PRORROGAMOS! Assine a partir de 1,50/semana

A gente é mais criativo sem patrão

A Internet está matando as grandes gravadoras. E isso está fazendo um bem danado para a saúde da música

Por Da Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 31 out 2016, 18h54 - Publicado em 31 Maio 2007, 22h00

Texto André Barcinski

Em janeiro, o site do grupo de rock Dispatch anunciou a venda de ingressos para um show no tradicional Madison Square Garden, em Nova York. A venda seria exclusiva para “amigos” da banda inscritos no site de relacionamentos MySpace. Em menos de 30 minutos, os 22 000 ingressos acabaram. No dia seguinte, a banda anunciou um show extra. No total, vendeu 66 000 ingressos para os 3 shows.

O mais surpreendente nessa história toda: o Dispatch é um grupo independente, sem ligação com nenhuma grande gravadora. O show não teve um mísero anúncio em TV ou em jornais. Nenhuma rádio recebeu “jabá” para tocar músicas da banda. E mesmo assim o Dispatch lotou o Madison Square Garden. Foi a primeira vez que uma banda sem contrato com gravadoras tocou lá.

Outra história curiosa: em 2005, depois de vários anos amargando uma carreira errante, a banda de rock americana OK Go tornou-se um fenômeno de vendas. O motivo? Um vídeo caseiro, que mostrava os 4 músicos da banda dançando uma coreografia ridícula para a faixa A Million Ways. O clipe – gravado no quintal da casa de um deles – foi parar no YouTube, onde em pouco tempo foi acessado mais de 10 milhões de vezes e tornou-se o vídeo musical com maior número de visitas já registrado. No ano seguinte, a banda repetiu a dose: lançou no YouTube o clipe de Here it Goes Again, mostrando outra coreografia constrangedora, desta vez em cima de esteiras de ginástica. O novo clipe foi visto mais de 20 milhões de vezes e deu à banda o Prêmio Grammy de 2007 de melhor videoclipe.

Dispatch e OK Go têm uma coisa em comum: as duas bandas se deram bem à revelia da grande mídia e das grandes gravadoras. O Dispatch sempre teve gravadora própria; já o OK Go agora é contratado da Capitol Records, a lendária casa de Beatles, Pink Floyd, Queen e Frank Sinatra. Mas a Capitol só ficou sabendo do fenômeno que o OK Go havia se tornado depois que milhões de fãs conheceram o grupo via YouTube. Ou seja: como em muitos casos, a “grande gravadora” estava atrasada, perdida, demonstrando uma total falta de sintonia com os fãs e com os novos conceitos de marketing que apelam à geração MySpace.

Quem está em crise?

Hoje, fala-se muito em “crise da indústria da música”. As grandes gravadoras tentam barrar o download ilegal, processando sites e, muitas vezes, os próprios fãs. É verdade que o número de discos vendidos cai: em 2006, a venda de CDs nos EUA caiu cerca de 14% em relação a 2005; a previsão para 2007 é de uma nova queda, que pode chegar a 20%. Grandes redes internacionais de lojas de discos, como a Tower e a HMV, faliram e fecharam as portas.

Continua após a publicidade

São números reais, mas que escondem outra verdade: a tal “crise” não atinge a indústria da música, mas a indústria do CD, que são coisas bem diferentes. “As gravadoras não estão interessadas em vender música, mas em vender discos de plástico”, diz David Kusek, co-autor de The Future of Music (“O Futuro da Música”, sem edição brasileira). A verdade é que nunca se ouviu tanta música no mundo.

O que estamos vivenciando é uma era de descentralização do controle sobre a música. E, quanto mais as gravadoras perdem o controle sobre as bandas, desde sobre o que elas devem gravar até sobre o que vestir, a cara de bravo que precisam fazer, mais o público gosta do trabalho dos músicos.

Desde 1999, o número de ingressos vendidos para shows nos EUA subiu mais de 100%. Novos meios de distribuição de música – como ringtones para celulares ou trilhas sonoras de videogames – vêm crescendo a cada ano.

Cada vez mais, os artistas percebem que não precisam das gravadoras. Sites como MySpace possibilitam o contato direto com os fãs, sem intermediários. Se antes os músicos reclamavam do privilégio que alguns artistas tinham na programação das rádios, agora qualquer um pode montar a própria rádio na internet e divulgá-la via MySpace ou site próprio.

Nesse turbilhão de novidades, as gravadoras parecem perdidas. “O paradigma da indústria da música sempre foi o de manter total controle sobre os artistas e o público”, diz Gerd Leonhard, que também assina o livro O Futuro da Música. “A indústria está sendo forçada a rever seus conceitos nessa era digital, que claramente tende a dar o controle ao cliente. (…) Muitos executivos da indústria da música achavam que eram donos do mundo. Eles estavam acostumados a se ver como donos de seus feudos e, por extensão, donos do gosto de seus clientes.”

Continua após a publicidade

Em um livro chamado The Long Tail – Why the Future of Business Is Selling Less of More (“A Longa Cauda – Por Que o Futuro dos Negócios é Vender Menos de Mais”, sem tradução para o português), o editor da revista Wired, Chris Anderson, vai mais longe: segundo ele, o futuro do mercado de cultura pop – não só da música – está em explorar nichos de mercado, não confiando só nos blockbusters que lideram as paradas de sucesso.

Anderson diz que a oferta ilimitada proposta por sites de compra de música, filmes e livros tem possibilitado ao consumidor ir mais fundo em suas escolhas. “Os sucessos de antigamente aconteciam muitas vezes pela falta de alternativa para o consumidor.” Agora acontece o contrário: todo mundo pode escolher o que ver, ouvir, ler, quando quiser, do jeito que bem entender. Ninguém impõe mais nada. A escolha é do freguês.

Som em altos e baixos

Continua após a publicidade

A venda de discos nos EUA não pára de cair: neste ano, a previsão é de uma queda de cerca de 20%. Mesmo assim, nunca se ouviu tanta música como agora – os shows, por exemplo, estão cada vez mais lotados.

Vendas de…

1º TRIMESTRE 2006

…Músicas pela internet – 242 milhões

…CDS – 112 milhões

Continua após a publicidade

1º TRIMESTRE 2007

…Músicas pela internet – 288 milhões

…CDS – 89 milhões

Ingressos para shows

1º TRIMESTRE 2005

Continua após a publicidade

10,6 milhões

1º TRIMESTRE 2006

13,6 milhões

Publicidade


Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY
Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Super impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 10,99/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.