Cada casal no planeta tivesse no máximo um filho?
Apesar dos aparentes benefícios da medida, só a China, hoje, exerce uma política rígida de controle populacional. Lá, os casais só podem ter dois filhos.
Dagomir Marquezi e Rodrigo Vergara
Imagine que um dia toda a humanidade, por comum acordo, decidisse limitar o número de filhos a um por casal. Além de extinguir “irmãos”, “tios” e “primos”, o primeiro resultado disso é óbvio: se de cada duas pessoas só surgisse um novo indivíduo, a população mundial encolheria. Ainda mais levando em conta que nem todo mundo tem filhos e que muita gente morre antes de chegar à idade fértil, entre outras razões.
É difícil imaginar que uma decisão dessas pudesse ser tomada espontaneamente, mas será que falta muito tempo para isso virar uma necessidade para a humanidade? Até quando poderemos continuar nos multiplicando de forma indiscriminada e sem qualquer controle demográfico? Já somos 6,2 bilhões de pessoas consumindo os recursos do planeta. Vestir, alimentar, transportar e gerar energia para essa multidão está exaurindo a Terra. Segundo estudo divulgado há dois anos pelo WWF (Fundo Mundial para a Natureza, em português), a humanidade consome 42,5% mais que a capacidade de renovação da biosfera. Ou seja, precisaríamos de mais “meio planeta” para chegar a um ponto de equilíbrio com o ambiente.
Isso hoje. Mas a população continua crescendo a uma taxa média de 1,2% ao ano, o que dá cerca de 2,6 filhos para cada mulher. É verdade que o crescimento está cada vez mais lento, mas, ainda assim, é uma expansão considerável. Tanto que, no atual ritmo, já existe uma data marcada para o nascimento do décimo bilionésimo habitante do planeta, e não falta muito: ele nasceria em 16 de dezembro de 2034, mantida a atual tendência de crescimento demográfico.
Se a população diminuísse, os ecossistemas ameaçados ganhariam um fôlego. A superpopulação é, hoje, a maior ameaça às últimas florestas tropicais do mundo, do Brasil à Indonésia. Não bastasse isso, o excesso de gente é também responsável pelo empobrecimento da biodiversidade, pela redução das fontes de água limpa e por outros prejuízos ambientais. Sem contar os graves e conhecidos problemas sociais.
As regiões mais pobres seriam as mais beneficiadas pela redução da população. Ali, em poucas gerações, os níveis de miséria diminuiriam muito. Sim, porque a população mundial não cresce de maneira uniforme. Nos países desenvolvidos, o crescimento populacional é de apenas 0,2% ao ano (nasce, em média, 1,5 filho por mulher). Em alguns desses lugares, a população já está encolhendo. A cada dia, por exemplo, há menos alemães, italianos e espanhóis. Em 2025, suas populações devem estar de 5% a 10% menores.
Mas essa boa média só vale para um quinto da população do mundo. Nos países mais atrasados – leia-se partes da África, Ásia e América Latina –, o crescimento populacional é de 2,5% e cada mulher tem, em média, 5,2 filhos. No Brasil, entre 1992 e 1999, a taxa foi de 1,4% ao ano. Ou seja: quem pode criar tem menos filhos. Quem não pode, tem filhos aos montes. Países pobres como a Jordânia, o Paquistão e o Congo devem dobrar seu número de habitantes até 2025. Nessas regiões, menos filhos significaria menos gente para repartir os poucos bocados, o que reduziria a miséria.
Apesar dos aparentes benefícios da medida, só a China, hoje, exerce uma política rígida de controle populacional. Lá, os casais só podem ter dois filhos. Por um lado, algo tinha que ser feito para que a população de 1,3 bilhão de habitantes não explodisse de uma vez. Mas a medida gerou uma tragédia: as chinesinhas são mortas ou abandonadas ao nascer, especialmente nas áreas rurais, porque os pais preferem um menino, cuja ajuda no trabalho braçal é considerada mais proveitosa.
Um efeito dessa “unigenia” – novo termo cunhado pela Super que deriva de unigênito, que significa “filho único” – seria o envelhecimento da população. É o que está ocorrendo nos países europeus em que a taxa de natalidade já é baixa. Com uma população de idosos ocupando uma porcentagem cada vez maior na sociedade, os sistemas de aposentadoria e benefícios teriam que ser revistos.
Em seus livros, o autor de ficção científica Isaac Asimov tinha uma solução para o problema. No futuro, segundo ele, a tecnologia seria tão avançada que as poucas pessoas ainda presentes sobre a superfície terrestre teriam a seu serviço um exército de máquinas. Pouca gente, vivendo bem e trabalhando pouco. Parece mesmo ficção científica.