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Como uma banana presa com fita na parede passou a valer mais de R$ 5 milhões

A feira está cara na sua cidade? Conheça a história da obra “Comedian”, que foi leiloada por US$ 1 milhão em Nova York.

Por Bela Lobato
23 nov 2024, 12h00

O sacolão pode até estar caro na sua cidade, mas não mais do que na casa de leilões Sotheby’s, em Nova York. Recentemente, a casa vendeu por US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,74 milhões) uma obra chamada “Comedian”, do artista italiano Maurizio Cattelan. Criada em 2019, a obra inusitada consiste em uma banana presa na parede com silver tape e chamou muita atenção desde o começo.

Os visitantes e os críticos de arte estavam igualmente perdidos: será que era uma pegadinha? Uma crítica social ao mercado de arte contemporânea? Ninguém havia decidido ainda quando outro artista tirou a banana da parede e a comeu. Uma performance conceitual?

Uma banana reserva foi colocada no mesmo lugar, e a história toda viralizou. Logo, a obra começou a receber uma multidão em busca de selfies, e foi mais do que a galeria podia receber. Ainda em 2019, três edições foram vendidas por entre US$ 120 mil e US$ 150 mil (entre R$ 689 mil e R$ 868 mil, aproximadamente).

“Temos plena consciência do absurdo flagrante do fato de que “Comedian” é um produto barato e perecível e alguns centímetros de fita adesiva”, disseram os Coxes, o casal que comprou uma das edições em 2019, em entrevista à AP News. “Na verdade, sentimos que a banana de Cattelan se tornará um objeto histórico icônico.”

Na prática, o que está sendo vendido não é a banana em si, já que a original já pereceu há muito tempo. Tanto a banana quanto a fita foram pensadas para serem substituídas regularmente.

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O montante milionário foi dedicado a um certificado de autenticidade que concede ao proprietário a permissão e a autoridade para reproduzir essa banana e a fita adesiva em sua parede como uma obra de arte original de Maurizio Cattelan. O diretor de arte contemporânea da Sotheby’s, David Galperin, a considera profunda e provocativa.

“O que Cattelan está realmente fazendo é virar um espelho para o mundo da arte contemporânea e fazer perguntas, provocando reflexões sobre como atribuímos valor às obras de arte, o que definimos como obra de arte”, disse Galperin em entrevista à AP News.

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O título da obra (“O Comediante”) sugere que a peça não pretendia ser levada a sério. Para muitos, ela era apenas uma crítica aos colecionadores abastados que frequentavam a primeira feira em que estreou. Além disso, seu caráter polêmico e inusitado poderia ser um bom chamariz de audiência nas redes sociais.

Mas o autor rechaça essa interpretação. “Para mim, Comedian não era uma piada; era um comentário sincero e uma reflexão sobre o que valorizamos.” disse Cattelan em 2021, em entrevista ao The Art Newspaper. “Nas feiras de arte, a velocidade e os negócios imperam, então eu via as coisas da seguinte maneira: se eu tivesse que estar em uma feira, poderia vender uma banana como os outros vendem suas pinturas. Eu poderia jogar dentro do sistema, mas com minhas regras.”

A obra, que não deixa de ser polêmica, é comparada por alguns críticos à outros fenômenos da arte contemporânea, como as latas de sopa de Andy Warhol (1962) e a obra “Fountain” de Marcel Duchamp (1917). São obras que provocaram discussões profundas sobre o valor e o papel da arte, ao questionar o que pode ou não ser considerado arte.

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Legenda Uma foto da reprodução de Fountain, de Marcel Duchamp, exibida na Tate Modern, em Londres.Latas de sopa Campbell's, obra de Andy Warhol, no Museu de Arte Moderna, MOMA.
As latas de sopa Campbell, de Andy Warhol; e a obra “Fountain” de Duchamp. (Suntooooth/Gorup de Besanez/Wikimedia Commons)

“As obras de arte mais influentes e radicais do século passado tiveram o poder de mudar fundamentalmente as percepções sobre a natureza da própria arte. Nesse espírito, Comedian é uma obra desafiadora de puro gênio.” disse Galperin, em comunicado. “Se, em sua essência, Comedian questiona a própria noção do valor da arte, colocar a obra em leilão em novembro será a realização definitiva de sua ideia conceitual essencial – o público finalmente terá uma palavra a dizer para decidir seu verdadeiro valor.”

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