Dinossauro espacial pousa no Centro do Rio: conheça o Museu do Amanhã
Rio de Janeiro inaugura um museu espetaculoso para levar as pessoas a refletirem sobre o futuro.
O prédio faz lembrar um dinossauro branco que acabou de beber água na baía de Guanabara e agora se prepara para correr rumo à Praça Mauá, no coração do centro velho do Rio de Janeiro, talvez pensando em devorar alguém. É uma escultura monumental, meio intergalática, do espetaculoso arquiteto espanhol Santiago Calatrava, projetada para ser sustentável – mas não discreta. E nem barata (custou 230 milhões de reais).
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A ideia básica por trás do impressionante Museu do Amanhã, inaugurado no último fim de semana no Rio, é a de mostrar para o grande público que o tempo não é uma estrada – linear e inescapável. “Ele é mais como um delta de um rio”, como disse o físico Luiz Alberto Oliveira, curador-chefe do museu. “A cada momento, há inúmeros futuros possíveis. E escolher qual deles vamos ter é o que fazemos no presente.” O “amanhã”, portanto, é aquilo que construímos hoje – e não está dado, é uma escolha nossa. Enfim, é um museu meio filosófico, que se baseia em ciência (principalmente a ciência do clima) e usa arte e tecnologia para jogar os visitantes no meio dessas reflexões.
“E é um museu sem acervo”, explica a arquiteta Liana Brazil, sócia da Superuber, o estúdio de design de experiência que colocou para funcionar as exposições. Tudo que o museu mostra, com uma só exceção (a escultura de uma grande estrela de vinte pontas do escultor-estrela americano Frank Stella, situada exatamente onde se esperaria que o dinossauro gigante botasse um ovo) existe apenas em forma digital. “Nesse sentido, é como o Museu da Língua Portuguesa, que acaba de pegar fogo em São Paulo – ele era uma espécie de irmão mais velho do Museu do Amanhã”, diz o curador Oliveira. Ambos os projetos tiveram grande envolvimento da Fundação Roberto Marinho, ligada aos proprietário da Rede Globo, que contribuíram com uma cultura fortemente audiovisual.
Foi Liana quem me conduziu pelo espaço, junto com seu marido e sócio Russ Rive, o engenheiro sul-africano que é o responsável pela parte tecnológica da experiência. “Meu trabalho é fazer com que você não perceba que há tanta tecnologia aqui”, diz Russ, responsável pelo sistema que faz com que o conteúdo do museu se atualize constantemente e aprenda com o trajeto de cada visitante lá dentro.
O passeio é cheio de grifes. Começa com um vídeo imersivo de 360 graus, projetado nas paredes internas de uma esfera, contando a história da origem do Universo, da vida e da mente – só isso. A assinatura é de Fernando Meirelles, o diretor de Cidade de Deus. O museu inclui também uma emocionante reconstituição audiovisual da demolição da Perimetral, a avenida suspensa que deu lugar ao Porto Maravilha, a nova orla no Centro do Rio, na qual o Museu do Amanhã é a estrela principal. Enquanto 20 projetores passam as cenas da implosão, sirenes tocam, ouve-se o barulho da detonação e fumaça de gelo seco faz as vezes da poeira. A autoria dessa instalação também é estelar: uma parceria do artista plástico Vik Muniz com o diretor de cinema Andrucha Waddington.
Mas a maior estrela é mesmo o prédio-dinossauro, feito para chamar atenção de longe e virar um novo símbolo no skyline da cidade, na esperança de que isso ajude a modificar os “amanhãs” do sofrido Centro do Rio. Cercado de um fresco espelho d’água, que é abastecido com água do mar gelada puxada do fundo da baía, e coberto de placas solares que vão girando no decorrer do dia, o prédio é fresco e eficiente. Além disso, muda de aparência a cada vez que se olha para ele.
Ao final da visita, me dei conta de que não aprendi muito – o museu é mais inspiração do que informação. O conteúdo é fragmentado, e a falta de um acervo concreto dá um certo gosto de Google à visita. Mas, como é de se esperar de um projeto da Fundação Roberto Marinho, os efeitos especiais são de cair o queixo. E o público, que lotou o museu praticamente todos os dias desde a inauguração, está adorando.