Ficção Científica: A instabilidade do Universo
O projeto do cientista era assombroso: deter a marcha do tempo para estudar uma estrela bem de perto, daqui a 27,5 milhões de anos. O plano funcionou perfeitamente. Só faltou um detalhe...
Isaac Asimov
O professor Firebrenner explicou tudo cuidadosamente.
-A percepção do tempo depende da estrutura do Universo. Quando o Universo se expande, percebemos o tempo indo para frente; caso se contraísse, perceberíamos o tempo indo para trás. Se de alguma forma pudéssemos forçar o Universo a ficar estático, sem se expandir nem se contrair, o tempo permaneceria imóvel.
-Mas não se pode tornar o Universo estático – disse Mr. Atkins, fascinado.
– E, no entanto eu posso tornar estática uma pequena porção do Universo – disse o professor – Apenas o bastante para conter uma nave. O tempo se deterá e poderemos andar para frente e para trás â vontade, e a viagem inteira vai durar menos que um instante. Mas todas as partes do Universo vão se mover enquanto ficarmos parados, fixados ao tecido do Universo. A Terra gira em volta do Sol, o Sol se move rumo ai centro da Galáxia, a Galáxia se desloca ao redor de um centro de gravidade – todas as galáxias se movem. Calculei esses movimentos e descobri que daqui a 27,5 milhões de anos uma estrela anã-vermelha irá ocupar a posição do nosso Sol hoje. Então, se avançarmos 27,5 milhões de anos no futuro, em menos de um instante a anã-vermelha estará perto de nossa nave espacial e nós poderemos voltar para casa depois de estudá-la.
Atkins disse:
– Será que isso é possível?
– Eu já enviei animais de laboratório através do tempo, mas não consigo fazer com que eles regressem automaticamente. Se você e eu formos, podermos manipular os controles de modo a voltar.
– E você quer que eu vá junto?
– Claro. É preciso haver dois. É mais fácil acreditar em duas pessoas do que em uma. Venha. Será uma aventura incrível.
Atkins inspecionou a nave. Era um modelo 2217 Glenn movido a fusão e parecia lindo.
– Suponha – ele disse – que ela pouse dentro da anã-vermelha.
– Isso não acontecerá – disse o professor -, mas se acontecer é o risco que corremos.
– Mas, quando voltarmos, o Sol e a Terra terão se movido. Ficaremos no espaço.
– Claro, mas quanto o Sol e a Terra podem se mover nas poucas horas em que ficaremos observando a estrela? Com esta nave alançaremos nosso amado planeta. Está pronto, Mr. Atkins?
– Pronto – suspirou Atkins.
O professor Firebrenner fez os ajustes necessários e fixou a nave no tecido do Universo, enquanto 27,5 milhões de anos passaram. E então, mais rápido que um relâmpago, o tempo começou a mover-se para frente de novo, como sempre, e tudo no Universo moveu-se com ele…
Pela escotilha da nave, o professor Firebrenner e Mr. Atkins podiam ver a pequena esfera da estrela anã-vermelha. O professor sorriu.
– Você e eu. Atkins, somos os primeiros a ver de perto uma estrela que não é o nosso próprio Sol.
Eles ficaram ali duas horas e meia fotografando a estrela e seu espectro e tantas estrelas próximas quanto puderam. Fizeram ainda observações corona gráficas especiais, testaram a composição química do gás interestelar e então, com alguma relutância, o professor Firebrenner disse:
– Acho melhor a gente voltar agora.
Novamente os controles foram ajustados e novamente a nave foi fixada ao tecido do Universo. Eles viajaram 27,5 milhões de anos rumo ao passado e, mais depressa que um relâmpago, estavam de volta ao local de partida.
O espaço negro. Não havia nada, Atkins disse:
– Que aconteceu? Onde estão a Terra e o Sol?
O professor franziu a testa. Disse:
-Andar para trás no tempo deve ser diferente. O Universo inteiro deve ter-se movido.
-Para onde?
– Não sei. Outros objetos mudam de posição dentro do Universo, mas o Universo como um todo tem de mover-se numa determinada direção. Aqui estamos no vácuo absoluto, no Caos original.
-Mas nós estamos aqui. Não é mais o Caos original.
– Exatamente. Isto quer dizer que introduzimos uma instabilidade neste lugar em que existimos, e isso quer dizer…
No mesmo instante em que ele disse “isso”, uma Grande Explosão os aniquilou. Um novo Universo surgiu e começou a se expandir.
Nascido na União Soviética em 1920, Isaac Asimov foi levado para os Estados Unidos com 3 anos.
Formado em Bioquímica em 1939, em Nova York, no mesmo ano começou a escrever ficção científica. Incluindo livros de divulgação de ciência, tem cerca de quatrocentos títulos publicados.