Eram os deuses narcóticos?
Ela entrava em contato com os deuses e, no meio de um transe, fazia revelações sobre o futuro. Apolo, deus solar, falava pelos seus lábios.
Ana Paula Corradini
Grécia, século VII a.C. No templo de Delfos, pessoas de todas as cidades-estado aguardam a sacerdotisa. Finalmente, a pitonisa, como era chamada, chegava e começava o ritual. Ela entrava em contato com os deuses e, no meio de um transe, fazia revelações sobre o futuro. Apolo, deus solar, falava pelos seus lábios. Bom, parece que não era bem assim. Para o geólogo holandês Jelle de Boer, as visões tinham uma causa mais terrena: drogas. De Boer e sua equipe da Universidade Wesleyan, de Connecticut, Estados Unidos, descobriram que o templo, hoje um ponto turístico, fica sobre o cruzamento de duas fendas no solo. Ao analisar rochas do lugar e água de fontes próximas, a equipe encontrou etano, metano e etileno, famosos por seu efeito narcótico. O etileno, por exemplo, era usado em cirurgias como anestésico. “Ao consumirem essas substâncias, as pessoas ficam alegres, mas não há efeito sobre os músculos”, diz De Boer. O geólogo acha que as substâncias, sob a forma de gás, saíam pelas fendas e batiam na sacerdotisa.