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A história do rock – Os trovadores

Bob e os outros Dylans.

Por Ivan Pinotti
Atualizado em 2 set 2019, 13h20 - Publicado em 18 ago 2019, 13h19

 

(McCarthy/Getty Images)

Trovador é o nome dado a músicos da Idade Média que, viajando pelos vilarejos, cantavam sobre temas como disputas de cavaleiros, amores perdidos, guerras ou simplesmente faziam sátiras sobre os acontecimentos do dia a dia medieval. Oitocentos anos depois, os trovadores do rock mantêm a essência de narrar a vida cotidiana.

Cada qual com sua característica, esses músicos podem assumir papéis de porta-voz de certos setores da sociedade e depois, em alguns casos, vão querer fugir desses rótulos de qualquer forma. Mas os fãs, eternos satisfeitos com o passado de seus ídolos, não dão mole. Estão sempre querendo ouvir os hinos que mudaram suas vidas.

A tuberculose provocou uma guinada na carreira de Steven Demetre Georgiou, o greco-britânico que se tornou mundialmente célebre sob o nome artístico Cat Stevens. Quando caiu doente, em 1968, ele já havia conquistado alguma fama na Inglaterra como intérprete e compositor. O single “The First Cut Is the Deepest” – que mais tarde faria ainda mais sucesso na voz de Rod Stewart – entrou na parada britânica na voz de um certo P.P. Arnold. Nos Estados Unidos, porém, ele era um completo desconhecido. Stevens diz ter tido uma revelação mística em algum momento dos três meses em que esteve hospitalizado. Quando retomou a carreira, ele era um menestrel de canções folk e letras longas, quase sempre com uma lição de moral – mas nunca impositivas. O tom professoral suave colou na juventude hippie de então. Stevens arrebatou corações jovens com crônicas como “Wild World” (sobre um homem que tenta se resignar com a perda da namorada) e “Father and Son” (sobre conflito de gerações, um dueto do cantor com ele mesmo). Em 1977, ele teve outra epifania e se tornou muçulmano, o que praticamente encerrou sua carreira. (Divulgação/Reprodução)

 

O canadense começou a carreira ao lado de Stephen Stills no Buffalo Springfield e, depois, com ele, ainda formou o supergrupo Crosby, Stills, Nash & Young. Mas foi na carreira solo que Young se destacou. Buscando um som cru, sem firulas pirotécnicas ou instrumentos esquisitos, Young é a voz do caipira norte-americano, sendo grande responsável pela popularização do country rock nos anos 1970. Com Harvest, disco de 1972, conseguiu seu maior hit, a canção “Heart of Gold”. Durante os anos 1970, lançou ainda uma série de discos impecáveis, como Tonight´s the Night, Zuma e Rust Never Sleeps. Na década seguinte, experimentou o som eletrônico e fez discos de rockabilly e de country music. Foi tão mal que sua gravadora o processou por não fazer mais discos do “estilo Neil Young”. Mas retomou a boa forma a partir dos 1990, reunindo novamente sua banda de apoio, a Crazy Horse, e voltando ao tal estilo: uma voz fina e chorosa, a guitarra suja e descontrolada e os solos insistentes, que às vezes duram mais do que a parte cantada. São uma marca que Young mantém até hoje, septuagenário e ainda fazendo shows ensurdecedores e eletrizantes. (Michael Putland/Getty Images)

 

Se Bob Dylan podia ser um tanto hermético com a voz anasalada e as letras complexas, Paul Simon entregava folk fácil para as massas. Nos anos 1960, Simon se tornou parceiro do amigo de infância Art Garfunkel, dono de uma voz cristalina e afinadíssima. O dueto produziu algumas das mais belas harmonias vocais da música pop, como em “The Sounds of Silence”. Além das melodias pegajosas, Simon tinha o talento de escrever letras aparentemente simples, mas que abordavam temas sensíveis com delicadeza. Quando a dupla se separou, em 1970, Simon perdeu o rouxinol Garfunkel. Mas ficou livre para explorar outros estilos, como a música zulu em Graceland. (Reprodução/Divulgação)

 

Vagabundos, maltrapilhos, oprimidos e perdedores em geral. Eis a matéria-prima que Bruce Springsteen molda e transforma em canções. E faz um enorme sucesso cantando sobre o fracasso. Desde seu terceiro álbum, Born to Run, de 1975, o compositor emplacou todos os seus 17 discos, com exceção de um, no top ten da parada americana. Em 1984, após encantar o mundo com sua voz rasgada na participação de “We Are the World”, Springsteen lançou “Born in the USA”, até hoje mal interpretada por quem só ouve o refrão. Tratava-se de uma ironia e não de um canto patriótico. Basta ler a letra sobre o retorno problemático de um recruta do Vietnã. “Você não é bonita, mas, hey, você é ok”, diz um vagabundo para sua garota, em “Thunder Road”, outra de suas grandes canções. Vale citar ainda o Oscar (e quatro Grammys) que ganhou por “Streets of Philadelfia”, no qual se coloca como um doente com aids: “Vi meu reflexo no espelho, não reconheci meu rosto”. Ao celebrar o ordinário da vida americana, Springsteen alcança as nuvens. Por isso ele é chamado de The Boss. (Mark and Colleen Hayward/Getty Images)

Esse cara já escreveu perto de centenas de músicas e provavelmente não há uma que vai deixar de te surpreender. Pela inteligência da letra, pelo violão dedilhado ou simplesmente pela famosa voz anasalada. Bob Dylan foi o cara que tirou o rock da adolescência: “Gostaria de que ao menos uma vez você estivesse no meu lugar/ E nesse momento eu seria você/ Aí você perceberia como é chato te ver” (“Positively 4th Street”) ou “Quantas estradas um homem deve percorrer até que você possa chamá-lo de homem?” (“Blowin’ in the Wind”). Tinha 24 e 21 anos quando escreveu isso aí. Por essas e outras, os Beatles diziam “Dylan nos mostra o caminho” a jornalistas ingleses. O artista começou a carreira em 1962, como um cantor de músicas de protesto, com críticas sociais e ao modo de vida americano. Em 1965, trocou o violão pela guitarra elétrica e o folk pelo rock. Os fãs antigos odiaram, mas Dylan seguiu em frente. “Like a Rolling Stone”, provavelmente sua maior canção, descreve uma garota arrogante que de repente não tem onde cair morta. É dessa época sua trilogia de álbuns fundamentais, Bringing It All Back Home, Highway 61 Revisited e Blonde on Blonde, que trazem poesia embalada em um rock peculiar. Segundo Dylan, é “um som de mercúrio feroz, fino. É metálico e brilhante, seja o que for que isso signifique. É o mais próximo que cheguei do som que ouço em minha mente”. Um acidente de moto no final de 1966, que muitos dizem ter sido exagerado por Dylan, o tirou dos holofotes e do palco por oito anos. É nessa volta, em 1974, que Dylan começa a mudar os arranjos e o modo de cantar seus clássicos. Essa ideia, que ele nunca mais largaria, irritou profundamente seus fãs e, ao longo dos anos, ficaria cada vez mais intensificada. Em 1975 lançou Blood on the Tracks, uma impressionante descrição do fim de seu casamento no formato de canções, que foram saudadas como um retorno do artista à sua melhor forma. Um ano depois saiu Desire, com “Hurricane”, a música em que defendia um boxeador acusado de assassinato. Na virada dos anos 1980, surpreendeu meio mundo ao se declarar convertido ao cristianismo (era judeu) e lançar três discos de louvor ao senhor. Estava numa maré baixa, vendendo pouco, quando aceitou entrar no Travelling Wilburys, uma brincadeira que deu muito certo ao lado de George Harrison, Roy Orbinson, Tom Petty e Jeff Lynne. Com eles, lançou dois discos. Em 2016, tornou-se o primeiro músico a vencer o prêmio Nobel de Literatura. Esquisitão, faltou à premiação e mandou Patti Smith recebê-lo em seu lugar. (Bettmann/Getty Images)

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