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Francesa de 90 anos tinha obra-prima de R$ 100 milhões na cozinha – e nunca soube

Quadro pertencente ao Renascimento italiano estava na casa de uma idosa perto de Paris, e quase foi parar no lixo.

Por A. J. Oliveira
28 out 2019, 20h20

De vez em quando brotam no mundo da arte histórias que transcendem os círculos restritos das pessoas que normalmente acompanham esse universo, como eruditos e especialistas. A mais recente delas acaba de vir à tona: um pequeno painel de 25 cm encontrado na casa de uma senhora francesa foi leiloado neste domingo (27) por mais de 24 milhões de euros — o equivalente a mais de R$ 100 milhões. Por pouco não foi jogado fora.

Tamanho valor se deve à atribuição da obra a um dos mais importantes e celebrados mestres precursores da pintura renascentista italiana: Cenni di Pepo, mais conhecido como Cimabue. Nascido em Florença por volta de 1240, o pintor foi o primeiro a usar, entre 1272 e 1302, inovações estéticas revolucionárias que seriam aprofundadas nos séculos seguintes. Mas a antiga dona do quadro não sabia de nada disso.

O painel esteve pendurado na parede que divide a cozinha e a sala de estar da casa de uma idosa de 90 anos que mora em Compiègne, cidade a cerca de 80 quilômetros de Paris. Quem o descobriu foi Philomène Wolf, da casa de leilões Actéon. Chamada às pressas para avaliar os itens, ela quase deixou passar o trabalho. “Tive uma semana para dar uma opinião de especialista sobre o conteúdo da casa e esvaziá-la”, disse ao jornal Le Parisien.

“Eu precisei abrir uma janela na minha agenda. Se não tivesse feito isso, tudo teria sido mandado para o lixo”, conta Wolf. Ela consultou o especialista parisiense em história da arte Eric Turquin, o mesmo que em junho identificou um quadro perdido de Caravaggio. Mesmo diante da importância da obra, Turquin diz ter ficado surpreso com o valor final do leilão, que a princípio era estimado para render algo em torno de 4 a 6 milhões de euros.

Ao New York Times, o historiador relatou ter ficado satisfeito quando os lances atingiram 10 milhões de euros, e “tremendamente feliz” quando eles bateram 15 milhões. “O preço foi maior do que eu poderia ter sonhado, e havia uma galeria de arte contemporânea participando do leilão, o que foi algo novo para nós”, afirma Turquin. Ao menos seis participantes estavam na disputa acirrada pelo “novo” Cimabue — quem o levou para casa foi Fabrizio Moretti.

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O vendedor de arte de Londres explicou ter comprado em nome de dois colecionadores. “É uma das descobertas sobre os velhos mestres mais importantes dos últimos 15 anos. Cimabue é o começo de tudo. Ele começou a arte moderna. Quando segurei o quadro nas minhas mãos, eu quase chorei”, disse. Segundo a avaliação dos pesquisadores, o painel tem dois “gêmeos”. Todos faziam parte de um altar do final do século 13.

Essa obra de Cimabue foi batizada de “A Zombaria com Jesus”, e fazia parte do mesmo díptico (duas tábuas de madeira emendadas por dobradiças) com outros dois pedaços da mesma pintura: “A Flagelação de Cristo”, que está em Nova York, e “A Virgem e a Criança com Dois Anjos”, em Londres. Os especialistas descobriram a relação graças a fragmentos da moldura, do estilo e da técnica, além de pequenos túneis em comuns feitos por vermes.

Cimabue é valorizado por ter rompido com a arte bizantina, rígida e solene, e adotado um estilo de pintar que prezava pelo naturalismo e tinha mais perspectiva. Foi daí que começou a reinvenção da pintura ocidental pelos artistas italianos. Ninguém, nem a senhora francesa, faz ideia de como o pequeno tesouro parou nas mãos da família, há gerações. Mas existe a suspeita de que devem haver mais pedaços do mesmo díptico perdidos por aí.

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