Fabiano Onça
Nem só de tapete vermelho e calçada da fama vive a indústria do entretenimento. Desde 1999, os games são responsáveis por um faturamento duas vezes maior que a indústria de cinema. São 21 bilhões de dólares contra “míseros” 9 bi de Hollywood. E a última novidade nesse mercado atende pelo singelo pseudônimo de MMORPG, ou Massively Multiplayer Online Role-Playing Games (algo como “jogos massivos de interpretação online”).
As três últimas letras da sigla são mais conhecidas. RPG é um tipo de jogo que se tornou popular a partir dos anos 70. No início, era jogado numa mesa. Algumas pessoas se reuniam e, a partir de uma história, criavam uma aventura comum interagindo com seus personagens.
Os jogos MMORPG são uma combinação entre RPG e os games online. O avanço da tecnologia em redes tornou possível criar um mundo virtual dentro de um computador central (servidor) e oferecer aos jogadores a possibilidade de acessá-lo através da internet. Nesse mundo, além de topar com monstros controlados pelo computador, o jogador poderia encontrar milhares de outros jogadores humanos que também estivessem vagando por aquele universo virtual.
“O grande apelo desse tipo de jogo é justamente a possibilidade de interagir com outras pessoas. As possibilidades de relacionamento se tornam infinitas”, diz Delmar Galisi, coordenador do curso de design e planejamento de games da Universidade Anhembi-Morumbi. A maior prova disso é que milhares de pessoas em todo o mundo passam mais da metade do seu dia vivendo no mundo virtual, imersas em outra realidade. São pessoas que não curtem baladas com os amigos, mas não perdem uma festa na cantina de sua guilda.
Além de George Lucas – que lançou o sucesso Star Wars Galaxy no ano passado – a empresa americana Warner Bros., produtora de Matrix, também farejou a mina de ouro. Desde maio, eles estão testando a versão MMORPG da marca e prometem que, a partir do ano que vem, será possível viver no universo virtual de Neo, Trinity e Morpheus.
5 passos para entender o jogo
Em Star Wars Galaxy, há dois grupos, os rebeldes e os imperiais – que caçam rebeldes foragidos. (1) Numa expedição, o jedi vai na frente, já que suas armas são mais eficientes. (2) Os guerreiros ficam distantes e usam armas de fogo. (3) O médico (de vermelho) acompanha o grupo para tratar quem se fere durante a batalha. (4) Enquanto isso, o mestre-armeiro desenvolve armas necessárias para que os guerreiros continuem o percurso. (5) Quem se fere ou se cansa recupera energias assistindo a uma apresentação do dançarino
Reportagem fotográfica
7 histórias de vida virtual
Night Strike, super-herói
Jogo: City of Heroes
Na vida real: Alexander Brito, 22 anos, designer gráfico
No jogo: É cheio de poderes e adora colocá-los para funcionar. Quando está entediado, vai até a cidade dos iniciantes e, com sua supervelocidade, fica dando voltas em torno deles, só para se divertir. Também lança raios com as mãos para apavorá-los. “O melhor momento do jogo é ver um campo de batalha cheio de supervilões derrotados. Sempre me lembro do locutor de futebol Januário de Oliveira dizendo ‘tá lá o corpo estendido no chão!’”
NetQuaker, mestre-armeiro
Jogo: Star Wars Galaxy
Na vida real: Rondineli Barbosa, 24 anos, estuda Direito
No jogo: Armas são artigos muito valiosos nos jogos e NetQuaker resolveu transformá-las em sua profissão. Ele é um dos melhores fabricantes de armas do jogo. A fórmula do sucesso? Muito trabalho, às vezes 14 horas por dia. A recompensa? Fama. “Outro dia uma guerreira chegou na minha loja e disse: ‘Nossa, você é o famoso NetQuaker! Já ganhei muitos duelos usando suas armas’. É claro que acabei fazendo um ótimo desconto para ela”
Rotter, colecionador
Jogo: Ultima Online
Na vida real: Pedro da Ros, 22 anos, estudante de Engenharia
No jogo: Nos primórdios do Ultima Online, participou da caçada a um prisioneiro e, na hora da pilhagem, conseguiu pegar as calças do rapaz, peça única no jogo. Logo, passou a ser importunado por colocionadores, que se dispunham a pagar qualquer preço por ela. “Acabei vendendo para um amigo por cerca de 2 mil dólares.” RoTTer preferiu receber a maior parte do valor na moeda do jogo. “Mas 350 dólares foram pagos em dinheiro mesmo” diz
Calil, jedi
Jogo: Star Wars Galaxy
Na vida real: Daniel Calil, 26 anos, engenheiro civil
No jogo: É um dos três únicos jedis brasileiros. Para chegar ao posto, ele teve que se tornar mestre nas 32 profissões do jogo. Levou sete meses e jura que valeu a pena. “É como mostram os filmes: você pode utilizar todas as habilidades da força, como truques mentais, soltar raios das mãos, correr mais rápido que os outros. E, claro, há o sabre de luz, uma arma muito poderosa e elegante. Além disso, todo mundo pede para tirar uma foto ao meu lado”
Tarak, dançarina
Jogo: Star Wars Galaxy
Na vida real: Lia Rodrigues, 22 anos, estuda Ciências da Computação
No jogo: É uma “master dance” da raça Twi’lek. Seu trabalho é executar ousadas performances de dança em cantinas. Quanto melhor ela dança, mais ajuda a curar o estresse de batalha dos guerreiros que vieram assisti-la. “O lado ruim é que essa não é uma profissão com renda garantida. Muitas vezes você se cansa e não ganha gorjeta”
Lain Runner, contrabandista
Jogo: Star Wars Galaxy
Na vida real: James Della Valle, 25 anos, jornalista
No jogo: No mundo virtual, é possível encontrar quase tudo que temos no mundo real. Lain Runner resolveu investir em um negócio de alto risco e, por isso mesmo, muito lucrativo. Ele é fabricante de substâncias ilícitas, como o pó Giggledust, que, quando inalado, deixa o jogador em estado de euforia. Além de pagar caro, os usuários ainda têm que tomar cuidado com as batidas dos soldados imperiais, tão freqüentes quanto no mundo real
Tolemak, caça-dragões
Jogo: EverQuest
Na vida real: Rafael dos Santos, 19 anos, estuda Tradução
No jogo: Participou de um dos piores ataques da história do jogo. Dois grupos rivais se encontraram na ante-sala do dragão e decidiram discutir quem havia chegado primeiro. “Na confusão, entramos na sala da besta sem estarmos preparados. Quase todo mundo morreu e, mais tarde, um dos controladores do jogo decidiu sumir com o dragão. Quem sobreviveu voltou de mãos vazias”, conta
Para saber mais
https://www.mmorpgbrasil.com – Leonardo Guimarães, o Nemezzis de Star Wars Galaxy (acima), criou o fórum MMORPG Brasil com dicas para jogadores iniciantes
5 coisas importantes que você deve saber
1. Não há objetivo final. Alguns jogadores jogam por anos, apenas pelo prazer de viver em outro mundo, diferente do real
2. Os limites entre ficção e realidade se confundem. Pessoas gastam muito dinheiro real comprando armas virtuais
3. A maior parte dos jogos se passa em mundos medievais
4. Apesar de lutas serem comuns, há arquitetos, chefs de cozinha e políticos vivendo em paz
5. No jogo, uma turma de amigos é chamada de guilda – nome dado às associações de artesãos na Idade Média
500 mil jogadores numa partida
O primeiro jogo MMORPG foi Ultima Online, que nasceu em 30 de setembro de 1997 e tem 230 mil assinantes. Star Wars Galaxy tem 300 mil, EverQuest, 430 mil e Final Fantasy XI, 500 mil. Cada jogador paga 15 dólares por mês de assinatura. O Brasil tem a quarta maior comunidade de jogadores do mundo, mas o primeiro jogo nacional, Erinia, só foi lançado em maio deste ano