Dom Quixote, a lei do mais forte
A lista dos 100 livros mais importantes também guarda suas surpresas.
Leandro Sarmatz
Cem dos mais reputados escritores do mundo elegeram o romance Dom Quixote, do espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), a melhor obra de ficção de todos os tempos. Entre os eleitores estavam o indiano Salman Rushdie, o mexicano Carlos Fuentes e a americana Susan Sontag, além de vencedores do Prêmio Nobel como o irlandês Seamus Heaney e a sul-africana Nadine Gordimer. Cada um foi convidado a mencionar as dez maiores obras da literatura mundial. A eleição tem pedigree: foi organizada pelo Instituto Nobel.
A obra de Cervantes recebeu 50% dos votos. O monumental Em Busca do Tempo Perdido, romance em sete volumes do francês Marcel Proust, ficou em segundo. Obras do inglês William Shakespeare, do tcheco Franz Kafka e do italiano Dante Alighieri também foram lembradas. O único livro brasileiro foi Grande Sertão: Veredas, do mineiro João Guimarães Rosa.
A lista de escritores consultados oferece um exemplo da divisão de forças do mundo atual e mostra a franca decadência de algumas culturas que eram consideradas centrais até há bem pouco tempo. Dos 100 autores consultados, nada menos que 28 fazem parte do universo da língua inglesa (americanos, britânicos, australianos). Em segundo lugar, aparecem os escritores do mundo árabe (dez). A língua francesa, que, em um século de Prêmio Nobel, forneceu 12 ganhadores, teve apenas sete autores consultados – quatro a mais que a língua portuguesa (dois brasileiros foram consultados: João Ubaldo Ribeiro e Ana Miranda).
A lista dos 100 livros mais importantes também guarda suas surpresas. A eleição de obras do nigeriano Chinua Achebe, do islandês Halldor Laxness e do sudanês Tayeb Salih, todos sem tradução no Brasil, contribuem para o vapor de caldeirão cultural ambicionado pelos organizadores de uma enquete em que até Deus foi lembrado: a obra bíblica O Livro de Jó, composta entre os anos 600 e 400 a.C, figura entre os eleitos.