jericó. Josué 3:15-16

No final da jornada, foi preciso cruzar o rio Jordão, para chegar à Terra Prometida. Já sem Moisés, mas sob a tutela de Josué, seu sucessor, outro milagre aconteceu. O rio parou de correr e os hebreus puderam chegar secos do outro lado. A explicação seria, de acordo com Humphreys, a seguinte: um deslizamento de terra causado por um terremoto impediu que o rio seguisse seu fluxo e abriu passagem para que todos atravessassem sem problemas. Segundo o pesquisador, o mesmo fenômeno já aconteceu no rio Jordão pelo menos dez vezes, portanto seria uma explicação razoável.

ressurreição de Lázaro

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A ressurreição de Lázaro

E alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também com que este não morresse? Jesus, pois, movendo-se outra vez muito em si mesmo, veio ao sepulcro; e era uma caverna, e tinha uma pedra posta sobre ela. Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque é já de quatro dias. Disse-lhe Jesus: Não te hei dito que, se creres, verás a glória de Deus? (…) E, tendo dito isto, clamou com grande voz: Lázaro, sai para fora. E o defunto saiu, tendo as mãos e os pés ligados com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o, e deixai-o ir. João 11:37-44

Lázaro era amigo de Jesus e morreu durante uma viagem do Messias. Quando voltou, Lázaro estava enterrado. Jesus mandou que abrissem a caverna e que Lázaro saísse. E ele saiu. Humphreys não tentou interpretar os acontecimentos do Novo Testamento – mas a presidente da Academia Brasileira de Neurologia (ABN), Elza Dias Tosta levantou algumas hipóteses a pedido da SUPER. No caso de Lázaro, diagnósticos possíveis seriam a narcolepsia ou a catalepsia. Doenças diferentes, mas com o mesmo efeito: dormir como uma pedra. Com a falta de recursos médicos da época, poderia ser confundido com morte.

O “levanta-te e anda”

Jesus, porém, conhecendo os seus pensamentos, respondeu, e disse-lhes: Que arrazoais em vossos corações? Qual é mais fácil? dizer: Os teus pecados te são perdoados; ou dizer: Levanta-te, e anda? Ora, para que saibais que o Filho do homem tem sobre a terra poder de perdoar pecados (disse ao paralítico), a ti te digo: Levanta-te, toma a tua cama, e vai para tua casa. E, levantando-se diante deles, e tomando a cama em que estava deitado, foi para sua casa, glorificando a Deus. Lucas 5:22-25

Mesmo sem saber que doença levou o homem a ficar sem andar, é possível levantar algumas hipóteses. Pessoas com esclerose múltipla podem perder os movimentos e melhorar de repente. Outra possibilidade seria a polirradiculoneurite aguda desmielinizante, que ataca o sistema nervoso periférico, com o mesmo efeito. Também é possível que alguém paralisado por conta de uma falta aguda de potássio se recupere repentinamente.

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É isso. E de novo: acreditar no texto bíblico é uma questão de fé. Mas tentar encontrar uma razão cética para eles não deixa de ser um bom passatempo científico.

 

 

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