Confira a entrevista da SUPER com o cineasta Quentin Tarantino
Às vésperas de lançar seu novo filme - o primeiro faroeste -, Quentin Tarantino (Pulp Fiction, Cães de Aluguel, Kill Bill, À Prova de Morte, Bastardos Inglórios...) falou com exclusividade com a SUPER. Famoso pelo sangue nos filmes, ele frisa, com bom humor, a importância do riso.
Evelyn Rodrigues, de Los Angeles
Por que você é tão obcecado por violência?
Não sou. É só uma coisa divertida para fazer. Acredito que, junto com o riso, se você configurar o cenário para a vingança e o fizer de maneira satisfatória, esse é um dos gatilhos emocionais mais efetivos em um filme. Não estou falando de vida real. É um filme. Você pode ficar com pena do mocinho e raiva dos vilões. Em situações de vingança na vida real, eu nunca me senti bem. Assisti outro dia àquele filme 50% no cinema com uma garota. Quando o personagem do Joseph Gordon-Levitt vira a mesa sobre a menina que estava traindo ele, eu estava rindo muito, do tipo: “Isso, se ferrou, sua vaca!”. Quando acabou o filme, a menina soltou um comentário do tipo: “Uau, alguma garota deve ter feito algo muito ruim para você ter tido aquela reação”, e eu disse: “Lógico que não, era só um filme e ela era uma vaca!” (risos).
Além de kung fu, há outras influências em seu trabalho que não são tão perceptíveis?
Acho que sim. Por mais que eu ame filmes, há explorações literárias. Minha forma de narrar é, às vezes, similar à de um livro. Na maioria das vezes, ele começa a história de um ponto na metade da trama e desenvolve de forma irregular até o fim. Além disso, escritores contam as histórias por capítulos – já fiz isso também. É parte do meu cinema.
O que Django Livre, seu primeiro faroeste, tem de especial?
Eu me considero um estudante de filmes de velho oeste e estava criando um mundo específico neste caso. Boa parte é rodada no Mississipi, onde entram aqueles clichês com vingança e o moço mais novo tendo um mentor. Nós já vimos essa história muitas vezes, mas fazer isso com um ex-escravo que vai até as plantações para salvar a mulher, acrescentando as convenções ocidentais e misturando com os livros de história… Eu nunca vi isso antes.
O ator Jamie Foxx (astro de Django Livre) o definiu como um artista hip-hop. Você já se viu assim?
É porque não tenho medo de me apropriar de coisas e transformá-las em algo novo. Eu pego scripts de outros filmes e os faço ficar do meu jeito. É mais ou menos o que os artistas de hip-hop vêm fazendo nos últimos 20 anos. É o que eu tenho feito nesses 20 anos.
Todos os seus filmes têm um personagem cômico. Qual o significado do riso para você?
Gosto que minhas histórias sejam engraçadas. Gosto de manipular o público, é uma das minhas coisas favoritas. Do tipo: “Ria, ria, ria, agora pare de rir, pare de rir, ria de novo!” (risos). Eu me sinto orgulhoso de poder fazer as pessoas rirem de coisas que não são engraçadas. Quero fazê-las rir pensando: “Oh, meu Deus, será que eu deveria estar rindo disso?”.