O longo século burguês
A era dos impérios 1875-1914, Eric J. Hobsbawm, Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1988
Antonio Augusto da Costa Faria
O inglês Eric Hobsbawm, professor da Universidade de Londeres, é um dos mais eminentes historiadores conteporâneos. Com este livro, último volume de uma trilogia, ele conclui seu ambicioso estudo sobre o longo século XIX. Sempre com a preocupação de escrever para todos os que desejam entender o mundo e acreditam na importância da História para tanto. Hobsbawn apresenta um grande painel do século que marcou o triunfo da civilização burguesa.
Tendo como eixo a transformação do mundo sob o comando do capitalismo liberal, a obra trata no primeiro volume (A era das revoluções 1789-1848) da dupla revolução: a Revolução Francesa de 1789, que estabeleceu os modelos dominantes das instituições públicas da sociedade moderna, e a Revolução Industrial inglesa, que dotou o sistema produtivo da capacidade de promover o crescimento econômico e expandir-se pelo mundo. O segundo volume da trilogia (A era do capital 1848/1875) analisa justamente a conquista audaciosa do planeta pela economia capitalista, sob a bandeira ideológica do liberalismo.
Agora, o terceiro volume trata do período em que a maior parte do mundo, com exceção da Europa e das Américas, foi formalmente dividida em territórios sob o governo direto ou sob dominação política indireta de um ou outro Estado de um pequeno grupo: principalmente Grã-Bretanha, França, Alemanha, Itália, Holanda, Bélgica, Estados Unidos e Japão. O livro analisa também o surgimento da sociedade de massas, o nacionalismo, a mulher nesse mundo em transformação, as artes e as ciências do período e as causas da Primeira Guerra Mundial, em que efetivamente termina, de maneira dramática, o século XIX. Desde 1914, o século da burguesia pertence à História, mas não há dúvida de que o mundo moldado naquele período é a matriz da modernidade.
Balanço atraente
Sobre a origem do homem, Heliandro Abreu Rosa, Mercado Aberto, Porto Alegre, 1988
Anthony de Christo
De onde viemos? Para onde vamos? Essas duas antiqüíssimas perguntas começaram a inquietar o estudante Heliandro Rosa durante o curso de Medicina, na Universidade Católica do Rio Grande do Sul, onde se formou em 1985. E o lançaram à leitura dos melhores frutos da mais recente safra de obras de divulgação científica. O resultado dessa incursão é este livro uma competente cronologia da História do homem e do Universo segundo as hipóteses mais em voga, começando com o Big Bang e terminando na inteligência artificial. O texto proporciona uma leitura atraente e rápida de assuntos tão diferenciados, como a formação das estrelas, a definição do que é o homem moderno e a arquitetura cerebral.
Os exemplos que o autor selecionou são corretos e, às vezes, engraçados: Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, os dinossauros eram inicialmente pequenos e se pareciam com um galo depenado com uma cauda de lagarto. Heliandro acolhe também a angústia dos autores modernos: Quando vemos tanta insensatez provocada pelo ser que possui a maior inteligência da Terra, dá-nos a vontade de mudar o nome científico de Homo sapiens para Homo demens (demente), o que talvez parecesse mais adequado.
A política no mapa
A Geografia isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, Yves Lacoste, Papirus, Campinas, 1988
A.A.C.F.
Professor de Geografia da Universidade de Vincennes, Paris. Lacoste tem o saudável hábito de desconcertar as pessoas com suas idéias e ações. No livro A Geografia do subdesenvolvimento (1965) expôs as mazelas dos países que haviam perdido o bonde da história. Em 1972, no respeitado jornal parisiense Le Monde, acusou os Estados Unidos de tentarem destruir, mediante bombardeios, a rede de diques que protege as planícies densamente povoadas do Vietnam do Norte, o que provocaria inundações de conseqüências catastróficas. O bombardeio cessou logo a secas. Enfim, quando criou aquela que é hoje uma das mais conceituadas revistas de Geografia da França, deu-lhe o nome do pai da História. Hérodote, para escândalo tanto dos historiadores como dos geógrafos.
Neste ensaio, que horrorizou igualmente alguns colegas de profissão, seu objetivo foi recolocar a política na abordagem geográfica, perdida desde o final do século passado com o surgimento de uma Geografia que mascarou a utilidade prática da análise do espaço, sobretudo para a condução da guerra, como ainda para a organização do Estado e a prática do poder. É preciso, acredita Lacoste, que os geógrafos estejam conscientes de que devem saber pensar o espaço para que ali se possa agir mais eficazmente, evitando a todo o custo a instrumentalização da Geografia pelo Estado e pelas grandes corporações
Além da Amazônia
Ecossistemas brasileiros, vários autores, Enge-Rio/ Editora Index, Rio de Janeiro, 1988
A.C
Este livro não poderia surgir melhor hora, quando a questão da preservação da floresta amazônica parece incendiar paixões dentro e fora do Brasil, fazendo florescer, como talvez seja inevitável, cachos de bobagens ao lado de sensatas advertências sobre o destino do pulmão do mundo. Um efeito colateral da discussão tem sido o de mostrar o deserto de informações seguras acerca dos ecossistemas brasileiros ao alcance dos leigos. Daí a oportunidade desta bem-sucedida obra coletiva, que reuniu dois cientistas (o médico e botânico Carlos Toledo Rizzini, ex-pesquisador do Jardim Botânico, no Rio, e o biólogo Aldemar Coimbra Filho, diretor do Centro de Primatologia da Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente, Feema, também do Rio), o filólogo Antonio Houaiss, da Academia Brasileira de Letras, e seis fotógrafos, entre eles Luiz Cláudio Marigo, um dos mais sistemáticos caçadores de imagens da natureza brasileira.
O livro é uma competente descrição dos variados universos da flora e fauna do país, com informações científicas e requinte estético. Uma viagem por esses mundos revela que a preocupação com o meio ambiente não deve restringir-se às grandes estrelas ecológicas Amazônia e Pantanal. Há cerrados, manguezais, restingas, cocais, felinos, aves e répteis cuja sobrevivência merece cuidados. Pena que a obra, ao preço de 70 cruzados novos aproximadamente, devido ao excepcional acabamento como produto, fique fora do alcance do grande público. Produzir material de qualidade a preço acessível sobre os ecossistemas brasileiros é um desafio ainda por vencer.